Ao longo dos anos 90, as principais empresas do ramo de jogos eletrônicos buscavam reforçar a marca através da figura de mascotes. Como a indústria e seus produtos ainda estavam ligados a imagem de brinquedos, o uso de personagens “fofos” era uma forma criativa de cativar as crianças da época. Foi assim com a Sega com Alex Kidd e Sonic e com a Nintendo com Mario e sua turma, por exemplo.
Em meados daquela década, a Sony começava a disputar espaço na indústria de jogos eletrônicos ao lançar o PlayStation. Em 1996, a empresa apresentou o jogo de um personagem que se transformaria em seu principal mascote: Crash Bandicoot. Um marsupial, modificado geneticamente, que lutava contra o cientista maligno Dr Neo Córtex. Numa época em que as campanhas de publicidade não eram tão cordiais com as empresas rivais como hoje, o vilão de Crash – que tinha uma enorme letra “N” estampada na testa – era uma clara “trolagem” a rival Nintendo.
Mario Kart 64, lançado em 1997, se tornou um sucesso de crítica e de vendas, com quase 10 milhões de unidades vendidas em todo mundo. Nada mais natural a Sony se interessar por uma fatia desse mercado. Assim, em setembro de 1999 a Naughty Dog lançou, exclusivamente para o console da Sony, um excelente jogo de corrida de kart. O game pegou a fórmula imaginada pela Nintendo e misturou os elementos insanos do mundo de Crash para construir algo totalmente novo. Assim surgia o aclamado Crash Team Racing, o último jogo da série produzido e desenvolvido pela empresa que hoje é conhecida por sucessos como Uncharted e The Last of Us.
A Beenox – tendo em vista o sucesso de Crash Bandicoot N. Sane Trilogy (uma coletânea que contém os três jogos clássicos da série remasterizados), em 2017 – começou o processo de recriação do jogo de kart do marsupial malucão. Em junho de 2019, a Activision nos brindou com Crash Team Racing Nitro-Fueled.
Desenvolvimento: Beenox
Distribuição: Activision
Jogadores: 1-4 (local) / 2-8 (online)
Gênero: Aventura, Corrida, arcade
Classificação indicativa: Livre
Português: Dublagem, legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 5.5 horas (campanha) / 21.5 horas (completo)
Um game para todas as gerações de jogadores
CTR está longe de ser uma cópia de Mario Kart e se diferenciava muito, na época, por conta da infinidade de modos e desafios. É gratificante ver que a essência do game foi mantida. Dessa forma, todos os modos presentes na versão original retornaram nessa remasterização, com o acréscimo do modo online, o sistema de personalização e os desafios Wumpa, que falaremos mais a frente. O jogo conta com 56 personagens, 40 pistas, 40 karts personalizáveis e 10 modos de jogo (incluindo aí o online). O novo CTR mistura personagens e pistas do original com Crash Nitro Kart, lançado em 2003. Estamos diante de um game com conteúdo para horas e horas de diversão.
Os gráficos que já eram bonitos na versão original estão primorosos aqui, se aproveitando da mesma engine utilizada na coletânea N. Sane Trilogy. As músicas e efeitos sonoros são cópias remasterizadas das melodias originais e emulam o ambiente descontraído que o jogo se propõe. Ainda temos a opção de jogarmos com as músicas do clássico game de 1999. Tecnicamente, CTR é muito bem feito e com um ótimo desempenho, apesar de rodar a 30 fps. O game, vale destacar, está totalmente localizado para o nosso idioma (dublagem e legenda), o que torna a brincadeira ainda mais divertida. De modo geral, Crash Team Racing Nitro-Fueled irá agradar tanto os fãs do jogo clássico, quanto a nova geração de jogadores.
A aventura começa
O grande diferencial de CTR original em relação ao rival é o seu modo aventura. E ele, obviamente, está de volta aqui, com todo o seu esplendor. Ao iniciarmos a campanha nos são oferecidos dois modos diferentes: nitro-fueled (que nos permite jogar com qualquer item ou personagem que tenhamos desbloqueado) e clássico (que busca emular a experiência original do primeiro jogo). A história é bem simples: um alienígena de nome Nitros Oxide chega a Terra, planejando destruir todo o planeta, transformá-lo num estacionamento e fazer de Crash e sua turma (bons e maus) seus lacaios. O vilão desafia o melhor corredor do nosso planeta para um campeonato de kart. Caso perca, Oxide deverá abandonar seu plano maligno.
O legal desse modo é a estrutura não linear de escolha das pistas, pois o cenário aberto funciona como um grande lobby onde podemos escolher por onde começar. Essa área também serve para melhoramos nossa perícia com os karts, dominando os controles e manobras como os turbos, por exemplo. As corridas disponíveis são indicadas no mapa, no canto inferior direito da tela. Cada corrida vencida libera um troféu. E podemos repeti-la para cumprir novos objetivos: buscar fichas CTR e bater o recorde da pista para coletar relíquias. Ao acumularmos quatro troféus há uma corrida contra um boss, que após derrotado nos concede uma chave que permite abrir o portal para o próxima área do jogo. É tudo bem simples assim como o original.
Passeando pelos outros modos de jogo
No modo arcade local existem oito desafios diferentes: corrida única, corrida de copa, batalha, contra o tempo, corrida de anéis, corrida de relíquias, desafio CTR e desafio de cristais. Os três primeiros podem ser jogados num competitivo local com até quatro jogadores com tela dividida. O jogo conta ainda com um inédito multiplayer online, onde podemos escolher dois tipos de modos para disputar com diversos jogadores mundo afora: corrida e batalha. Infelizmente, durante meus testes, não encontrei muitas pessoas jogando online. As disputas exigem a presença de oito jogadores. Caso não hajam players suficientes, o grid é completado com bots controlados pela CPU. De toda forma, as disputas rodam fluidas e sem qualquer tipo de lag que possa estragar a experiência.
Outro novidade de CTR é a implementação de um sistema de desafios a serem batidos chamado de Desafios Wumpa. O modo é dividido em três etapas (diários, semanais e profissional) e cada desafio vencido te concede recompensas em forma de moedas Wumpa. Essas moedas podem ser usadas para desbloquear itens diversos como novos personagens, pinturas, visual etc, na sessão Pit Stop do game. Esses itens, por sua vez, se dividem em três categorias: comum, exótico e lendário. E os custos para desbloqueio dos mesmos variam de acordo com essas categorias. Assim, itens lendários são mais caros do que os exóticos, que por sua vez são mais caros do que os comuns. Caso você não esteja com paciência para cumprir esses desafios, a Activision – seguindo uma infeliz tendência da indústria – implementou um sistema de microtransações onde é possível comprar, nas lojas online dos consoles, moedas Wumpa.
Um game divertido e desafiador
Os controles do novo CTR são simples de aprender mas difíceis de dominar. Digo isso porque há a necessidade de compreender o funcionamento do sistema de pulos para realizar turbos e com isso vencer as corridas. O game é bastante desafiador mesmo jogando contra a CPU na dificuldade normal.
Geralmente, os jogos de corrida estabelecem um padrão de desafio onde os resultados finais estão ligados ao seu tempo na prova. Porém, isso não acontece no jogo. Você pode conseguir um bom tempo na pista e ainda sim chegar em quinto. Da mesma forma, em certas situações você pode mandar mal e conseguir vencer a prova. A impressão que temos é de falta de balanceamento na IA dos personagens controlados pela CPU. Essa imprecisão no sistema de progressão pode acabar frustrando alguns jogadores não tão dedicados ao game, pois é necessário muitas repetições para conseguir a perfeição (e sorte) necessária para avançar no jogo.
Outro problema é o tempo gigante de carregamento. As telas de loading são irritantemente demoradas. De toda forma, Crash Team Racing Nitro-fueled é um acerto em vários sentidos. Trata-se de um jogo super divertido, desafiador, com controles simples e gráficos maravilhosos, capaz de encantar a nova geração de jogadores que nem sequer conheciam o bandicoot laranja. Em igual proporção, CTR bate forte na nostalgia (desde a introdução), sendo capaz de colocar um sorriso no rosto ou uma lágrima nos olhos de quem jogou o original do final dos anos 90.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Samuel Leão