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Review Digimon Survive (PS4) – um conto maduro para a franquia Digimon

Digimon Survive mescla inusitadamente o gênero Visual Novel com batalhas em turno, em um pacote cujo principal chamariz está em sua história mais madura e, de certa forma, sombria, dentro da franquia Digimon.

Desenvolvimento: HYDE, Inc
Distribuição: Bandai Namco
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Estratégia
Classificação: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PS4, Switch, Xbox One, PC
Duração: 29 horas (campanha)/59 horas (100%)

Sobrevivendo ao desconhecido

Um diálogo fofo entre Takuma e Aoi

A história de Digimon Survive ocorre em um misterioso mundo alternativo habitado pelos kemonogami, nome dado aos monstros cuja existência é considerada apenas uma lenda. Para Takuma e um grupo de amigos da escola, essa lenda se torna real quando são subitamente transportados para um lugar desconhecido e repleto de segredos.

Cada personagem apresentado possui uma personalidade muito distinta, que se revela aos poucos em cada diálogo e situação vivenciada pelo grupo. Por ser o protagonista, Takuma acaba por ser o mais “geral” em questão de personalidade; afinal, muitas de suas falas e decisões tomadas partem de acordo com o que o jogador sente e pensa.

Personagens secundários possuem seu momento para brilhar, crescer e evoluir dentro da história. Minoru e seu comportamento excessivamente piadista esconde um garoto preocupado com todos; a calmaria, o foco e a paciência de Aoi são apenas fachada para uma garota que tem a dura responsabilidade de se portar como a mais velha do grupo e proteger os amigos. Esses são apenas dois exemplos de um elenco rico e diverso, cujas personalidades contrastam entre si e geram amizades, conflitos e questionamentos.

Para uma história no universo Digimon, Survive adota uma narrativa séria, cujo tema de sobrevivência sobressai qualquer clima aventuresco proveniente de outros jogos da franquia e do anime homônimo. Há momentos legitimamente sombrios e inesperados durante toda a aventura, capazes de chocar de maneira genuína, contrastam de forma interessante com a ingenuidade e inocência de alguns membros do grupo, bem como certos digimon, como Agumon, Floramon e Lopmon.

Narrativa em forma de Visual Novel

Shuuji, o personagem mais insuportável de todo o jogo

Digimon Survive conta sua história por meio de uma Visual Novel interativa. O título é repleto de diálogos apresentados em balões com belíssimos painéis 3D de fundo que mesclam elementos 2D muito bem desenhados e realizados.

Durante a aventura, alguns diálogos ofereceram escolhas para serem feitas. Algumas dessas escolhas possuem impacto direto na história, podendo ir ao extremo e serem decisivas na sobrevivência dos personagens, o que justifica e embasa o tema de sobrevivência contido no nome do jogo, assim como coloca uma pitada de urgência e pressão nas decisões tomadas por Takuma.

Survive não possui uma exploração convencional. Aqui, esses momentos acontecem em menus. É possível escolher locais dentro da região em que a história está acontecendo naquele momento para visitar. Cada local pode conter pistas e informações sobre os mistérios desse mundo desconhecido e dos kemonogami. 

Ao visitar os locais, também é possível conversar com os membros do grupo e aumentar a afinidade entre eles e o protagonista. O nível de afinidade desbloqueia interações em diálogos futuros, assim como permite que ações conjuntas sejam executadas de forma natural durante as batalhas.

Embora a história e os personagens façam valer a pena encarar um gênero tão de nicho como o Visual Novel, o fato de alguns eventos não poderem ser evitados ou alterados na primeira “zerada” do jogo prejudica o sistema de escolhas. O jogo cria um “fator replay” artificial, pois a única maneira de se alcançar o final verdadeiro da história é rejogando-a em um modo New Game+. Isso tira um pouco o peso das escolhas também.

O elo mais fraco de Digimon Survive

Digimon batalhando entre si em uma área verde

Entre momentos de calmaria e em pontos-chave da história, Takuma e seus amigos colocam seus parceiros digimon para batalhar contra outros monstrinhos. Essas batalhas ocorrem em uma arena em formato de grid e com visão isométrica, como em um grande tabuleiro. Cada batalha permite que um número específico de digimon seja alocado.

Cada monstro pode executar até três ações por turno: movimentação, ataque e diálogo com seu parceiro humano. Atributos governam quantos espaços podem movimentar e qual o nível de ataque, defesa e pontos de vida. Para melhorar esses atributos, dentre outros característicos dos digimon, basta derrotar inimigos e vencer as batalhas para ganhar pontos de experiência

Os digimon possuem, no começo, dois golpes disponíveis, sendo um ataque que não gasta pontos SP, e outro mais poderoso que custa SP. Conforme a aventura progride, tanto em batalhas quanto em momentos de “exploração” das áreas de diálogos, itens que concedem novas habilidades e melhorias passivas podem ser encontrados e, por sua vez, equipados nos digimon para que fiquem mais fortes.

Ataque especial de bola de fogo de Tyrannomon

É possível evoluir os monstros para outros digimon mais poderosos. Porém, evoluções dos digimon parceiros do protagonista e seus amigos são desbloqueadas somente de acordo com a progressão da história, e não com outros critérios de desbloqueio, como nível do personagem ou ações específicas, sistemas esses típicos em outros jogos baseados em Digimon.

O maior problema das batalhas de Digimon Survive é que todas elas são excessivamente simples e repetitivas. Ao início de cada batalha, é preciso sempre escolher cada bichinho que será utilizado. Não é possível ter uma formação fixa. Compreensível para batalhas da história principal mas, em batalhas secundárias, cujo objetivo é repeti-las à exaustão para ganhar experiência e fortalecer o grupo, essa burocracia apenas torna o processo enfadonho.

Survive traz um sistema de “recrutamento” de digimon selvagens, que podem ser convencidos a entrar para o grupo por meio do diálogo. Ao decidir falar com um monstrinho adversário, é preciso escolher respostas corretas para melhorar o humor dele, para então ter uma chance de convencê-lo a fazer parte do time ou pedir um item de auxílio, como curativos e remédios. É esquisito, no entanto, responder as perguntas corretamente, ver o ânimo do bicho nas alturas e ter um percentual de recrutamento baixo.

Narrativa rica e profunda e batalhas rasas aqui e acolá

Digimon Survive é um jogo competente em sua narrativa. Belos visuais, somados a uma trilha sonora que evoca o mistério e os perigos desse mundo desconhecido e de seus habitantes, os kemonogami, enriquecem a história de Takuma, Agumon e seus amigos. Por outro lado, mesmo sendo competentes nas animações dos ataques e nas artes de cada monstrinho, as batalhas do jogo se mostram excessivamente rasas e repetitivas.

Cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Digimon Survive

8.5

nota final

8.5/10

Prós

  • Visuais belíssimos, tanto nos diálogos quanto nas batalhas
  • História madura e interessante
  • Boa variedade de digimon

Contras

  • Batalhas rasas e repetitivas