Fatal Fury: City of the Wolves é a mais nova entrada da nostálgica série de lutas da SNK, cujo último lançamento foi ainda nos anos 90. A volta é marcada por uma transição para gráficos 3D, algumas inclusões questionáveis no elenco e um bom sistema online.
Desenvolvimento: SNK CORPORATION
Distribuição: SNK CORPORATION
Jogadores: 1 (local) e 1-2 (online)
Gênero: Luta
Classificação: 12 anos (drogas lícitas, conteúdo sexual, linguagem imprópria)
Português: Interface e legendas
Plataforma: PC, PS5, PS4, Xbox Series S|X
Duração: 1 hora (campanha)/25 horas (100%)
Bem-vindo a South Town

Na verdade, caracterizar este título como uma sequência direta de Garou: Mark of the Wolves, de 1999, é um pouco mais complicado. Obviamente, a história e os lutadores vêm direto do anterior, mas a SNK tem desenvolvido jogos de várias outras franquias que apontam a direção da empresa para City of the Wolves, tanto visualmente quanto em suas mecânicas.
Visualmente, esse é de longe o melhor título da empresa nos últimos tempos: o estilo de quadrinhos e pop art aplicados aos personagens e efeitos, como os “hit sparks”, fazem com que se destaque de forma única. Obviamente, não chega ao nível de fidelidade gráfica de jogos de luta com grandes orçamentos, mas se sobressai do seu próprio jeito.
Personagens antigos, novos e reais

A escolha do elenco é sempre um ponto interessante dos jogos de luta. Vemos a volta da maioria dos lutadores do título anterior, com notáveis exceções, como Freeman e Kim Jae Hoon. Essas ausências abriram espaço para figuras jogáveis de Fatal Fury anteriores que não estavam em Garou, como Mai Shiranui e Billy, além de novidades como Preecha e Vox. Esses novos combatentes têm ótimos designs que se encaixam muito bem com o estilo pré-estabelecido.
A polêmica nasce na escolha de certos convidados. A SNK optou por incluir celebridades do mundo real no elenco – decisões, no mínimo, discutíveis. Primeiro, foi anunciado o jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que pode parecer uma escolha aleatória, mas até aceitável, dado seu status global. O segundo foi o DJ Salvatore Ganacci, que, embora conhecido, não tem a mesma projeção.

Isso levou os fãs da franquia a questionarem se essas inclusões não estariam tirando espaço de figuras clássicas e queridas. A forma como esses convidados foram implementados também chama atenção: CR7 possui um modelo 3D e animações menos inspiradas do que os demais, além de ter sido lançado sem um modo história ou arcade, parecendo uma adição superficial.
Já Salvatore, embora mais desconhecido, foi implementado com um certo cuidado, trazendo referências aos seus videoclipes e interações maiores com os demais combatentes, o que mudou a percepção desde seu anúncio.
Rev up!

O sistema de luta traz a mecânica REV, bastante similar ao Drive Gauge de Street Fighter 6. Você começa com a barra em 0% e pode usá-la para aumentar o poder dos ataques, cancelar golpes ou se defender melhor. Ao atingir 100%, seu lutador entra em estado de sobrecarga e perde acesso a certos recursos. É uma mecânica bem implementada que favorece criatividade e equilíbrio nos combos.
Outra adição que segue tendências atuais é o esquema de controles Smart Style. Esse modo reduz os botões de ataque normal de quatro para dois, e os dois adicionais são usados para golpes especiais, combinados com direcionais simples, semelhante a Super Smash Bros. e seus combos automáticos. Em tese, ajuda iniciantes que têm dificuldade com comandos tradicionais como quartos de círculo.
Apesar de facilitar, o sistema foi projetado para competir de igual para igual com o modo clássico, sem separação no modo ranqueado online. Testei o Smart Style por algumas horas e achei muito útil, embora minha cabeça ainda esteja muito programada para o Arcade Style.
Todos os modos possíveis de jogar

O modo de história, chamado Episódios de South Town, lembra um RPG no qual você escolhe lutas no mapa da cidade, ganha experiência e sobe de nível, desbloqueando desafios. Conforme se avança, vinhetas de história aparecem para contextualizar melhor os lutadores. É uma tentativa válida e diferente, mas que não me cativou tanto.
Também há o modo arcade tradicional, com lutas em sequência e um pouco de história, o modo prática, e claro, o versus offline. O tutorial ensina bastante, mas não traz nada novo, sendo um pouco limitado. Os combos do modo desafio são úteis para aplicar nas partidas reais.
O modo online tornou-se parte essencial dos jogos de luta na última década, forçando melhorias para todas as desenvolvedoras. A SNK teve problemas no passado, mas fico feliz em dizer que City of the Wolves traz um sistema online bem sólido: em várias horas de jogo, tive poucos problemas, e apenas em conexões já sinalizadas como instáveis pelo jogo. Não senti nenhuma queda de desempenho significativa, e os rollbacks foram limitados e com ping aceitável.

O sistema de ranqueamento é eficiente e encontra adversários rapidamente. Para subir, é preciso vencer batalhas e acumular pontos, enfrentando rivais mais habilidosos com o tempo. No entanto, os pontos não variam por personagem usado, o que prejudica quem quer testar novos sem comprometer o ranking. Seria interessante se os pontos fossem individualizados por lutador.
Lendas nunca morrem
Fatal Fury: City of the Wolves é uma excelente evolução do trabalho recente da SNK e se consolida como seu melhor jogo de luta moderno. Embora não tenha gráficos de altíssimo nível nem um modo história profundo que poderiam atrair novos jogadores, oferece, para fãs do gênero, um sistema refinado, online competente e um elenco bem variado — um prato cheio.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro