Shattered Heaven é uma das apostas mais ousadas do estúdio italiano Leonardo Interactive, anunciado para 2023. Presente na Alameda Indie da BGS 2022, ele chamava atenção, seja por um estande bem espaçoso, meio apagado, ou pela própria beleza que propagava dos seus gráficos.
Conferir o jogo era quase que obrigatório no evento (e ainda é, na sua demo disponível na Steam), somente pela grande gama de gêneros que ele abraça: um card game com elementos de RPG, dungeon crawler Roguelike, e muitas batalhas por turnos. Ainda que muito interessante e envolvente, Shattered Heaven ainda tem bastante potencial a ser explorado e polido para se tornar um verdadeiro destaque no ano que vem.
Desenvolvimento: Leonardo Production
Distribuição: Leonardo Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Estratégia, RPG
Classificação: 18 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC
Duração: Sem registros
Uma aventura de fé

Shattered Heaven é um card game com elementos roguelike que explora um mundo fantástico, repleto de armadilhas, blasfêmias divinas e criaturas lovecraftianas. Nele, você assume três personagens: Andora, focada em agilidade e muito dano; Magni, focado em armadura, resistência/vida e proteção para a party; e Ishana, focada em magias, em buffs à party e debuffs para os inimigos.
Num mundo completamente quebrado, decadente e arrasado por criaturas mortas-vivas que espalham o mal e a corrupção em mundos terrenos e divinos, sua missão é andar por dungeons e limpar tais males desse lugar, sempre em busca do perdão sagrado. Nesse lugar, em que até mesmo os céus racharam e quebraram (daí o nome do jogo), o trio de personagens principais precisará de muita habilidade e resiliência para lutar.

Muito parecido com Darkest Dungeon, Shattered Heaven vai fundo em gráficos 2D incríveis, absurdos de lindos, e cartas com artes magníficas. Ele também se divide em algumas camadas de jogabilidade:
- Uma base/fundação em que você sobe o nível de seus personagens, compra buffs permanentes, cria itens valiosos para as batalhas e outras mecânicas que ajudam nos duelos de cartas contra inimigos mais ou menos poderosos;
- O próprio dungeon crawling, no qual você se movimenta com a sua party em pequenos quadrados, num plano similar a tabuleiros mesmo (estratégico), até coletar um número específico de materiais para liberar a porta de saída (ou simplesmente vencer e completar todo o espaço da masmorra). Essa camada é a mais breve em duração de jogo, ou seja, utilize-a apenas para locomoção e decisão pela sua parte, uma vez que é dividida em partes preestabelecidas de um local específico dos mundos fantásticos. É aí onde elementos de RPG entram também: eventos ocorrem conforme você avança e, então, precisa decidir entre algumas opções para obter resultados, algumas vezes, x% positivos ou negativos;
- Batalhas alucinantes em 2D que precisam ser vencidas por cartas de ataque, defesa, vida e buffs/debuffs diversos. Além dessas cartas, os próprios personagens contam com poderes que facilitam bastante a jogatina em vários sentidos.
Esses três níveis preservam uma variação valiosa na experiência toda e trazem sempre um frescor muito bom, ainda se dividindo em vários diálogos e cutscenes que endossam a lore desse incrível e encantador universo. É diversão garantida e muita imersão, embora possam demorar um pouco para que de fato aconteçam.
Muito potencial (in)explorado
Shattered Heaven tem um potencial imenso. Ele pode se destacar muito e fazer certo sucesso na Steam, no entanto ainda precisa de mecânicas um pouco mais maduras e polidas.
É perceptível a evolução e progressão que se faz: você ganha cartas conforme derrota seus inimigos ou soluciona tramas e/ou desarma armadilhas pelo seu caminho, distribuindo-as igualmente para cada personagem do trio em momentos pós ou pré combates. Além disso, buffs e debuffs podem perdurar de uma batalha para outra e, como uma “faca de dois gumes”, eles podem atrapalhar ou ajudar bastante na jogatina como um todo.
Suas batalhas contra os inimigos comuns e o chefe disponível na demonstração são incríveis e muito viciantes, além de serem fáceis de dominar com o tempo. No entanto, há pouquíssima variação de utilidades das cartas, estando o jogo muito mais focado em buffs e debuffs. Seria mais interessante dar mais opções de jogadas mais incisivas e complexas, que se comuniquem com todas as regras do game.

Deck buildings e mecânicas de cartas como em Darkest Dungeon, e até Yu-Gi-Oh, têm saídas mais elegantes para essa questão, sendo mais criativos e dinâmicos em sua jogabilidade. Logo, se há algum conselho útil aos produtores, é esse: foquem no que vocês têm de mais legal e satisfatório! É o seu grande potencial. Quero sempre mais complexidade e quantidade disso tudo.
Além disso, as músicas e efeitos sonoros chegam a alcançar patamares bons, emanando potência, entretanto, deixam um pouco a desejar. Existe desde uma música épica que lembra O Senhor dos Anéis e que fica muito repetitiva, sobretudo nas batalhas, até gritos estridentes sempre iguais de alguns inimigos.
Outra questão crítica do jogo é que ele possui uma interface muito poluída. Às vezes, isso interfere muito na jogabilidade ritmada das batalhas, na qual é um pouco difícil encontrar barras de defesa e de rage dos personagens e demais informações do que está acontecendo em tempo real.
Por mais simples que as diferentes camadas do jogo sejam e que o tutorial instrua muito bem, a interface e a usabilidade de tudo ainda parecem ter certa crueza de desenvolvimento, as quais poderiam ganhar nova roupagem. Ações como a necessidade de passar o turno mesmo após o esgotamento dos 4 pontos e buffs que cada protagonista dispõe também incomodam.

Conseguir mostrar informações em bons lugares, assumir um visual mais limpo e facilitar interações, tornando-as um pouco mais intuitivas, é essencial para a pessoa jogadora. Esse será um fator crucial para conquistá-la no curto e longo prazo.
Por fim, ao ativar um item durante o decorrer de uma dungeon, me deparei com um travamento do jogo. Foi preciso reiniciá-lo, mas não perdi em quase nada o progresso, a partir do ponto em que parei. Tais desconfortos e eventos ruins capazes de aborrecer de verdade a quem joga, podem transformar essa experiência agradável em muita frustração, quebrando totalmente sua imersão.
Derrotar os demônios
Shattered Heaven é genuinamente ótimo e promissor. Se todas as questões de bugs e de design das interfaces forem resolvidas a tempo e a música do jogo alcançar patamares mais ousados e menos repetitivos, teremos um precioso jogo nas mãos em 2023. É preciso certo esforço de desenvolvimento para lapidar esse belo diamante da Steam que ainda tem forma de um brilhante qualquer.
Seu inglês é bem rebuscado e, portanto, um pouco difícil de compreender em certos trechos. Nos resta torcer por traduções/localizações bem feitas em português (alô, tradutores!) no lançamento de 2023, o que fará muita diferença no entendimento da narrativa por jogadoras e jogadores no Brasil. Mal sabem eles que terão um “jogão” que vai entretê-los por várias boas horas.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong