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Review Axiom Verge (Xbox One) – Um game homenagem

Hoje em dia, dificilmente veremos na indústria de games criações verdadeiramente originais. Passados mais de quatro décadas desde o primeiro videogame, a impressão que temos é de esgotamento de ideias. No entanto, existe uma célebre frase de Antoine-Laurent de Lavoisier, pai da química moderna, que define muito da indústria atualmente: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

É óbvio que a lei está atrelada à química e ao estudo da energia, mas podemos utilizá-la como metáfora para compreendermos o norte de muitos desenvolvedores e suas criações nos dias de hoje. Lançado em 2015, Axiom Verge é o esforço de uma única pessoa (Thomas Happ) e o exemplo perfeito dessa interpretação da frase de Lavousier. O jogo busca inspiração no clássico Metroid, de 1986, para criar uma experiência nova (transformada) dentro de um gênero já há muito estabelecido.

Desenvolvimento: Thomas Happ Games LLC
Distribuição: Thomas Happ Games LLC
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma
Classificação: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox one
Duração: 10.5 horas (campanha)/17 horas (100%)

Explorando Sudra

No jogo controlamos Trace, um jovem cientista que após uma grande explosão em seu laboratório no Novo México acorda em Sudra, um mundo estranho e alienígena que abriga criaturas tecno-orgnânicas. Sem ter a menor noção de como chegou àquele lugar, Trace é abordado por uma criatura chamada Elsenova, que pede sua ajuda para deter Athetos, um ser que mantém todos prisioneiros. Essa é a deixa para que nossa aventura em Sudra (um mundo alheio ao que conhecemos), explorando minuciosamente cada cantinho das diversas áreas do jogo, comece.

A história é cheia de mistério – em certa medida confusa – e envolve algumas viradas de roteiro bem interessantes. Ao longo de nossa jogatina vamos encontrando anotações decodificadas que detalham um pouco mais sobre aquele mundo. Ter acesso a esses documentos é componente importante para a nossa imersão na trama. De toda forma, a impressão que temos, desde o início, é de que nada é do jeito que aparenta. Trace não sabe coisa alguma dos seres que solicitaram sua ajuda, do vilão Athetos, se está sendo manipulado e nem de como chegou ali. Será que tudo aquilo trata-se de um sonho, delírio ou uma outra dimensão?

O roteiro, como se percebe, apesar de batido, se distancia dos jogos da caçadora de recompensa da Nintendo. Mas, ainda assim busca focar na temática sci-fi. Vamos descobrindo os pormenores da trama aos poucos e isso torna nossa jornada muito interessante. O mais comum em jogos de exploração e plataforma side-scroller é focar na experiência de gameplay. Explico: grosso modo, em Metroidvanias a busca por habilidades para acessar certas áreas acaba sobressaindo a história em si. Em Axiom Verge esse elemento está presente e é importante, mas ele ajuda a contar uma história que, durante toda nossa jornada, nunca é deixada de lado.

Uma excelente homenagem

Axiom Verge é muito parecido com Metroid.

Visualmente, Axiom Verge apresenta gráficos pixelados em cenários bidimensionais. Logo de cara a semelhança com Metroid é gritante e salta aos nossos olhos. O level design, certos inimigos que aparecem em tela, as passagens que ligam uma área à outra e o próprio mapa do jogo é simplesmente idêntico ao que vemos nas aventuras de Samus. Sério! Até mesmo a paleta de cores nos remete aos primeiros jogos da série. A parte sonora vai pelo mesmo caminho e trata-se de uma mescla dos chamados chiptunes típicos das primeiras gerações de consoles. Em linhas gerais, temos batidas eletrônicas, ora agitadas, ora calmas que ajudam a compor a ambientação retrô do jogo.

O gameplay e a jogabilidade de Axiom Verge são bem fluidos. Basicamente seguimos a lógica de correr, pular e atirar (não necessariamente nessa ordem) para superar certos inimigos e avançar pelos cenários. Porém, conforme nos aprofundamos na exploração de Sudra vamos adquirindo (muitas) armas mais poderosas (Nova, Multidesruptor, Kilver, Refletor etc) e itens especiais que permitem acessar áreas antes impossíveis de se chegar, como uma Furadeira (que permite escavar certas áreas do cenário) e o Desruptor (que altera os códigos de certos elementos em tela, liberando passagens).

Axiom Verge é um jogo que pega os elementos mais básicos das mecânicas dos games de exploração e plataforma das era 8 e 16 bits e converte em algo sem as travas (limitações) típicas daquela geração. Ao invés de usar bombas para acessar certas áreas protegidas por campos de força coloridos (como em Metroid), Trace pode usar o Desruptor alterando a física ao seu redor e abrir passagens. Se Samus tinha que dar uma de tatu e se converter numa bola (por conta da limitação do hardware do NES, na época), Trace consegue controlar um drone que o auxilia na exploração de lugares com limitação de espaço.

Conforme exploramos Sudra vamos descobrindo módulos (ou fragmentos) de força e saúde que amplificam a potência de nossa arma e vitalidade respectivamente. Nosso personagem, na verdade, possui uma gama de itens, poderes e melhorias que agregam valor ao game e vão melhorando nosso status. Apesar da clara inspiração em Metroid, somos apresentados a algo que possui uma identidade própria. E isso vai ficando mais evidente conforme avançamos, fazendo de Axiom Verge uma excelente homenagem.

Desafio simples

O visual retrô é maravilhoso.

Como já dito anteriormente, os mapas são muito similares ao que vemos em Metroid e Super Metroid. Os únicos pontos de interesse demarcados nos mesmos são os pontos de salvamento e os locais onde se encontram Elsenova e suas irmãs Ophelia e Veruska (os seres que pedem nossa ajuda para combater Athetos). Em cada área podemos colocar até dois marcadores que podem nos auxiliar na exploração do cenário, indicando um ponto de interesse antes inacessível. Infelizmente, os save points não servem de fast travel. Então, as idas e vindas pelos cenários na busca por certos itens ou aquela arma útil terão que ser feitas na marra.

Em termos de desafio (na dificuldade normal, pelo menos) o jogo deixa um pouco a desejar. As batalhas contra os chefes, apesar de bacanas, são extremamente fáceis, assim como o jogo todo em si. Nesse sentido, em especial a batalha contra o boss final – para mim – foi bem decepcionante. Outro problema é a quantidade de recursos a nossa disposição sem uma utilidade mais abrangente durante o gameplay. Apesar da variação bem grande de armas, para ultrapassar os desafios das diversas áreas, devemos fazer uso de duas ou três, no máximo. A impressão que temos é que estão ali apenas para fazer volume em nosso arsenal.

Nostalgia e inovação

Não se enganem, Axiom Verge é um excelente game homenagem, mas não se resume a isso. Apesar de toda semelhança com Metroid, ele possui elementos bons o suficiente que o tornam único. Numa vastidão de jogos (muitas vezes genéricos) que se propõem em manter acesa a chama dos jogos de exploração e plataforma side-scroller, Tom Happ acerta ao mesclar a nostalgia dos jogos das primeiras gerações de consoles às inovações que foram implementadas no gênero ao longo do tempo.

Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One adquirida pelo autor

Revisão: Bia Bock

Axiom Verge

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Gráficos em pixel art
  • História envolvente
  • Ótimo gameplay
  • Bons controles

Contras

  • Pouco desafiador
  • Sem fast travel