Criado pelos poloneses da One More Level, Ghostrunner 2 traz mais da ação alucinante e do hack ‘n’ slash frenético do primeiro jogo da série. Só que dessa vez, o game chega com algumas fases maçantes e diversos problemas que afetam a experiência negativamente.
Desenvolvimento: One More Level
Distribuição: 505 Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Plataforma
Classificação: 18 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X/S
Duração: 12 horas (campanha)
Frio e calculista
A aventura põe o jogador na pele de Jack, um cyber ninja equipado com uma katana que precisa evitar o surgimento de novas ameaças em Dharma, uma região que virou o último refúgio da humanidade depois de uma grande catástrofe. A trama tem uma fórmula cyberpunk e se desenrola em um mundo futurista e distópico. Toda a sátira pouco sútil às grandes corporações, o orientalismo de sempre e claro, muita música eletrônica no estilo synthwave estão presentes no universo do game.
Ghostrunner 2 é, essencialmente, um jogo de memória, paciência e precisão. É necessário descobrir a linha ideal das fases e executá-las perfeitamente para avançar na campanha. O problema é que Jack não pode sofrer danos, precisando reiniciar suas tentativas até cumprir o objetivo da vez sem cometer erros. Morrer a cada golpe ou queda soa difícil, mas os salvamentos são tão frequentes a ponto desse aspecto não se tornar em algo punitivo em nenhum momento da gameplay. O ritmo é até legal, mas ele é quebrado ocasionalmente por lutas sadomasoquistas e missões com objetos e inimigos que não respondem bem às mecânicas do personagem principal. Esses fatores fazem com que certas tarefas sejam levemente frustrantes.
Trama chata
Diversos eventos e personagens do primeiro jogo da série são mencionados na trama. Felizmente, ter jogado o título de 2020 não é um requisito para conseguir prestigiar Ghostrunner 2 com tranquilidade, pois há uma opção que recapitula os acontecimentos que levam até essa continuação. Entretanto, a narrativa é, de longe, o ponto menos interessante do game. Ela só atrapalha o andamento da aventura, seja por meio das conversas altamente expositórias entre as fases ou através dos diálogos constantes no decorrer da ação propriamente dita.
Além de um foco na construção do mundo, Ghostrunner 2 tem como novidade um mapa aberto, juntamente com uma moto, que pode ser usada em fases ainda mais eletrizantes. Os desenvolvedores também introduziram um modo chamado Roguerunner. O modo, que é desbloqueado em uma função no menu principal na medida que a história avança, apresenta desafios especiais em um cibervácuo, no estilo dos roguelikes. É uma excelente maneira de ampliar a longevidade do título, cuja duração depende exatamente das capacidades individuais de cada jogador.
Difícil e literalmente enjoativo
As configurações de acessibilidade permitem apenas a ativação de assistências para saltos e combate. A câmera em primeira pessoa tem muitos movimentos, afinal, o jogo é extremamente focado na movimentação veloz de Jack. Só que isso, combinado com a taxa de quadros inconsistente, pode acabar sendo um problema sério para aqueles que costumam sofrer enjoo com jogos em primeira pessoa, já que não existem configurações suficientes para mitigar essa questão.
A experiência poderia ser um pouco mais maleável em relação ao seu desafio, porque essa sequência introduz um sistema de estamina para Jack. A barra limita abordagens mais cadenciadas, pois ela é consumida em cada ação defensiva. Porém, é possível facilitar a jogatina ao aprimorar as habilidades do protagonista. Para isso, é vital progredir na campanha, coletar itens escondidos nos mapas e obter a maior quantidade de pontos nas batalhas, que tem um multiplicador de combos que recompensa a habilidade e brutalidade de Jack. O senso de progressão é satisfatório, mas o ideal seria ter o personagem em sua forma mais poderosa disponível desde o princípio da aventura.
Performance ruim
A jogabilidade rápida e meticulosa demanda um desempenho perfeito para acompanhá-la. Contudo, essa performance não é oferecida pelo jogo, que tem uma versão para computadores que durante a jogatina sofre com travamentos, quedas na taxa de frames e bugs nos áudios. Esse problema prejudica a experiência e leva a reinícios por razões que certamente não são culpa de quem está jogando – especialmente em momentos-chave da campanha.
Isso é lamentável, porque a direção de arte é ótima, apesar de existirem alguns defeitos que danificam diretamente sua qualidade, como a distância de renderização baixa do cenário e texturas com uma definição ruim. As fases e o mapa aberto são espetaculares, mas a base e os momentos de conversa são visualmente feios. As conversas possuem animações faciais estáticas e uma iluminação que não favorece os modelos dos personagens. É uma pena que essa continuação não tenha sido lançada no mesmo estado do título de 2020, que impressionava por sua otimização e ausência de erros técnicos.
Legal, mas precisa de opções a mais
Ghostrunner 2 é uma sequência interessante, apesar de problemática. O jogo tem um desempenho pífio e uma narrativa entediante, além de confrontos chatos e algumas fases que possuem mecânicas de plataforma que não funcionam adequadamente. Mas, ao mesmo tempo, o título também apresenta boas melhorias em sua jogabilidade e em seu design de níveis, que juntos propiciam uma experiência verdadeiramente eletrizante.
No entanto, o título comete um erro grave ao não oferecer uma variedade de opções relacionadas à dificuldade e, principalmente, no que diz respeito à acessibilidade. Resta apenas a esperança de que a equipe de desenvolvimento eventualmente resolva esses problemas, que, infelizmente, acabam prejudicando a experiência e o potencial do que poderia ser um ótimo jogo de PC.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno