Sempre existe uma alta expectativa em todo lançamento de um Assassin’s Creed. É uma franquia com muitos méritos, então espera-se que toda novidade alcance a excelência. Assassin’s Creed Shadows possui uma premissa diferente, prometendo agradar vários públicos sem perder sua essência e alcançar aquilo que os fãs mais rigorosos esperam. Mas será que o jogo conseguiu? Acompanhe conosco.
Desenvolvimento: Ubisoft
Distribuição: Ubisoft
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG
Classificação: 18 anos (violência extrema, conteúdo sexual, drogas ilícitas)
Português: Legendas, interface e dublagem
Plataforma: Xbox Series X|S, PC, PS5
Duração: 30 horas (campanha)/50 horas (100%)
A shinobi de Iga e o samurai estrangeiro
No Japão de 1579, Oda Nobunaga quer unificar os clãs do Japão em um país poderoso a custo de muito sangue, e conhece Yasuke durante um acordo com padres portugueses como um de seus escravos. Percebendo que o estrangeiro tem potencial para ser um exímio guerreiro, pede sua posse em favor da negociação. Assim, Yasuke se torna um dos mais confiáveis samurais ao lado de Nobunaga.
Depois de um tempo, a vila de Naoe, na província de Iga, é atacada, inclusive com a participação do samurai estrangeiro. Um artefato misterioso, protegido pelo pai da shinobi, é roubado, e quando tenta retomá-lo, ele é assassinado, fazendo Naoe descobrir a existência de doze figuras misteriosas. Com o objetivo de se vingar e recuperar o artefato, a shinobi e seus aliados formam a Liga da Lâmina Oculta, descobrindo que existe uma conspiração muito maior. Posteriormente, Yasuke se une a Liga, tornando-se parte importante das investigações.
Assassin’s Creed Shadows abraça os clichês esperados, mas demonstra maestria na forma de contar sua história e unificar as narrativas. Como a maioria dos assassinos, Naoe deseja vingança e descobre que existem muitas coisas acontecendo por trás disso, enquanto Yasuke é o contraponto. Eles se unem em um belíssimo momento de redenção, e o samurai mostra que seu maior desejo é o autoconhecimento, percebendo no caminho que pode ajudar muitas pessoas ao lado da shinobi.
A união dos dois é essencial para cumprir seus objetivos pessoais, de forma que precisam se ajudar, compartilhar suas sombras e até dividirem momentos amigáveis, sozinhos ou com os aliados. É interessante ressaltar que o jogo não exalta nenhuma relação amorosa entre eles, mas reforça que sua união como amigos é essencial.
A Liga da Lâmina Oculta
A franquia Assassin’s Creed sempre teve muitos personagens carismáticos. Muitas pessoas cruzam as histórias dos protagonistas e algumas permanecem, mesmo não sendo ligadas à Liga. Naoe e Yasuke não possuem altas habilidades sociais, mas suas motivações os ligam às pessoas certas.
Seus aliados são essenciais para perceberem a importância de momentos de descontração, gerando assim cenas tocantes e emocionais, fator que aumenta a imersão. Junjiro, por exemplo, é um jovem que motiva Naoe a deixar um pouco a vingança de lado e aceitar a redenção, ao mesmo tempo em que age como um pupilo de Yasuke, mostrando que a bravura pode também partir da simplicidade. No fim, ele é um personagem que liga os protagonistas ao seu lado humano.
As missões principais, às vezes, desencadeiam linhas de objetivos secundários, aumentando a complexidade da teia de intrigas e ligando alguns pontos aparentemente desconexos. Em algumas dessas missões, é necessário se infiltrar e enganar alguém importante, sempre apresentando novos personagens únicos.
Invasões: balbúrdia ou discrição?
A jogabilidade da franquia mudou desde o lançamento de Assassin’s Creed Origins, em 2017. Elementos de RPGs foram acrescentados, aumentando a complexidade do combate e da exploração – e, felizmente, sua essência permaneceu, mesmo vacilando às vezes. Em Shadows, os erros dos anteriores foram corrigidos e os acertos se mantiveram, gerando um combate profundo e divertido, com momentos de furtividade que oferecem inúmeras possibilidades.
Os elementos de RPG estão mais equilibrados, porque não é necessário otimizar e preparar construções complexas para superar desafios, que geram uma satisfatória sensação de evolução. Cada nível adquirido aumenta o dano, os atributos e dá um ponto para distribuir na árvore de habilidades, que também é obtido ao derrotar alguns inimigos-chave. Existem alguns limites nas habilidades que só são liberados depois de explorar lugares específicos e cumprir desafios que não envolvem combates, motivando assim o jogador a explorar e contemplar o belíssimo mundo do jogo.
Uma das principais premissas, apresentadas desde os primeiros vislumbres do jogo, é a diferença de jogabilidade dos protagonistas. Naoe é uma shinobi completa: suas armas, ferramentas e métodos envolvem furtividade, tanto que se envolver em um combate com mais de três inimigos é mortal na maioria das vezes. Ela consegue até realizar um combate rápido sem chamar a atenção e sumir rapidamente da vista dos inimigos, podendo prosseguir com os assassinatos furtivos. Apesar disso, utilizá-la em lutas é satisfatório devido a sua velocidade.
Naoe é, aparentemente, a assassina mais fraca fisicamente de toda a franquia, mas possivelmente a mais silenciosa. O samurai é o oposto, é o protagonista com mais força bruta e isso é facilmente notável. Ao custo de sua furtividade, seu brilho está na potência de seus golpes. Felizmente, é possível alternar entre eles em qualquer momento, com o outro surgindo no mesmo local, ou antes de realizar uma viagem rápida.
Yasuke é um tanque de guerra. O dano recebido é mitigado e o infringido é multiplicado. Utilizá-lo para combater vários inimigos ao mesmo tempo é extremamente satisfatório. É interessante que, quando contra muitos oponentes, alguns deles exibem medo e gritam que ele é um Oni – “ogro” ou “demônio” em japonês.
O samurai é extremamente letal. Ao utilizá-lo pela primeira vez, após um longo período com Naoe, a diferença de força é notada imediatamente, pois ele mata os inimigos com pouquíssimos golpes, enquanto a shinobi precisa de vários combos para isso. Essa variação de jogabilidade entre ambos é um aspecto capaz de agradar vários tipos de jogadores.
Uma obra-prima viva
O motor gráfico do jogo, chamado Ubisoft Anvil, é o mesmo utilizado em todos os títulos da franquia e em muitos outros jogos da desenvolvedora. Cada nova versão e atualização aumenta o nível de detalhe dos objetos, texturas, personagens, iluminação, entre outros, elevando a complexidade de tudo. Em Assassin’s Creed Shadows, é possível avaliar isso minuciosamente, tanto que, para mim, esse possivelmente é o jogo mais bonito que vejo desde The Legend of Zelda: Breath of The Wild.
Detalhes como a mudança das estações, a personalização detalhada de equipamentos, animais, insetos voando e a colossal variedade na vegetação tornam o título uma obra-prima em um mundo vivo. A imersão foi tão profunda em vários momentos que, de fato, senti como se eu fosse uma shinobi ou um samurai no Japão de 1579. É o ápice da franquia no que se refere à beleza.
As músicas também são belíssimas, importantes para a narrativa e outras missões, às vezes até criada artificialmente, como um NPC batendo um tambor em acompanhamento. A ausência de trilha sonora também é um fator que consegue aumentar a imersão, e existem vários efeitos sonoros que seguem a temática oriental.
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A dublagem nacional, por sua vez, não possui tantos méritos. Muitas vozes não combinam com o personagem e é possível perceber o som de gravação em estúdio, pois as falas são abafadas. Pontualmente, esse é um aspecto negativo de todos os outros jogos produzidos pela Ubisoft. Entretanto, é possível alcançar a imersão esperada com a dublagem original.
Salte com fé
Assassin’s Creed Shadows é o ápice da franquia, da desenvolvedora e, possivelmente, até dos gêneros de jogos furtivos ou com temas orientais. Adiar o lançamento foi uma decisão acertada da Ubisoft, pois houve tempo para polir o game, permitindo, para mim, que tenho descendência japonesa e o sobrenome de um dos maiores samurais da história, a oportunidade de viver levemente o que eles viveram na época. Recomendo o título para todos que gostam de videogames.
Cópia de Xbox Series S cedida pelos produtores.
Revisão: Julio Pinheiro
Assassin's Creed Shadows
Prós
- Ambientação
- Cenários
- História
- Jogabilidade
- Personagens
Contras
- Dublagem em português
- Feições faciais
