Crash Bandicoot 4: It's About Time capa

Review Crash Bandicoot 4: It’s About Time (Xbox One) – A hora chegou

Após vários anos sem uma novidade no mundo dos games de Crash Bandicoot, eis que a Toys for Bob, através da Activision, nos presenteia em 2017 a coletânea Crash N. Sane Trilogy. O conjunto trazia os três títulos da série clássica em um mesmo pacote, totalmente refeitos – apesar da empresa considerá-los um remaster -, com controles atualizados e jogabilidade única para os três jogos através da mesma engine. Como os velhos de guerra provavelmente já sabem, o primeiro Crash Bandicoot é um game bastante “duro” nos dias de hoje, em que controlar o protagonista é um trabalho não muito prazeroso considerando que ele não tem movimentação livre, mas sim em oito direções já que foi baseado no controle sem analógicos do PS1.

De qualquer forma, a trilogia refeita foi um sucesso estrondoso, tanto que era exclusiva para PS4 no início, mas depois recebeu versões para Xbox One, PC e até mesmo para o Nintendo Switch. Alguns anos depois, rumores de um novo Crash se aqueciam cada vez mais, e os fãs iam à loucura – me incluo nessa. Crash Bandicoot 4: It’s About Time foi anunciado e lançado em 2020, fazendo promessas de ser um sucessor digno e de qualidade para a série original – desconsiderando todos os spin-offs lançados até então.

Desenvolvimento: Toys for Bob
Distribuição: Activision
Jogadores: 1-4 (local)
Gênero: Plataforma
Classificação indicativa: 10 anos
Português: Legendas, interface e dublagem
Plataformas: Xbox One e PS4
Duração: 10 horas (campanha)/ 27 horas (100%)

Mais confusão por aí

Já estava na hora!

Anúncios em redes sociais com aparições de Crash na Carreta Furacão à parte (com o trocadilho “Crasheta Furacão”), Crash Bandicoot 4: It’s About Time é o quarto jogo da série numerada original do Bandicoot mais famoso do mundo dos games. A história dá continuidade aos eventos de Crash Bandicoot 3: Warped. Depois de muitos anos aprisionado, Neo Cortex, N. Tropy e Uka Uka (a máscara maligna) escapam e criam um buraco no espaço-tempo. Com Uka Uka esgotado por ter usado toda sua energia para criar este rompimento, N. Tropy vê a oportunidade perfeita para construir uma máquina, junto a Neo Cortex, que criaria mais passagens interdimensionais, com a intenção de dominar o multiverso.

Homenagem ao primeiro jogo

Aku Aku sente o perigo chegando no pico N. Sanity e acorda Crash para descobrir o que está acontecendo, iniciando assim o quarto jogo da série: com muita nostalgia. São cenas que remetem bastante ao primeiro título de 1996, além de referências à franquias da Activision como Spyro The Dragon.

Se tratando de jogabilidade, Crash Bandicoot 4: It’s About Time segue o mesmo padrão de plataforma dos games clássicos, mas com muitos retoques aqui e ali. Diria que é uma versão muito melhorada da N. Sane Trilogy com os três jogos refeitos – o que é simplesmente sensacional. As fases continuam trazendo a jogabilidade consagrada da franquia, com cenários 3D e uma direção de arte fantástica. A movimentação novamente é livre com a câmera fixa, muitas vezes sendo necessário ir “em frente” para avançar na fase, enquanto em vários momentos a jogabilidade se torna em algo como 2.5D com progressão horizontal.

Um sistema moderno de vidas foi implementado, e agora não mais contamos com uma quantidade específica de chances para continuar jogando depois de morrer – pelo menos não obrigatoriamente. Contudo, no menu principal é possível escolher entre esta nova fórmula e a “Clássica”, onde as vidas voltam à jogabilidade novamente. Porém, recomendo manter esse novo sistema criado para o jogo, pois realmente Crash Bandicoot 4 está bem exigente quanto à sua dificuldade.

Tawna, a aventureira

Selecionamos a fase num lugar chamado mapa dimensional que apresenta mundos diferentes e uma navegação simplificada, similar ao que existia no primeiro jogo. Isso contextualmente traz personagens jogáveis de dimensões paralelas, como Tawna – a namorada de Crash -, dotada de um undercut tingido bastante estiloso. Ela ataca com golpes de corpo-a-corpo e faz o uso de um gancho de atordoa alguns inimigos maiores enquanto elimina outros menores, como também pode salvar a personagem de mortes ao “enganchar” este seu equipamento em locais com suporte para ele (mastros, paredes, etc).

A Bandicoot também consegue pegar impulso em algumas paredes para subir até lugares mais altos, praticamente virando uma acrobata. Temos também Dingodile como personagem jogável, um dos chefes “malvadões” da trilogia clássica, que usa seu aspirador para sugar TNT e outros itens, além de poder flutuar sobre buracos e precipícios com ele. Já seu ataque principal é feito com a cauda, a qual o personagem gira para eliminar inimigos e destruir caixas.

Cortex agora jogável

Como se não bastasse, Neo Cortex vira um selecionável depois de se juntar à Crash num dado momento do jogo. Sua jogabilidade é bem mais focada em plataforma e puzzle. Seu ataque principal é através da sua arma de raio, que transforma inimigos em plataformas flutuantes fixas ou que funcionam como um pula-pula, compensando a falta de pulo duplo do vilão. Sua arma também quebra caixas com os disparos e, adicionalmente, Cortex consegue dar um dash no ar. Apesar destes personagens não serem jogáveis em todas as fases, é possível sempre alternar entre Crash e Coco antes de qualquer cenário escolhido.

A diversão através de novidades

Em Crash Bandicoot 4: It’s About Time existem fases completamente diversificadas, trazendo ambientes como selvas, desertos dominados pelo agora metaleiro N. Gin e seus headbangers, cenários gélidos, futuristas, orientais e até mesmo os clássicos cenários pré-históricos. Presentes estão também os desafios de fuga de dinossauros e outros monstros, além dos momentos de montarias no ursinho Polar ou outros personagens jamais vistos antes.

Crash também sente frio

Como novidade, agora Crash dá um pulo duplo mesmo depois de dar um super pulo após ficar agachado – isso abre até mesmo uma conquista mostrando que realmente é uma nova possibilidade. Felizmente este recurso foi adicionado não para tornar as coisas mais fáceis, mas sim para criar novos desafios a partir disso e ações que exigem seu uso – um bom exemplo são as caixas em locais mais altos e buracos mais distantes. Crash também faz coisas inéditas, como se pendurar em cordas, golpear com uma rasteira giratória e andar nas paredes tal como um príncipe da Persia. Ah, as frutas Wumpa agora funcionam de forma magnética, então você não precisa ir até elas para coletar.

Existem as chamadas fitas de flashback que podem ser obtidas dentro das fases que passarmos sem morrer uma única vez. Estas fitas liberam fases extras que mostram o passado de Crash ainda como cobaia de Cortex, aplicando um filtro retro em cima da visão. Tutoriais agora são contextuais com as fases e ações. Você sabia que pra destruir uma caixa embaixo de TNT é só girar “parado”? Sempre fiz isso através do “feeling“, nunca soube que de fato existe uma regra pra isso ser feito.

O rei da selva

Mas o maior fator replay que vai te querer fazer terminar tudo em 100% é o seguinte: skins novas são desbloqueadas com todas as joias adquiridas em cada fase. Estas jóias são obtidas através de vários critérios diferentes: 40%, 60% e 80% das frutas Wumpas coletadas; todas as caixas destruídas; 3 mortes no máximo e a coleta de uma jóia escondida na fase. Não é necessário fazer todas estas tarefas em uma mesma tentativa, por isso rejogar uma fase é uma opção bem válida para quem não quer fazer tudo e deseja ver o final do enredo o quanto antes.

Quatro máscaras e uns Bandicoot

Provavelmente o maior chamariz de Crash Bandicoot 4: It’s About Time fica por conta das quatro máscaras que Crash e sua turma encontram para salvar o multiverso. Lani-loli é a máscara azulada usada para alternar entre duas linhas do tempo diferentes, mas que na prática é uma habilidade que ativa e desativa plataformas, caixas e outros elementos em “planos” diferentes. Já Akano é uma outra máscara, de cor lilás, que usa matéria escura para fazer com que os personagens utilizem um giro infinito que possibilita planar no ar e refletir projéteis de inimigos.

UOU!

Temos também Kupuna-wa, a máscara mais simpática dentre todas, que desacelera o tempo por alguns segundos. Já Ika-Ika é a máscara que concede poderes para inverter a gravidade, o que cria vários puzzles diferentes. Todas estas formas de jogar que as máscaras criam são aproveitadas ao máximo, tornando as fases em verdadeiros desafios que podem te fazer morrer por volta de 60 vezes em um mesmo cenário – sim, eu morri tudo isso. Aliás, algumas fases no final do jogo misturam as quatro máscaras e suas respectivas jogabilidades.

Puzzles invertidos

Depois de terminar o jogo – o que é possível com uns 30% -, Crash Bandicoot 4: It’s About Time dá vontade de fazer o 100% e até mais. Tudo vira estímulo para que o jogador volte novamente às fases e explore ao máximo, seja para encontrar a jóia escondida ou quebrar todas as caixas. A quantidade de roupas disponíveis para Crash e Coco é absurdamente alta, e todas são muito bem desenvolvidas, criativas e engraçadas – algumas até clássicas. Estão presentes também vários easter eggs nas conquistas traduzidas e localizadas como expressões brasileiras “algo de errado não está certo” ou brincadeira com outras franquias da Activision em fases com nomes do tipo “Chamado do Dever”.

O mundo invertido e o multiplayer

Após a derrota de um chefe em específico do jogo, é liberado o modo N. Verted (um trocadilho com a palavra “inverted” do inglês) de todas as fases. Assim, é aplicado um filtro de cores invertidas na tela – bastante incômodo -, algumas fases são em preto e branco ou a jogabilidade fica acelerada. É algo que aumenta o fator replay, mas nem todos os estilos podem agradar os jogadores.

N. Verted

Também ficam disponíveis novas gemas para coletar e liberar ainda mais roupas neste modo, fora que algumas modificações são feitas em relação ao posicionamento de caixas e até mesmo uma jogabilidade no escuro é apresentada. Resumindo: o N. Verted foi criado para re-aproveitar as fases. Pode ser visto também como uma reciclagem, porém o jogo oferece conteúdo principal o suficiente por si só. São 10 mundos ao todo, e cerca de 40 fases sem contar as de flashback.

Trazendo o conceito de antigamente onde a gente passava o controle quando queríamos jogar com amigos e família os games single player, Crash Bandicoot 4: It’s About Time revisita isso permitindo com que jogadores revezem cada vez que perderem uma vida ou passarem num checkpoint. No menu principal também existe o modo multiplayer para até 4 pessoas, mas não é exatamente aquilo que você está pensando.

Multiplayer local

Não são quatro jogadores num mesmo cenário ou jogando simultaneamente com tela dividida, mas sim uma competição entre quem chega mais rápido no final da fase ou faz mais combos de quebrar caixa… um jogador por vez.

Sim, a Toys for Bob perdeu a oportunidade perfeita de criar algo em que duas pessoas ou mais disputassem em tempo real. Algo facilmente já visto em títulos com estrutura parecida, como o incrível Sonic Heroes de PS2 onde cada jogador tinha seu espaço na tela e todos brigavam entre si pelo melhor tempo. Uma pena este modo ser tão básico e mal aproveitado.

A melhor continuação que você pode esperar

Awnnnn

Se eu pudesse resumir Crash Bandicoot 4: It’s About Time em uma palavra, seria “magnífico”. O quarto jogo da série é simplesmente incrível, duradouro, sabe estimular com desbloqueáveis que não cobram um centavo a mais para serem liberados e uma jogabilidade que remete aos títulos clássicos enquanto aprimora tudo aquilo que já foi visto anteriormente.

Crash Bandicoot 4: It’s About Time é aquilo que Crash sempre foi, porém elevado à máxima potência. São muitas horas de diversão garantida para aqueles que desejam apenas ver a conclusão do enredo, porém o jogo se estende muito mais se você for do tipo que quer todas as skins. No fim, Crash Bandicoot 4 é aquele jogo que, mesmo quando não estou jogando, está comigo nos pensamentos.

Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One cedida pelos produtores

Revisão: Bia Bock

Crash Bandicoot 4: It's About Time

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Jogabilidade clássica aprimorada
  • Fator replay absurdo
  • Roupas/skins muito criativas
  • Duração na medida certa
  • Dublagem excelente

Contras

  • Filtros visuais do N. Verted
  • Multiplayer fraquíssimo