Vaudeville é um jogo em acesso antecipado que tenta proporcionar uma experiência única: resolver um mistério interrogando personagens com diálogos gerados em tempo real por meio da inteligência artificial. No entanto, o resultado é pavoroso, por razões óbvias.
Desenvolvimento: Bumblebee Studios
Distribuição: BBS Games AB
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Visual Novel
Classificação: 14 anos
Português: Legendas
Plataformas: PC
Duração: 2 horas (campanha)
GPT jogável
Na trama, assumimos o papel do Detetive Martini, encarregado de investigar três assassinatos que ocorreram em Vaudeville, a cidade que dá nome ao jogo. É preciso interrogar os habitantes locais e as autoridades para coletar provas suficientes, acusar o responsável e talvez descobrir a verdade por trás do mistério.
Os questionamentos precisam ser digitados no teclado ou falados pelo microfone. Há até suporte para o português brasileiro nisso, mas ele está incompleto e não funciona corretamente. Metade da interface não foi traduzida pelos desenvolvedores, e a “voz” dos personagens só pode ser ouvida em inglês, independentemente das opções de linguagem selecionadas.
Depois de um longo período de espera entre a digitação e o tempo de processamento necessário para a IA funcionar, pode-se ouvir a resposta do personagem. É partindo disso que a jogatina se desenrola, precisando tentar montar uma linha de raciocínio com base no que a IA revela sobre cada membro do elenco do game. Contudo, os textos não fazem sentido, porque o jogo raramente entende os comandos inseridos. Os interrogatórios acabam sendo maçantes por conta dos vários defeitos presentes em qualquer ação que pode ser realizada dentro de Vaudeville.
Bots mentirosos até demais
O título sofre do mesmo problema do ChatGPT: a IA simplesmente inventa coisas do nada. É claro que alguém mentiria em um jogo cuja ideia é justamente encontrar quem está faltando com a verdade, mas não há consistência nem lógica por trás das conversas geradas pela inteligência artificial. Os personagens seguem somente um roteiro inicial fixo, mas que rapidamente sai dos trilhos, começando a soltar falas sem nexo e desconectadas da narrativa do crime.
A IA não tem ideia nenhuma do que diz e só junta palavras aleatórias na esperança de que elas façam algum sentido para quem está lendo, algo que não acontece muitas vezes em Vaudeville. Dá pra tirar uma diversão fazendo todo tipo de pergunta aleatória e enganando a própria IA, mas isso já foge da proposta do game, cujo experimento não funcionou.
Gráficos horríveis
A apresentação do jogo passou longe de ser o foco da equipe de desenvolvimento. As animações são marcadas por um trabalho também automatizado, que resulta em personagens com expressões que não se adequam às suas situações e que não reagem nem na entoação da “dublagem”, que também é feita através da IA e de ferramentas de texto para fala.
No geral, faltou um grande senso de estética para os produtores do jogo. Vaudeville é completamente parado, exibindo personagens com modelos feios e antiquados. Tudo é visualmente tosco, e as cenas estáticas têm posições de câmera esquisitas que não combinam com a proposta.
IA é o futuro?
Vaudeville apresenta uma ideia intrigante e um conceito ousado. Porém, o resultado visto aqui é péssimo – pelo menos na versão de acesso antecipado, pois a previsão de lançamento do jogo finalizado está programada para o começo de 2024. Apesar do game ainda estar incompleto, ele já é uma boa evidência que mostra que o ideal é manter a inteligência artificial mais longe possível do lado criativo dos games.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno