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Review Dark Water: Slime Invader (Switch) – A invasão dos slimes malditos

É incrível como jogos de plataforma e progressão lateral (2D) continuam a se manter relevantes dentro da indústria, quase quarenta anos depois de suas bases terem sido estabelecidas. Nesse sentido, o avanço dos jogos 3D, ao longo da década de 90, felizmente não resultou na extinção do estilo que nos brindou com obras marcantes como Mario, Sonic e Metroid, por exemplo. Alguns jogos até tentaram migrar para o 3D, mas não conseguiram o mesmo resultado de antes e precisaram voltar às suas origens – Donkey Kong 64, estou falando de você. 

Apesar de ainda compor o portfólio de grandes desenvolvedoras, nos acostumamos a ver muito desse legado em produções de estúdios indies, que exploram a simplicidade das mecânicas com engenhosidade e inventividade. A mescla de cenários tridimensionais numa progressão side-scrolling – o agora popular 2.5D – é uma escolha de design incrível que representa a síntese das antigas produções com as novas tecnologias disponíveis. Desenvolvido pela DEVBOX e distribuído pela TROOZE, em meados de março para PC e Nintendo Switch, assim é Dark Water: Slime Invader.

Desenvolvimento: DEVBOX
Distribuição: TROOOZE
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, ação, plataforma
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PC e Switch
Duração: Sem registros

Reforçando os laços

Supere obstáculos junto da sua vozinha.

A narrativa de Dark Water, tal qual os clássicos jogos de plataforma, é bem singela. Numa pacata vila, slimes malvados, sem razão aparente, surgem e passam a apavorar e atacar os seus moradores. Diante dos perigos do lugar, acompanhamos a jornada de uma jovem de longos cabelos avermelhados e de sua simpática avó, que buscam fugir dos inimigos e, ao mesmo tempo, livrar a vila da maldição dos slimes.

Apesar da história não ser criativa, e utilizada apenas como um pequeno fio condutor para justificar as mecânicas e puzzles presentes no jogo, é interessante a forma como a relação entre a neta e avó é construída. A subjetividade é forte e transmite a ideia de vivenciarmos, de fato, uma jornada com a nossa avó. O fato dos personagens não serem nomeados potencializa essa sensação.

A história é dividida em estágios e cada fase superada passa a compor a página de um grande livro, em que o foco não está na vila ou nos slimes malditos, mas na bonita relação entre as fofas personagens, que perigo após perigo reforçam ainda mais os seus laços.

Visual controverso

O visual é muito bonito. Mas, os cenários são repetitivos.

O visual de Dark Water me causou um sentimento um tanto quanto controverso. As cores em tom pastel e aquarela presentes nas personagens, inimigos e cenários são belíssimas. O estilo chama atenção logo de cara, mas infelizmente é mal aproveitado devido à falta de variedade nos cenários e demais elementos vistos em tela.

Ao longo das mais de vinte fases que temos que ultrapassar, o que vemos são pequenas e sutis variações no level design que buscam adequar a gameplay às novas habilidades que vamos adquirindo. Tudo é muito repetitivo! Para todos os efeitos, o cenário é exatamente o mesmo. E isso não se resume só ao ambiente, mas aos inimigos também: variações mais fracas ou poderosas dos slimes contam com pequenas alterações visuais.

As músicas padecem do mesmo problema visto no visual. As premiadas composições orquestradas de Manami Matsumae, presentes em Dark Water, apesar de belas, são repetitivas. As fases possuem praticamente a mesma trilha sonora, com uma ou outra mudança, como quando passamos a controlar a vozinha em alguns trechos. Além disso, ela não acompanha o nosso progresso, subindo ou diminuindo o tom em momentos de calmaria ou perigo, quebrando a imersão na aventura.

Quase um metroidvania

Podemos desbloquear algumas habilidades.

As mecânicas de Dark Water são o seu ponto forte, mesclando elementos de Metroidvanias na exploração das fases. Porém, não temos aqui a liberdade dessas obras. De forma geral, temos uma progressão bem linear e separadas por fases. Conduzir a vozinha até o final da fase em segurança agrega valor e dificuldade à gameplay, além de expressar de forma sutil a bonita relação entre as duas.

Ao longo da jornada vamos adquirindo novas habilidades que nos ajudam a ultrapassar as armadilhas e inimigos que aparecem pelo caminho. A ruivinha aventureira usa de um arco espiritual como arma principal. Mas, outros movimentos, como pulos duplos e teletransporte vão sendo incorporados de forma gradual à gameplay durante a aventura. O problema é a demora na inclusão de certas habilidades. Passamos várias fases sem necessitar de alguns deles e sem muita explicação aprendemos um novo. Nesse sentido, certos puzzles são acrescentados às fases seguintes apenas para justificar a existência dos novos poderes. 

Com o tempo aprendemos novos golpes e movimentos.

Dentro das fases encontramos livros mágicos que acrescentam novas habilidades à arqueira indomável que melhoram seus status, como tempo de recuperação, velocidade de recarga de flechas e melhorias na saúde. Para isso, temos que utilizar pontos de habilidades que são adquiridos após derrotarmos os slimes malvados espalhados pelo caminho. Os pontos de habilidade podem ser redistribuídos livremente conforme nossa vontade, mas a ação só pode ser realizada estando com a vozinha por perto.

Os livros de habilidades e as estrelas espalhadas pelas fases funcionam como coletáveis que prolongam a nossa experiência com o jogo. Mas, salvo isso, não há um apelo maior que nos instigue a revisitar as fases.

Um jogo de altos e baixos

A parte técnica de Dark Water: Slime Invader cumpre bem o seu papel, mas não está livre de problemas. Muitas vezes o movimento da câmera que acompanha a nossa personagem dá uma engasgada, denunciando quedas de framerate que podem incomodar os olhos mais sensíveis. Além disso, os controles muitas vezes não respondem como deveriam. É frustrante demais ter que repetir inúmeras vezes o mesmo movimento até que o controle responda de forma correta ao comando. E olha que o jogo possui um contador de mortes! Ainda falando dos controles, quero deixar registrado aqui que atirar e mirar com arco e flecha, em Dark Water, é algo desnecessariamente burocrático.

Fugir do ataque dos slimes malditos tem seus altos e baixos. Dark Water: Slime Invader tem muitas ideias boas que poderiam ter sido melhor implementadas. Como fã de Metroidvanias eu ficava mentalizando quão legal seria se o jogo abraçasse essa abordagem. Quem sabe em um próximo? De toda forma, ele vale pelo visual caprichado, pelos puzzles que devemos solucionar para concluir as fases, variedade de mecânicas e, principalmente, pela forma sutil que explora a relação de afeto, amor e doçura de uma avó e sua neta.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Dark Water: Slime Invader

6.5

Nota final

6.5/10

Prós

  • Visual aquarelado
  • Os laços de avó e neta
  • Mecânicas variadas

Contras

  • Cenários repetitivos
  • Controles falhos
  • Pequenas quedas de framerate