Fort Solis é um drama interativo de terror e suspense que reúne um elenco de estrelas em uma campanha single-player inspirada pelos produtos da Quantic Dream e da Supermassive Games. No entanto, o conjunto da obra dessa estreia dos estúdios indie Fallen Leaf e Black Drakkar Games está completamente aquém do calibre dos bons atores que dão vida aos personagens do jogo.
Desenvolvimento: Fallen Leaf, Black Drakkar Games
Distribuição: Dear Villagers
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror
Classificação: 14 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Mac
Duração: 6 horas (campanha)
Um mistério no planeta vermelho
Os engenheiros Jack Leary, interpretado por Roger Clark (Arthur Morgan, de “Red Dead Redemption 2”) e Jessica Appleton (Julia Brown, de “Shetland”) são enviados a uma área de pesquisas em Marte. O objetivo é investigar um alerta de lockdown que foi misteriosamente acionado na base. Só que a expedição não termina bem quando Jack se depara com pessoas mortas, ao mesmo tempo em que eles descobrem que há algo muito maior por trás de tudo envolvendo um doutor chamado Nick Wyatt, interpretado pelo onipresente Troy Baker.
Estruturada como uma série de TV, a aventura é dividida em quatro capítulos, cada um com cerca de uma hora e meia de duração. Porém, o ritmo é extremamente monótono. O game é focado na exploração e na solução de puzzles que são péssimos e confusos, sem nada importante acontecendo durante boa parte da jogatina. As motivações do antagonista são explicadas por meio de e-mails, indo contra a proposta de uma experiência cinematográfica. A trama não chega a lugar algum, sendo somente uma narrativa decepcionante e mal executada.
Jogabilidade maçante
Os protagonistas podem apenas caminhar ao longo de toda a campanha. Para realizar funções e avançar, é preciso apertar combinações entre botões e direções, como nos jogos da Quantic Dream. Cumprir todas as QTEs é uma necessidade para ter as melhores cenas possíveis, já que elas são dinâmicas e variam conforme as respostas aos comandos solicitados.
A ausência de um simples botão de correr faz com que Fort Solis nunca transmita uma sensação de urgência em sua gameplay, até nos momentos mais intensos da trama. Sem mecânicas de combate, a movimentação é travada e o sistema de câmera é horrível. O mapa é péssimo para se orientar, e a exploração dos elementos do cenário não é intuitiva. Quando combinados, esses fatores fazem com que o jogo passe longe de ser uma experiência cativante, ficando um tanto quanto maçante.
Cinematograficamente desinteressante
Produzido através da Unreal Engine 5, Fort Solis conta com uma ambientação bem detalhada e um trabalho de captura de movimentos formidável, mas que deixa a desejar em relação às animações faciais dos personagens. Os efeitos climáticos são impressionantes, mas a iluminação é tão escura ao ponto de ser necessário alterar as configurações de brilhos para conseguir enxergar alguma coisa.
A equipe de desenvolvimento buscou emular a mesma câmera plano-sequência do reboot de God of War, mas sem sucesso. Uma filmagem contínua requer um polimento extraordinário nas animações para funcionar corretamente, mas isso não chegou a ser feito pela equipe de desenvolvimento. Os ângulos são exageradamente fechados, focalizando sempre nas costas dos personagens durante as cenas ao invés de elementos relevantes para a narrativa. A versão para computadores não tem suporte para resoluções em ultrawide, o que é uma pena, porque o formato casa perfeitamente com jogos-filmes.
Muitos bugs
Fort Solis foi disponibilizado por seus responsáveis em um estado técnico lamentável, com diversos problemas que acabam comprometendo toda a sua apresentação. O jogo não sofre com aquela travadeira típica da compilação de shaders, mas a taxa de frames cai constantemente no decorrer da jogatina, principalmente quando novas regiões são carregadas.
Os filtros de anti-aliasing empregados são tão agressivos que eles acabam gerando um efeito fantasma na tela. Todos os personagens exibem um rastro em seus movimentos, resultando em uma imagem suja ao longo de toda a experiência. Fort Solis também sofre com crashes imprevisíveis, atrapalhando a imersão e desperdiçando um tempo valioso, já que o sistema de saves não permite que o progresso seja salvo manualmente.
Um filme bugado
Fort Solis possui uma premissa um tanto quanto saturada – ainda mais pelo fato do game ter sido lançado próximo a jogos de ficção científica semelhantes, como The Callisto Protocol e o remake de Dead Space. O título erra ao ter um estado técnico ruim ao mesmo tempo em que não tem uma jogabilidade tão polida quanto os títulos que foram usados como inspiração pelos produtores. A Fallen Leaf e a Black Drakkar Games não mandaram mal nessa estreia, mas eles poderiam ter dado uma refinada maior para garantir com que a experiência esteja à altura do ótimo elenco.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno