Going Under capa

Review Going Under (Switch) – Um roguelite completamente acessível

Já perdi a conta de quantos Roguelite já analisei nos últimos meses. Este subgênero simplesmente vem invadindo o mercado de games num nível absurdo, e acredito fortemente que seja por conta da “facilidade” em criar fases geradas de forma procedural. Um do qual gostei muito e que foi lançado recentemente se chama West of Dead – veja sua análise aqui -, da Upstream Arcade. Os visuais são lindos, a jogabilidade é muito bacana, mas o Roguelite pegou pesado comigo.

Porém, Going Under, apesar de chegar com uma proposta batida desta fórmula punitiva, mas acerta em cheio ao oferecer opções para que até mesmo pessoas menos habilidosas ou casuais possam se divertir.

Desenvolvimento: Aggro Crab Games
Edição: Team17
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PS4, PC, Switch e Xbox One
Duração18h (100%)

Ambiente do século 21

A protagonista da história se chama Jaqueline, mas pode a chamar de Jackie. A jovem está iniciando seu primeiro dia de estágio de marketing numa empresa de bebidas chamada Fizzle – porém, comandada por uma empresa “mãe” chamada Cubicle -, cujos produtos são bastante famosos na cidade de Neo-Cascadia. Com uma grande injeção de ânimo para começar seus afazeres, logo tudo vai por água abaixo no dia de Jackie quando o product owner (uma espécie de gerente de produto, para os menos familiares) faz um pedido para que a garota dê um jeito em supostos monstros que estão no subsolo.

Desviando de sua função nos primeiros minutos de seu primeiro expediente, Jackie desce em seu escorregador no estilo startup de ser para desbravar a primeira dungeon, representada aqui por uma empresa chamada Joblin. Como o local ambientado é um espaço de coworking (ambiente profissional onde várias companhias compartilham um lugar), cada dungeon é ilustrada por uma empresa diferente.

Reunião de segunda-feira

O jogo aposta em todo o tempo nos maiores clichês do mundo dos negócios, principalmente do empreendedorismo, seus vários jargões e trejeitos. Apesar de ser uma cultura bastante difundida no mundo de tecnologia de hoje, provavelmente apenas pessoas já imersas no mundo das empresas deste gênero se identificarão com o tema apresentado em Going Under. Felizmente esse é o meu caso, por isso consegui tirar um grande proveito das brincadeiras e piadas de situações que o jogo satiriza. Desde o gerente que insiste que os funcionários são como uma família, até a venda da empresa para uma companhia maior.

O Roguelite acessível

Apesar de ser um tema bastante específico, Going Under consegue se fazer entender para qualquer um que tenha contato com ele. Elementos comuns do estilo Roguelite estão presentes por todas as partes. Após vitórias ou até mesmo derrotas de Jackie contra um chefe de dungeon, representado aqui por um CEO malvadão, novas destas dungeons são liberadas com uma apresentação de uma cutscene que dá andamento na história, e uma relíquia é coletada para ser posta na fonte de bebidas no centro do saguão da Fizzle – o qual funciona como um hub. Supostamente, as relíquias servem para liberar um novo nível de produtividade para todos os funcionários da empresa.

Quebrando tudo

Estruturalmente, todas as fases e dungeons são parecidas, o que diferencia são os temas propostas de acordo com cada empresa representada: Joblin, uma startup comum; Winkydinky, um app de namoros; Styx, uma companhia de criptomoedas. A personagem começa sempre numa sala após descer o escorregador, passa para uma próxima, derrota inimigos, avança, derrota mais inimigos, avança, e assim por diante. Isso se repete até chegar à sala final com um outro escorregador, o qual dá acesso ao próximo andar.

A jogabilidade se mantém constante até a sala do chefe da dungeon, onde é necessário fazer um melhor uso de esquivas e ataques ágeis. Tudo pode ser usado como uma arma, desde um grampeador, teclado, monitor vertical até um tridente de diabinho e um lápis gigante. Às vezes, infelizmente, isso pode gerar uma bagunça visual, e distrair a visão de quem está jogando. Porém, é a consequência da adição da física em quase todos os objetos.

Mentores

O segredo do sucesso está no caminho até estes CEOs/chefes. Durante o percurso existem salinhas menores que oferecem a escolha de uma entre duas habilidades, as quais podem ser adquiridas novas no hub (com dinheiro do jogo) para surgirem dentro das dungeons. Estas habilidades são temporárias e podem ser melhoradas de acordo com a quantidade de vezes que forem utilizadas nas fases. Além disso, sempre encontramos uma lojinha que vende itens de cura, como leite ou torrada de abacate, e até mesmo armas mais incomuns para serem usadas contra inimigos.

Fazendo uso mais uma vez do tema tecnológico, Jackie consegue encontrar aplicativos nas salas que servem como consumíveis. Estes apps são usados como invocações de inimigos, veículos, aumento de velocidade, entre outros efeitos positivos. Como era de se esperar, todos fazem sátira de algum app existente como WhatsApp, Tinder e afins. Existem salas também de um personagem vampiresco, onde a protagonista pode receber uma tarefa que é acompanhada de uma maldição que concede efeitos negativos à personagem, mas dão uma boa e generosa recompensa quando cumprida.

Mais um dia, mais uma dungeon

Mais uma vez no saguão da Fizzle, é possível adquirir melhorias como a alocação de dois apps simultâneos no smartphone de Jackie, receber missões dos companheiros de trabalho e até mesmo escolher algum deles como seu mentor. Este último concede diferenciais que ajudam no gameplay, como o bartender da empresa que consegue pegar itens aleatórios da loja nas dungeons de uma forma totalmente “grátis”.

Pontos digno de elogio

Indo na contramão da maioria dos Roguelites, ao mesmo tempo que faz algo que deveria ser óbvio para o gênero, Going Under oferece uma vasta quantidade de opções de acessibilidade. Entre elas temos, por exemplo, uma resistência maior para as armas, quantidade grande e adicional de saúde, etc.

Coisas como essa são essenciais para um jogo que escolhe o estilo de gameplay Rogue, seja ele Roguelite ou o assustador Roguelike. Caso contrário, existe uma chance enorme de uma segmentação do público e poucas pessoas conseguem ter uma experiência agradável com o produto.

O saguão

Confesso que jogando com as facilidades que o jogo oferece, pude desfrutar muito mais da história sem ter as frustrações e punições excessivas que assombram o gênero. Ao mesmo tempo que percebi o quão curto é o enredo de um jogo desse estilo quando você deixa a dificuldade de lado, talvez por isso muitos games menores vem apelando pra fases geradas proceduralmente para aumentar a longevidade.

Indicado para todos

CEO que nada na grana

Going Under é um excelente jogo que soube executar bem suas mecânicas, abordar o tema de uma forma engraçada e, principalmente, se tornar acessível para todos os públicos. Com todas as facilidades ativadas, Going Under pode facilmente ser encarado como um dungeon crawler ou beat ’em up 3D.

Particularmente, a equipe responsável pelo desenvolvimento merece meus parabéns, e acho que todo game deveria pensar em dar tantas opções para aqueles que tem uma dificuldade maior com este formato de jogabilidade. Se isso acontecesse com mais frequência, o Roguelite não seria tão mal visto nos últimos tempos.

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Going Under

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Tema bem abordado
  • Jogabilidade de fácil aprendizado
  • Sátiras bem representadas
  • Missões secundárias
  • Muitas opções de acessibilidade

Contras

  • Longevidade se apoia na punição
  • Não existe tanta variação
  • Fases estruturalmente iguais