Muito se falava sobre o quão Crysis era exigente em meados de 2007, o ano de lançamento de um dos jogos mais difíceis de se rodar no PC naquela época. O jogo da Crytek era bastante pesado e basicamente nenhum hardware estava à sua altura devido à mentalidade sob a qual a Cryengine (a engine do primeiro Crysis) foi desenvolvida. Em tempos atuais, Crysis é facilmente encontrado por preços ridiculamente baixos e é possível de rodá-lo em qualquer PC com uma GPU (placa de vídeo) modesta, já que há mais de 10 anos foi seu lançamento. Crysis recebeu ports posteriores para consoles da época, como o Xbox 360 e o PS3, porém ambas as versões possuíam uma paleta de cores diferent e performance inferior à de PC.
Recentemente tive a oportunidade de adquirir o jogo na plataforma GOG, sem qualquer tipo de DRM (ufa) e, finalmente, agora sim: meu PC roda Crysis. Dito, será que o título se sustenta ainda hoje ou tudo não passava de gráficos belos e físicas de cair o queixo? Vejamos o que Crysis Remastered pode nos oferecer em 2020 numa versão atualizada, ainda mais num console de hardware notoriamente inferior como o Nintendo Switch.
Desenvolvimento: Crytek
Distribuição: Crytek
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tiro, Ação
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataforma: Switch, Xbox One, PS4 e PC
Duração: 10 horas (campanha)/ 13 horas (100%)
Uma super operação
Crysis é um jogo onde você controla Nomad, um soldado da Raptor Team das forças especiais dos Estados Unidos, em missão na Coréia do Norte. Nenhum dos membros possui superpoderes, mas agem como se tivessem graças aos trajes de nanotecnologia que cada um dos soldados usa. Entre as habilidades está a de ficar camuflado (com um aspecto de invisibilidade), ativar um super escudo, desferir um super soco, ativar um super pulo, nadar e correr em ultra velocidade.
Crysis é um jogo que realmente te faz se sentir na pele de uma máquina de destruição, um predador das forças armadas que fica à espreita de sua caça. Fora as habilidades concedidas pela roupa, é possível fazer uso das mais diversas armas como shotguns, snipers, submachine guns e também modificá-las com partes como miras de aproximação, silenciador, entre outras.
O esquadrão chega próximo ao destino, mas é atacado durante o pouso, restando apenas Nomad, Prophet e Psyco do grupo. O primeiro Crysis se passa majoritariamente num ambiente tropical de mata, então será comum se sentir em locais parecidos e bastante repetitivos grande parte do tempo. Entretanto, isso pode ser usado como vantagem, visto que é possível se esconder em toda e qualquer moita, atrás de árvores, pedras, etc. E isso é um elemento primordial de Crysis, o que pode ser irônico para muitos. Fato é que, para um jogo onde você controla um super soldado com poderes especiais, chega a ser engraçado ter que apelar para técnicas de stealth em vários momentos para driblar a morte. Mesmo com o super escudo ativado, os danos recebidos são bem pesados até na dificuldade normal – a qual considero a maneira correta que os desenvolvedores pensaram para que algo seja jogado.
Deixando bem claro: Crysis não é um jogo para “rushar”. Quero dizer com isso que você vai se dar muito mal se pensa que pode simplesmente chegar atirando em tudo que estiver à sua frente e nada de ruim vai acontecer. Cometi um erro ao me acostumar com jogos mais comuns do gênero como os CoD e Battlefield da vida, onde muitas vezes os inimigos não se movem tanto, não perseguem o protagonista e até mesmo erram propositalmente muitos tiros para equilibrar a dificuldade sem te deixar esquecer de que se trata de um video game.
Crysis exige estratégia, paciência e planejamento antes de invadir um local cheio de inimigos. É possível sim alterar a dificuldade para a mais fácil, mas em consequência você pode se sentir insultado por conta da mudança brusca na inteligência artificial dos inimigos que atiram para o nada. Uma vez que um inimigo é alertado sobre sua presença, seus companheiros nas proximidades também vão atrás do personagem e o buscam enfurecidamente. É possível usar a camuflagem para tentar escapar, mas a inteligência artificial dos combatentes coreanos ainda assim faz com que atirem na última posição avistada do personagem e ao redor, desativando sua invisibilidade instantaneamente. Por isso, tenha em mente que Crysis é desafiador.
Agora Crysis roda no Switch
O que parecia impossível, aconteceu: Crysis funciona no Switch. Não acreditei quando o anúncio foi feito. Mesmo sendo um jogo originalmente de 2007, o console da Nintendo ainda sofre para rodar alguns jogos até mesmo da geração passada com perfeição. Porém, mesmo com tanta dúvida e suspeita, Crysis Remastered é uma surpresa muito bem-vinda para o Switch. Apesar de não ser a versão mais bela lançada neste ano – lembrando que, no momento desta publicação, já foram lançadas as versões de PC, Xbox One e PS4 -, ter um jogo como Crysis rodando no modo portátil é simplesmente absurdo.
Em boa parte dos ambientes, a performance se mantém bastante estável em 30 fps, tanto no handheld quanto com o Switch na Dock. As físicas ridiculamente avançadas dos objetos continuam presente, a destruição de cenário se mantém incrível e as sombras e texturas ainda são de cair o queixo – menos a qualidade da representação do solo, essa é deplorável.
Porém, nem tudo são flores. A resolução dinâmica cai muito no portátil ao mirar com a sniper, e parece que Crysis Remastered exige mais do processamento enquanto compensa na baixa qualidade gráfica. É possível ver a sombra e objetos se formando à medida que vamos caminhando no cenário por conta do limite de draw distance, o que fica menos feio na Dock. Claramente muito sacrifício teve que ser feito para que Crysis pudesse rodar com competência no console da Nintendo.
Porém, mesmo com tantos detalhes que podem soar apenas como implicância para alguns, fica aqui a conclusão sobre o jogo em questão de gráficos e performance no Switch: acima da média. Mesmo assim a minha dica é de que você não faça comparação com as versões de consoles mais potentes ou a de PC, porque o desânimo pode vir à tona por causa da diferença gritante.
O que não rolou
Por se tratar de uma versão remaster, algumas coisas podiam ter sido levemente alteradas. Recentemente, conferindo Crysis 3 de Xbox 360, pude notar que algumas mudanças de jogabilidade foram bem importantes na franquia. Mesmo sendo o terceiro Crysis da série, alguma decisões existentes no primeiro incomodam e atrapalham nossa estratégia. Um bom exemplo é o lançamento de granadas que desativam sua camuflagem caso esteja com ela ativa. Outra também é a falta de uma eliminação stealth, já que o protagonista apenas dá um safanão no inimigo com a arma, tornando qualquer ação estratégica bem inútil nestes aspectos.
É bem incômodo também e sem sentido os inimigos não verem a sombra do personagem, uma vez que a habilidade de camuflagem faz apenas isso: te esconde, mas não torna invisível de fato. A imersão vai um pouco embora com essas brechas de coesão, já que, ao mesmo tempo, os inimigos detectam sua presença se chegar muito perto. Por vezes também é possível ver uma inconsistência entre a ação do personagem e sua sombra, principalmente ao ficar abaixado, deixando claro que são dois elementos separados e conectados de alguma forma pela programação.
Certos pontos passíveis de reclamação também podem ser observados nesta versão, como a inexistência de um modo multiplayer que existia no game original e a remoção de uma fase no modo história. Por fim, alguns bugs de colisão estão presentes, então é bastante comum ver objetos entrando no cenário, carros embaixo do chão, inimigos trêmulos ao pisar num local que não seja uma superfície plana, entre outras bobeirinhas que não atrapalham diretamente a jogabilidade. Aliás, não existe como salvar o jogo a qualquer momento como na versão original de PC, ficando restrito o save automático apenas para checkpoints.
Crysis ainda é um excelente jogo
Confesso que apenas no Switch pude ter um contato maior com o primeiro Crysis da série. Como era bastante inacessível na época de seu lançamento, não consegui experienciar em uma boa qualidade gráfica e muito menos de performance. Porém, jogando com a mentalidade de que Crysis na verdade é um jogo de 2007, é impressionante a capacidade de que o game da Crytek se sustenta de forma incrível ainda hoje. Mesmo com alguns sacrifícios gráficos aqui e ali, a versão remasterizada do primeiro jogo da franquia impressiona com sua qualidade no console da Nintendo, conquistando o lugar de um dos melhores jogos de tiro em primeira pessoa para o Nintendo Switch.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock