Battlefield 2042 é o tão esperado retorno da franquia à temática de conflitos modernos. Mesmo atendendo aos pedidos da maioria dos fãs ao escolher a era em que o jogo se passa, a desenvolvedora DICE erra a mão com escolhas questionáveis de conceitos básicos, com a remoção do sistema de classes clássico, design de mapas duvidosos e tentativas de inovação que são boas somente no papel.
Desenvolvimento: EA DICE
Distribuição: EA
Jogadores: 1-128 (online)
Gênero: Tiro
Classificação: 16 anos
Português: Dublagem, Legendas e Interface
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC
Duração: Sem registro
Deixe-me contar uma história
A história é que não tem Modo História. Para 2042, a DICE decidiu cortar qualquer tipo de experiência narrativa ou modo campanha em favor de desenvolver três experiências multijogador distintas mas que, de alguma forma, se conectam ao mundo de 2042.
O modo principal se chama All-Out Warfare, com duas opções de partidas disponíveis: o clássico Conquest, em que dois times batalham entre si na captura de pontos de objetivo e setores para drenar as fichas inimigas; e Breakthrough, que consiste em uma disputa em que Atacantes devem capturar pontos específicos no mapa para avançar suas linhas, enquanto Defensores devem trabalhar juntos para impedir o avanço inimigo.
Uma das maiores novidades de Battlefield 2042 está em All-Out Warfare:128 jogadores simultâneos nas versões de PC, PS5 e Xbox Series, o dobro do que os títulos anteriores traziam. Mas é justamente com esse número de jogadores almejado que o título escorrega em quase todos os outros aspectos, a começar pela presença de soldados controlados pela inteligência artificial, que são usados para povoar servidores com contagem de jogadores abaixo do ideal. Infelizmente, como era de se esperar, jogar contra a inteligência artificial não se assemelha em nada a jogar contra pessoas reais.
Breakthrough foi uma experiência tão absurda com 128 jogadores, sendo extremamente confusa e desbalanceada, que, em aproximadamente 6 meses após o lançamento do jogo, os desenvolvedores diminuíram o número de jogadores para 64, o padrão utilizado nos jogos da franquia na geração passada. A demora em oferecer essa opção, no entanto, acabou afastando boa parcela de jogadores do modo Breakthrough.
Conquest funciona um pouco melhor com 128 pessoas ao mesmo tempo. Os embates são mais espaçados e, mesmo que haja locais do mapa em que a aglomeração de jogadores seja muito real ainda, não chega a ser confuso e chato de se jogar. É ao contrário: os momentos explosivos e de tiroteios intensos típicos de Battlefield estão presentes. Entretanto, para que acomodassem o alto número de “bonecos”, os mapas precisaram ser grandes. Imensos, por assim dizer. Outra pedra no sapato dos fãs.
Os mapas de BF 2042 são tão grandes que, na grande maioria deles, é possível ter uma sensação de vazio, de passar mais tempo correndo entre um ponto e outro por minutos que parecem intermináveis, quando o ideal seria a existência de trajetos mais dinâmicos para que quem joga possa estar a todo momento trabalhando em direção ao objetivo do time, capturando pontos e eliminando inimigos. Além disso, o excesso de áreas abertas e poucos elementos e objetos que servem de cobertura nos conflitos fazem com que a captura dos pontos seja uma batalha hercúlea.
Por fim, o último problema principal que chegou com as escolhas duvidosas de 128 jogadores em mapas excessivamente imensos: a dominância de veículos de combate. Para facilitar um pouco a movimentação pelas áreas dos mapas, foi preciso alocar um número alto de veículos terrestres e aéreos para cada time. Ao fazer isso, porém, a DICE criou uma experiência que, em geral, favorecia fortemente os conflitos veiculares, com batalhas entre infantarias ficando em segundo plano. A presença de tanques e helicópteros completamente desbalanceados tornava as partidas um peso nas costas de quem prefere trocar tiros com inimigos a pé. Para pontuar: quando eu digo “favorecia”, é porque atualizações já foram lançadas para tentar remediar esse aspecto. Conseguiram tal feito, de certa forma, e é preciso reconhecer os esforços do estúdio.
Um jogo sem classe
Battlefield 2042 abdica do sistema de classes tradicional da franquia e adota os Especialistas, personagens irritantes e completamente sem graça que possuem dispositivos únicos atrelados a si. À título de exemplo, Ella pode utilizar mísseis teleguiados com uma bazuca especial, enquanto Falcke pode utilizar uma pistola de cura para curar aliados à distância e Sundance utiliza uma “roupa de esquilo” para planar pelo mapa enquanto usa sua granada especial que pode ser programada com carga explosiva, eletromagnética ou anti-aérea.
Com exceção dos equipamentos especiais de cada Especialista, todos eles podem utilizar qualquer tipo de arma e acessório secundário, como caixas de munição, saúde, minas ou bazucas anti-veículos. O trabalho em equipe, tão característico da franquia, é completamente diminuído em 2042 graças a esse sistema solto de personalização de kits do soldado.
Os Especialistas descaracterizam em excesso a franquia. Não bastassem substituir um sistema intrínseco à Battlefield, mas o fazem de maneira pífia. Não há distinção entre inimigos e aliados, o que pode gerar confusão em alguns conflitos. Além disso, esses personagens são tão fora do tom de “guerra”, que muitos deles tiveram suas falas de fim de partida remodeladas justamente por não fazerem sentido. Não era incomum ver alguns deles comemorando estarem ali, em conflitos armados, ou fazendo zoações completamente juvenis e fora de tom.
Para completar a descaracterização do jogo e de sua temática, a presença dos mesmos especialistas em exércitos americanos e russos (os exércitos de cada time) faz com que haja momentos de vergonha alheia. Ver personagens como Irish, que é um soldado americano apresentado em Battlefield 4, falando russo e tomando tiro de americanos, é completamente tragicômico.
Tendo em vista que Battlefield 2042 conta com uma loja de cosméticos de armas e skins de personagens, é possível imaginar que a decisão de implementar os Especialistas, cada um sendo um personagem visualmente único, foi tomada com base em futuras microtransações cosméticas.
O Portal está se fechando
Battlefield 2042 trouxe outras duas experiências para os jogadores. Hazard Zone coloca equipes de jogadores para extrair discos de dados em zonas de combate hostis. Não há renascimento de soldados aqui, logo a morte é definitiva até o fim da partida. Gostaria eu de falar mais sobre esse modo de jogo? Sim, mas após sete dias seguidos tentando jogar em horários diferentes do dia e da noite e não tendo sucesso em encontrar partidas, decidi “lavar minhas mãos” e deixar pra lá, assim como a própria DICE está “deixando pra lá”, visto que já foi anunciado que este modo não receberá atualizações e suporte além de eventuais correções de bugs.
Portal é a experiência definitiva para os fãs de longa data de Battlefield. Com mapas, armas, soldados e equipamentos de jogos anteriores, como Battlefield 3, Bad Company 2 e 1942, esse modo oferece personalização de partidas extremamente detalhada. Por meio de um site, é possível personalizar experiências próprias, alterando parâmetros básicos, como armas permitidas e modos de jogo selecionados, até parâmetros mais avançados, como multiplicadores de dano, tempo até o reaparecimento, duração das partidas e comportamento de soldados controlados pela inteligência artificial.
Como dito acima, Portal é a experiência definitiva. Ou deveria ser, mas há pouquíssimos servidores ativos e, muitos dos que estão, seguem com baixo número de jogadores presentes. Meus jogos em Portal aconteceram em apenas um servidor latino, que costuma ser um dos únicos ativos durante o dia e a noite com um ping aceitável.
A temporada 1: Zero Hora
Zero hora, zero jogo e zero tudo. No dia de lançamento da primeira temporada de Battlefield 2042, os jogadores foram recebidos com erros que impediam o acesso aos servidores do jogo, após um adiamento de quase quatro meses,
Após a correção dos problemas de conexão, quem ainda resta na comunidade de Battlefield 2042 foi agraciado com uma leva de conteúdos relativamente fraca. Exposure, o novo mapa introduzido, e é o melhor presente no jogo até agora, mesclando bem verticalidade com combates de infantaria e veículos em um mapa que ainda é grande, mas não de forma excessiva e com melhor distribuição de pontos de interesse. Novos itens cosméticos podem ser desbloqueados via Passe de Batalha, incluindo duas novas armas grátis:o rifle de atirador BSV-M, que pode ser convertido em um rifle de assalto ou uma submetralhadora para tiros automáticos e combates de curta distância; e a besta de flechas Ghostmaker R10.
A Temporada 1 de Battlefield 2042 trouxe uma série de melhorias para o jogo, especialmente no que diz respeito ao desempenho técnico. A experiência geral é muito mais fluída, com menos bugs que atrapalham a jogatina. Esse ainda não é o estado ideal, especialmente no PS5, em que é possível sentir a arma parando de atirar por uma fração de segundo em alguns momentos, ou mesmo instâncias em que a Assistência de Mira do controle simplesmente não funciona, mas estes são problemas menores se comparados com o estado inicial de lançamento de BF 2042.
Uma redenção muito distante e improvável
Battlefield 2042 tentou inovar em diversos aspectos, mas isso fez com que se distanciasse de conceitos básicos e intrínsecos à franquia que a tornavam única. A ausência do sistema clássico de classes, Especialistas irritantes e dispensáveis, designs de mapa desinteressantes e poucas opções de armas se aliaram a problemas de conexões, desempenho e bugs críticos já no lançamento do jogo, o que fez com que a quantidade de jogadores diminuísse bruscamente.
Os conteúdos novos adicionados com a temporada 1 foram bons, mas foram mínimos. A frequência com que as atualizações que injetam novidades além de correções e melhorias técnicas é baixíssima, e essa lentidão parece desanimar ainda mais o retorno de quem já teve um primeiro contato danoso com o jogo. Trazer os fãs de volta é uma tarefa que, por enquanto, parece além do que Battlefield 2042 é capaz.
Cópia de PS5 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong