Ninja Gaiden Master Collection Capa

Review Ninja Gaiden Master Collection (Xbox One) – Um remaster fiel até demais

Sendo alguém que jogou recentemente os 3 Ninja Gaiden originais depois de muito tempo apenas vendo-os de longe, fiquei extremamente empolgado quando anunciaram que a trilogia chegaria como Ninja Gaiden Master Collection. As três aventuras de Ryu Hayabusa foram remasterizadas em um mesmo pacote, podendo ser baixados separadamente – ao menos no Xbox -, com 60 fps cravados em todos, resolução até 4K, interface de usuário alterada e novas opções de dificuldade – felizmente. Será que Ninja Gaiden Sigma, Ninja Gaiden Sigma 2 e Ninja Gaiden 3 Razor’s Edge ainda fazem bonito nos dias atuais?

Desenvolvimento: Koei Tecmo
Distribuição: Koei Tecmo
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, Xbox One, Switch, PC
Duração: 27 horas (campanha)

Ninja Gaiden, o queridinho

Ryu Hayabusa

O primeiro Ninja Gaiden, de longe, é o mais difícil de todos os três por causa do game design praticado na época; porém, é altamente recompensador. Ninja Gaiden Sigma, uma versão criada com o PS3 em mente (na época), mostra o início da história de Ryu Hayabusa, cenas de destruição de seu vilarejo e um vilão que precisa ser perseguido e destruído. Ninja Gaiden não tem um grande compromisso com enredo, isso graças à sua jogabilidade excelente que dispensa qualquer história bem construída. Os controles são bem arcaicos e muitas vezes imprecisos, além de que andar nas paredes, controlar o salto e brigar contra a câmera ainda são desafios frequentes.

Combos por aqui são curtos e breves e não existem opções tão variadas de golpes e ataques secundários. Ryu pode equipar armas especiais primárias encontradas em cenários específicos do jogo, como uma lâmina dupla, e armas de apoio, como shurikens, bombas de fumaça e flechas para serem atiradas usando um arco. Adicionalmente, podemos utilizar Ninpos, que são habilidades poderosas que eliminam inimigos e restauram a barra de saúde. A gameplay possui um equilíbrio excelente entre momentos de combate e exploração, com obtenção de itens que permitem avançar e um grupo de inimigos para eliminar aqui e ali.

Mapa

A progressão exige backtracking em certos trechos, mas felizmente existe o mapa de todos os locais – encontrados como itens no cenário -, para que possamos nos localizar melhor. Nele, o objetivo também fica apontado em uma cor destacada, então ficar perdido não é uma opção. Muitas vezes é necessário encontrar chaves e cartões de identidade para liberar portas comuns e fechaduras eletrônicas, diversificando bastante a jogabilidade.

Se você, assim como eu, for alguém acostumado a salvamentos automáticos, pode ir se preparando para passar raiva. Além de não contar com essa função, Ninja Gaiden Sigma possui estátuas de salvamento bem longe umas das outras, sendo um verdadeiro parto guardar seu progresso entre um combate e outro. Muitas vezes também não há pontos de save antes de uma luta contra chefe, e para piorar pode até existir um grupo de inimigos que são enfrentados antes, o que resulta em um game over frustrante lançando o jogador para vários minutos antes de uma importante batalha.

Combate Ninja Gaiden Sigma

Se já tiver passado tempo suficiente na campanha, é possível também se arriscar no Ninja Trials. Esse modo nada mais é do que desafios disponíveis ambientados em vários cenários ou etapa do jogo, compostos por objetivos como “destrua 75 inimigos”, “destrua o chefe X”, “elimine 5 desses inimigos em apenas 3 minutos” e coisas do gênero. Além do mais, também podemos escolher diferentes roupas habilitadas nos personagens selecionáveis existentes.

A versão Sigma, diferente da Black que fora lançada para o primeiro Xbox, traz algumas mudanças significativas como a disponibilização do Hero Mode, uma dificuldade que bloqueia golpes automaticamente quando sua vida está baixa e permite utilização infinitas de Ninpos; e a possibilidade de consumir itens de cura e afins através do d-pad, em vez de exigir que o jogador acesse o menu de pausa para tal, como Ninja Gaiden Black faz. Contudo, algumas alterações questionáveis existem nessa versão, como a adição de trechos em que jogamos com Rachel, uma personagem com jogabilidade diferente – e mais cadenciada – de Ryu, e a remoção de alguns puzzles.

Ninja Gaiden Sigma 2, um jogo veloz e brutal

Violência censurada em Ninja Gaiden Sigma 2
Violência censurada em Ninja Gaiden Sigma 2

Ninja Gaiden Sigma 2, como esperado de um produto originalmente da geração Xbox 360 e PS3, é bem mais bonito do que seu antecessor, sem mencionar que a velocidade da jogabilidade é incrivelmente mais rápida. Além do mais, Ryu adquire diversos pergaminhos de combos altamente insanos contra demônios e habilidades agressivas logo na primeira hora de jogo, o que torna as coisas bem mais interessantes. Nesta sequência, iniciamos em Tokyo, mas precisamos voltar ao vilarejo Hayabusa e impedi-lo de ser invadido e destruído por um vilão. Novamente, quem liga pra história quando se tem demônios e ninjas para combater?

Menus com itens, armas e habilidades são agora todos acessíveis facilmente através do d-pad do controle sem exigir pausar o game, trazendo tudo de forma rápida e fácil de ser trocado em um menu no canto inferior esquerdo. Ao gerenciar seus itens neste pequeno menu, a ação é congelada para permitir a troca de sua arma principal, habilidade atualmente equipada e o uso de qualquer item consumível, como ervas de cura. Pontos de save em Ninja Gaiden Sigma 2 são bem mais presentes do que no primeiro, em que o progresso resultava em uma dor de cabeça quando perdido.

Tag Missions

Apesar de ser mais linear do que seu antecessor, o segundo jogo ainda faz bonito, contendo trechos com elementos de plataforma, uma exploração leve e itens ainda existentes pelos cenários. Upgrades também se fazem presentes, liberando novos combos para nossas armas primárias, sem contar que recebemos habilidades novas através de pergaminhos encontrados por aí.

Ao finalizar cada fase, os modos Ninja Challenge e Ninja Race são liberados, além de habilitar as armas coletadas em missão para serem usadas no modo Tag Mission do menu. O Ninja Challenge é o clássico modo ambientado em fases da campanha, contendo desafios específicos para cumprirmos. Já o Ninja Race são corridas entre checkpoints de cenários selecionáveis, em que inimigos surgem o tempo todo no caminho atrapalhando seu progresso, mas adicionando mais tempo ao relógio quando derrotados. Tag Mission, por fim, é um modo com potencial bastante desperdiçado, em que jogamos junto com outro personagem nos auxiliando, porém, este controlado pela inteligência artificial sem possibilitar um segundo jogador humano.

Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge, a decadência da trilogia

Vários quick-time-events irritantes em Ninja Gaiden 3
Vários quick-time-events irritantes em Ninja Gaiden 3

Se você sempre ouviu falar que Ninja Gaiden 3 é a ovelha negra da trilogia 3D de Ninja Gaiden e nunca entendeu o porquê, explico em uma frase: esmagamento de botão e progressão linear. O terceiro game falhou miseravelmente ao tentar trazer um aspecto mais cinematográfico para a franquia, além de que o produtor dos dois títulos antecessores, Tomonobu Itagaki, havia saído da Tecmo na época. Com isso, é muito comum vermos momentos constantes que tentam trazer um ar de “significância espalhafatosa” para o que está acontecendo na tela, com quick-time-events irritantes e imprevisíveis, trechos lineares que exigem apenas andar para frente e escaladas com adagas desnecessárias e mal feitas.

O enredo também busca ser mais profundo em Ninja Gaiden 3, mas apresenta personagens repentinamente sem muita explicação e vilões ridículos, fora que insere um aspecto de paternidade bastante forçado em Ryu e diálogos bem pobres. Aqui, o protagonista acaba tendo seu braço amaldiçoado com todos os “assassinatos” que cometeu até então, sentindo a dor dos inimigos que eliminou, o que resulta em quebras de ritmos constantes na jogabilidade para tentar trazer um questionamento sobre as atitudes de Hayabusa.

Escalada desnecessária

Sua progressão se torna mais linear do que nunca, basicamente alternando entre momentos de combate extremamente repetitivo e cenários que apenas exigem escorregamos por baixo de passagens rasteiras e escalar, novamente, paredes e superfícies diversas com nossas adagas pressionando RT e LT até chegar ao topo. Não existe mais o backtracking, exploração e nem itens chave para abrir portas e afins, mas apenas mecânicas de “esmaga botão” incessantes com o cérebro completamente desligado, para depois realizar upgrades em suas habilidades no menu respectivo.

A cada cinco metros – ou até menos – que andamos após encerrar um conflito, mais um grupo bem chato de inimigos surge. A ideia é sempre a mesma: destrua aqueles que atacam com projéteis primeiro para, depois, dar conta dos personagens mais próximos. A sensação é que os inimigos não param de surgir o tempo todo, impedindo-nos de saber quando a frustração irá acabar. A variedade de inimigos também é extremamente repetitiva, sendo, normalmente, um grupo composto por militares com lança-foguetes, metralhadoras, facas e até mesmo uma espécie de mago bizarro com um design terrível. Demônios também estão presentes, mas não é sempre.

Combate é o que sobra de bom, e olha lá
Combate é o que sobra de bom, e olha lá

Batalhas contra chefes raramente possuem alguma qualidade, pois algumas até exigem um pouco de estratégia que conseguem cativar. Um exemplo é o primeiro chefe do game, uma espécie de aranha-tanque que exige que cortemos suas patas mecânicas antes de partir para o núcleo e atacá-lo. Já a maioria requer mais esmagamento de botões e quick-time-events que não param de chegar, com um pouco de defesa e esquiva.

Por fim, existem os modos Trials e Challenges, com tudo aquilo que já vimos nos títulos anteriores. As três ninjas mulheres com aspectos avantajados e pulsantes também marcam presença no terceiro Ninja Gaiden da franquia, e podemos jogar com Ayane, Rachel ou Momiji.

Quase a mesma coisa que já conhecemos

Personagens secundários

A coletânea, de forma geral, é um belo conjunto de dois excelentes games e um que deixa bastante a desejar. Como um admirador da franquia 3D, fico contente que os três Ninja Gaiden agora podem ser jogados com recursos modernos por potenciais fãs e amantes de longa data de Ryu Hayabusa. Porém, verdade seja dita: pouca coisa foi mexida de forma geral. É verdade que Ninja Gaiden Sigma foi o mais beneficiado pelo remaster, já que inclui conquistas – a versão Black de Xbox não possui – e uma interface levemente melhorada. Porém, existem os capítulos com Rachel que são adições desnecessárias e a remoção de puzzles. Teria sido mais bacana podemos escolher entre a versão Black e Sigma, assim escolheríamos aquele que mais nos agrada.

Ninja Gaiden Sigma 2 é uma versão com censura, e perdeu totalmente seu gore e aspecto sanguinário que possuía na versão original, trocando sangue por uma espécie de pó roxo que evapora de membros decapitados de inimigos. Isso é uma grande decepção, já que sequer temos a opção de habilitar novamente o sangue, e poderiam ter resolvido isso facilmente mantendo o modo sem gore como padrão para evitar polêmicas, ou até mesmo permitir ativar isso com um código qualquer. O modo Tag Missions também poderia ter recebido modificações para jogarmos em duas pessoas, mas continua a mesma coisa.

Não existem opções de filtros visuais para remover um pouco a quantidade de “brilho” exagerado que os personagens e cenários possuem, algo que era bastante comum na geração Xbox 360 e PS3, mas que Ninja Gaiden Black – de Xbox -, por exemplo, ameniza com gráficos mais neutralizados e cinzas. O HDR também está ausente, resultando em ambientes bem escuros e sem aproveitamento dos pontos de luminância. Já Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge, por si só, é um jogo bem mediano – e até mesmo ruim. O modo online também foi cortado e sequer tentaram trazê-lo novamente de forma modificada.

Um pacote com poucas mudanças, que merecia bem mais

Como o título desta seção deixa bem claro, Ninja Gaiden Master Collection não possui tantas justificativas para ser chamado de remaster. É bem bacana a oportunidade que pessoas que nunca conheceram os títulos 3D originais agora tem de finalmente pôr as mãos em um pedaço importante da história de Ryu Hayabusa, principalmente em um console concorrente como o Switch, que nunca recebeu nenhum game da trilogia anteriormente. Porém, o preço cobrado e o trabalho de atualização existente aqui é um tanto quanto controverso.

Ninja Gaiden Master Collection está saindo por USD 39,99, convertidos para R$ 147,45 no Brasil, uma excelente conversão de valores considerando que o dólar está atualmente acima dos R$ 5,00. Mesmo assim, é possível adquirir os três Ninja Gaiden individualmente em suas versões originais, já que todos fazem parte do programa de retrocompatibilidade da Microsoft. A questão é que os três games custam absurdamente caros, mas dois deles já foram dados no Games With Gold, então você tem a opção de aguardar para saber se ambos voltarão ao programa em breve, já que alguns títulos são concedidos mais de uma vez aos assinantes do serviço.

Por fim, se você é muito fã e quer jogar os três Ninja Gaiden com os recursos mais atuais possíveis, 60 fps e 4K de resolução, eu diria que Ninja Gaiden Master Collection é uma compra certa. Mas não vá esperando grandes mudanças, pois a coletânea é praticamente aquilo que você já conhece.

Cópia de Xbox One cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Ninja Gaiden Master Collection

6.5

Nota final

6.5/10

Prós

  • Jogabilidade continua excelente
  • Versões Sigma tem melhorias bacanas
  • Conquistas para o primeiro Ninja Gaiden
  • Modo fácil (Hero) para jogadores novatos

Contras

  • Mudanças praticamente nulas
  • Podiam ter incluído Ninja Gaiden Black também
  • Tag Missions poderiam incluir um co-op
  • Online de Ninja Gaiden 3 cortado
  • Ninja Gaiden 3 é um jogo bem questionável