Contraband Police nos entrega uma experiência de simulação de patrulhamento de fronteira original e atmosférica, com mecânicas de inspeção detalhadas e narrativa emergente, mas sofre com a repetição e escolhas de design que podem frustrar jogadores mais exigentes.
Desenvolvimento: Crazy Rocks, Console Labs S.A.
Distribuição: Playway S.A.
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, Simulação, RPG, Tiro
Classificação: 14 anos (violência, drogas, linguagem imprópria)
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 12 horas (campanha)/17 horas (100%)
A patrulha começa

O jogo se passa na região montanhosa de Karikatka, um posto fronteiriço que funciona como microcosmo de um Estado autoritário, com estradas estreitas, postos de controle e vilarejos que respiram desconfiança e rotina policial. Você assume o papel de um jovem recruta designado para inspecionar veículos, verificar documentos e, quando necessário, usar força. Essa premissa simples é o ponto de partida para um jogo que transforma tarefas administrativas em dilemas morais e em momentos de tensão palpável.
A ambientação temporal e política é cuidadosamente construída. Contraband Police evoca os anos 1980 e a atmosfera de um país comunista fictício chamado Acaristan, com propaganda, rádios estatais e uma sensação constante de vigilância que permeia cada interação. Essa escolha de cenário não é apenas estética, pois ela informa o design das missões, as reações dos NPCs e as consequências de suas decisões, fazendo com que cada revista ou recusa de passagem carregue peso narrativo e social.

O tom do jogo oscila entre o cotidiano burocrático e a ameaça latente. Em um momento, você está preenchendo formulários e vasculhando bagageiros. No seguinte, uma perseguição ou tiroteio pode explodir sem aviso, lembrando que a rotina da fronteira é imprevisível. Essa alternância cria uma tensão constante: a monotonia das tarefas intensifica a sensação de vigilância, enquanto os picos de violência sublinham a fragilidade da ordem naquele mundo fictício. O resultado é uma experiência que frequentemente coloca o jogador em situações moralmente ambíguas, onde seguir regras cegamente pode ser tão problemático quanto agir por instinto.
Narrativamente, Contraband Police favorece histórias emergentes em vez de uma trama linear pesada. As decisões do jogador (desde quem revistar até como conduzir um interrogatório) geram repercussões locais que afetam reputação, recursos e até o desenrolar de eventos futuros. Essa abordagem dá ao jogo um tom quase documental: você não é um herói épico, é um funcionário do Estado cujo trabalho diário revela camadas de corrupção, solidariedade e medo. A sensação de autenticidade é reforçada por pequenos detalhes de cenário e diálogos que pintam um retrato coerente de uma fronteira sob tensão
Olhos na mala

A jogabilidade gira em torno de inspeções de veículos, revistas pessoais, uso de scanners e interrogatórios. O loop principal é satisfatório nas primeiras horas e encontrar contrabando escondido gera uma sensação real de conquista. O jogo também intercala momentos de combate e perseguição, o que quebra a monotonia do trabalho de fronteira e adiciona tensão. A profundidade das verificações e a necessidade de raciocínio dedutivo são os maiores atrativos.
Alguns diferenciais notáveis incluem o sistema de inspeção detalhada e a narrativa que reage às suas decisões, podendo seguir diferentes missões apoiando facções opostas. Contudo, o jogo peca em repetição de tarefas, penalizações pouco claras e falta de tutoriais profundos. Bugs e problemas técnicos são recorrentes, como em todos os “simuladores” de algo.
Se você gostou de Papers Please pela tensão moral, Contraband Police copia aquela fórmula (e a mecânica) com inspeção física e combate. Fãs de simuladores detalhistas também encontrarão pontos em comum com títulos do mesmo estilo de simuladores.
Poeira e propaganda

A direção de arte é coerente e ajuda a construir um clima opressivo de fronteira: cenários sujos, veículos envelhecidos e personagens com traços marcantes. Tecnicamente, o jogo não busca um fotorrealismo extremo, preferindo focar em estilo e atmosfera. Texturas e iluminação são competentes, mas há repetição de assets que contribui para a sensação de monotonia em longas sessões.
A ambientação sonora é um ponto forte: efeitos de rádio, motores e passos aumentam a imersão. A trilha sonora aparece em momentos-chave para reforçar a tensão, mas é relativamente discreta e pouco memorável, faltando temas que se destaquem e elevem cenas dramáticas.
Relatório de serviço
Contraband Police vale a pena para quem busca uma experiência diferente e atmosférica, com mecânicas originais e narrativa emergente. Espere, porém, repetições e algumas arestas técnicas, pois o título brilha em conceito e atmosfera, mas precisa de polimento para alcançar seu potencial máximo.
Cópia cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro




