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Review Dragon Ball Z: Kakarot (Xbox One) – Um Kamehameha de decepções

Vamos direto ao ponto: o jogo foi lotado de hype e muitos fãs estavam ansiosíssimos para seu lançamento – sou um deles -, principalmente porque a jogabilidade se propunha a ter elementos de RPG, mundo aberto e, aparentemente, bastante variedade nos desafios e missões paralelas. Mas será que Dragon Ball Z: Kakarot conseguiu se sustentar? O jogo foi desenvolvido pela Cyber Connect e publicado pela Bandai Namco.

Ano: 2020
Jogadores: 1
Gênero: Ação, RPG, Aventura, Luta
Classificação indicativa:
12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, Xbox One e PS4
Duração: 30 horas (campanha)/53.5 horas (100%)

A história que conhecemos e amamos

“Gohan, fizeram outra vez um jogo nosso”

Já assistimos Dragon Ball Z tantas vezes que praticamente sabemos todos os acontecimentos “de cor”, mas vamos admitir que fã é fã. Quem é apaixonado pelo anime fica sempre empolgado com qualquer jogo da série quando é anunciado. Como sou um destes malucos por Dragon Ball, fiquei extremamente empolgado quando descobri que estavam fazendo um novo jogo de Goku e seus amigos, mas que desta vez teria elementos supostamente inovadores.

Sério, não me importo de tentarem recontar a história que já conheço há tantos anos das mais diferentes formas possíveis – desde que seja feito com esmero. A verdade é que DBZ Kakarot aparentava ser muito mais do que realmente veio a ser.

O anime em forma de jogo

Um dos pontos fortíssimos do jogo sem dúvidas são as cutscenes. As animações entre uma missão ou batalha e outra são simplesmente sensacionais. É como se você estivesse vendo o anime na sua TV, sério. E com suporte a legendas em português.

É, você deve estar pensando “estamos em 2020 e um jogo destes não tem a dublagem brasileira?”, e sim, infelizmente a publisher resolveu não investir em algo tão característico no mundo dos animes em nosso país. Seria um deleite muito grande para nós, que crescemos vendo o desenho na TV, ter o prazer de ouvir Wendel Bezerra dublando o Goku, por exemplo. Mas fazer o que, né? Bola fora.

Apesar de recontar fielmente a história do anime, é possível acelerar a maioria das cenas ou simplesmente pular, caso você já saiba dos acontecimentos de cabo a rabo. Confesso que fiz isso em grande parte das cenas, pois pra mim já era totalmente previsível o que vinha pela frente.

Missões superficiais

Quando você tem um jogo de mundo aberto, o mínimo que você espera dele são missões relevantes. Em Dragon Ball Z: Kakarot a Cyber Connect errou feio neste quesito, trazendo missões escandalosamente genéricas e parecidas. Todas se resumem em falar com alguém, coletar algo, levar um item para outra pessoa, etc. O resultado são reaproveitamentos de mecânicas de forma escrachada, buscando dar uma longevidade ao jogo que ele não é capaz sustentar sem cair na superficialidade. Quer jogar o mini-game de pescar? Sinto muito, é apenas um quick time event desnecessário.

Sinceramente, minha vontade foi de ignorar todas as missões desnecessárias para progressão da história, porque o sentimento era de que eu estava caindo numa profunda perda de tempo. Quantos menos missões paralelas eu tinha pra fazer, melhor. Sabe a verdade sobre o sistema de RPG em DBZ: Kakarot? É que a verdadeira recompensa está atrelada ao avanço na história, portanto pode esquecer se planeja obter níveis mais altos ou habilidades fazendo missões que não dependam das cenas principais do anime. Este jogo é realmente um RPG? Queria acreditar que sim.

Combate simplificado, mas confuso

Rumores diziam por aí e acabei confirmando: o combate é um Dragon Ball Xenoverse simplificado com poucas opções de combos. Os poderes compatíveis com os personagens ficam limitados aos que eles possuem no anime, levando em conta que são os personagens da série e o Goku jamais soltaria um Galick Ho do Vegeta, por exemplo.

Além disso, o mapeamento de botões em Kakarot é bastante confuso e jamais foram usados nos jogos de Dragon Ball – sempre atacamos com o botão de face da esquerda como quadrado no playstation, X no Xbox, etc -, sem falar que não podem ser alterados de forma alguma e você é obrigado a se acostumar com eles – pelo menos até a atualização 1.0.2. Sabe onde você já viu esse tipo de mapeamento? Jogos do Naruto. Mas pelo menos lá você pode mudar para como achar melhor.

Os combates não inovam em nada, apesar de serem o ponto mais alto do jogo para mim. O ritmo deles normalmente é bem repetitivo na história principal (nas missões paralelas é tudo ridiculamente fácil), e muitas vezes você vai sentir que o inimigo está “roubando”, o que mostra que sua habilidade nas lutas não tem tanto valor assim por causa dos picos ridículos de dificuldade.

Existe uma técnica absurdamente irritante em todos os oponentes do jogo, que é quando eles ficam estático com um KI vermelho ao redor de si. Você pode fazer o que quiser, mas o inimigo não sofrerá dano algum enquanto estiver neste estado e nem mesmo mostrará reações.

Outro momento que me deixou frustado demais é quando você resolve usar uma técnica, mas o inimigo usa uma espécie de habilidade especial que simplesmente cancela a sua, e você é obrigado a entrar num jogo de reflexos para escapar dos ataques – chatooooo. Isso é um bug ou faz parte da escolha de game design? Fica a dúvida. Só sei que é irritante demais, porque sua barra de energia é consumida mesmo assim, apesar da sua técnica ter sido cancelada.

Em termos de personalização, ao contrário da série Xenoverse, aqui você não é capaz de personalizar de forma verdadeira seus guerreiros Z. Cada personagem possui uma árvore de habilidades, mas muitas delas estão atreladas à progressão da história. Então não é possível comprar uma versão mais avançada de algumas técnicas suas, pois na história ela ainda não teve aparição. Quer fazer isso através de grinding? Boa sorte, porque eu não quis pagar pra ver. A experiência adquirida através das missões paralelas, como falei, são pífias se comparadas às da história.

Um jogo de apelo básico

Uma das coisas mais divertidas de Dragon Ball sempre foi o modo versus, onde você podia simular lutas entre dois personagens que nunca se encontraram no anime ou qualquer coisa do tipo. Ou até mesmo chamar aquele seu amigo em casa e passar a tarde jogando um divertido jogo de pancadaria do universo Z, escolhendo toda vez um personagem diferente simplesmente para vê-lo usando suas habilidades únicas.

Infelizmente DBZ: Kakarot carece de um modo versus, e você acaba por ficar limitado a jogar sempre com os heróis da série enquanto batalha com os vilões. Pior ainda, depois que você finalizar o jogo pretende ficar fazendo o quê? Missões secundárias? Coletando maçãs e carne de animais? Espero que não lancem um DLC pago que adiciona modos extras, seria o fim da picada.

Mecânicas para inflar

O jogo possui algumas mecânicas interessantes no conceito, mas que parecem estar ali apenas por estar. Uma delas é o Fórum da Comunidade, que é uma espécia de árvore de personagens onde você encaixa um emblema de alma, uma peça que representa o personagem da foto, com o objetivo de conseguir o máximo de combinações possíveis para obter atributos extra para seus personagens em diversas categorias – vida, KI, culinária, itens mais baratos, etc. Um exemplo fácil é a combinação Gohan + Goku, que habilita pontos extras devido a ligação familiar que os dois possuem como pai e filho. O Fórum possui várias categorias de comunidade, cada uma com seu respectivo líder, sendo possível presentear estes líderes com itens para obter mais atributos.

Porém, apesar de ser uma mecânica que faz sentido e interessante, ela passa muito a impressão de que foi feita desse jeito apenas para evitar o uso de menus simplórios – o que seria muito mais ágil. Parece que a equipe de desenvolvimento do jogo foi pressionada a criar algo interativo.

Pra quem é este jogo

Para o pobre e inocente fã desavisado de Dragon Ball. Goku não indicaria nem para Freeza, Cell ou Majin Boo (seus piores inimigos). Sério, se você é muito amante deste universo, vá ver o anime que é melhor. O que foi feito neste jogo é apenas o desenho em 3D com gráficos maravilhosos e um pouquinho de luta aqui e ali. Realmente é muito legal poder andar pela cidade, entrar na Corporação Cápsula, visitar o interior da casa de Goku e do Mestre Kame, mas, sinceramente, você estaria disposto a ceder seu tempo para algo tão básico?

Nem mesmo um motivo plausível para você revisitar o jogo existe, então é fechar e acabou. Se deseja “rejogar” as batalhas já vencidas, você vai precisar reunir as esferas do Dragão e invocar os inimigos mortos. Sério, pra que dificultar tanto assim? Colocasse um menu simples com a opção de jogar novamente estas lutas. Ah, antes que eu me esqueça, o jogo tem alguns orbs para serem coletados durante todo o mundo que são necessários para fazer upgrades em suas habilidades, mas não preciso dizer que isso não é nada divertido, né?

Quer jogar um RPG do universo de Dragon Ball que traz dignidade à série? Fique com os jogos Xenoverse que é muito mais jogo do que Kakarot.

Este review foi feito usando uma cópia para Xbox One cedida pela Bandai Namco

Dragon Ball Z: Kakarot

3

Nota final

3.0/10

Prós

  • Gráficos belíssimos
  • Cutscenes fiéis ao anime
  • Sistema de habilidades

Contras

  • Inteligência artificial
  • Sem modo versus ou arcade
  • Batalhas maçantes
  • Repetitivo
  • Missões secundárias irrelevantes