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Review Infliction: Extended Cut (PS4) – O monstro que habita em nós

O horror bate à porta neste indie de terror psicológico enquanto exploramos uma casa assombrada por espíritos malignos e tentamos descobrir o que aconteceu às pessoas que moravam ali.

Desenvolvimento: Caustic Reality
Edição: Blowfish Studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror, Aventura
Classificação indicativa: 14 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, Xbox One , PC e Switch
Duração: 3 horas (campanha)

pintura no corredor amedrontador

Terror em casa

Inicialmente publicado em 2018 para PC, Infliction: Extended Cut traz uma versão melhorada e com conteúdo extra para os consoles.Desenvolvido pela Caustic Reality e publicado pela Blowfish Studios, o jogo nos coloca na pele de Gary, aparentemente um marido suburbano comum, que a caminho de casa ouve um recado de sua esposa, Sarah, pedindo que ele pegue a passagem que ela esqueceu em casa e a entregue no aeroporto.

Em primeira pessoa, passamos a explorar a casa de Gary e Sarah em um curto prólogo que serve para o jogador se familiarizar com os diversos ambientes que compõem a casa – algo que será de extrema importância durante todo o jogo, ao mesmo tempo em que nos permite vislumbrar a dinâmica do convívio familiar através de memórias que são ativadas por diversos itens espalhados pelos cômodos do local.

calendário de 1990 na parede do quarto

Após o fim dramático do prólogo, a narrativa principal do jogo se apresenta, na qual Gary se vê preso em uma versão claramente assombrada da sua própria casa e perseguido por um espírito vingativo que ataca incessantemente qualquer um que perambule por lá.

Infliction: Extended Cut traz claras influências do icônico P.T, principalmente pela mecânica de loop, a qual faz com que o jogador explore a casa em diferentes épocas à medida que a narrativa prossegue, até mesmo em outras dimensões. 

Abandonem toda a esperança

Infliction: Extended Cut fala de temas pesados. Os diários e memórias de Sarah cobrem treze anos de história da família, e logo percebemos as rachaduras na fachada de família perfeita.

Alcoolismo, depressão pós parto e violência doméstica são temas abordados ao longo do jogo, que vão se costurando de maneira exemplar às missões e mostrando que os relacionamentos humanos podem se transformar em verdadeiros filmes de terror,  e nossos demônios interiores são muito mais assustadores que qualquer monstro do nosso imaginário.

pintura autobiográfica de Sarah

Além do já citado P.T, Infliction: Extended Cut também bebe na fonte de Layers of Fear. Espalhados por todo o cenário, vemos pinturas produzidas por Sarah que refletem os diferentes acontecimentos em sua vida e também são indicadores da deterioração da sanidade de Sara e Gary – um dos momentos mais assustadores do jogo ocorre ao sermos sugados para uma pintura.

A estrutura de gameplay é bastante linear. Dividido em capítulos, cada qual  um objetivo principal a ser completado através de muita exploração e resolução de alguns puzzles simples mas bem executados em sua maioria. A exploração se torna muito mais interessante quando o protagonista passa a portar uma câmera instantânea polaroid – além da fiel lanterna que o acompanha desde o início do jogo.

corredor do asilo na realidade paralela

A câmera oferece uma nova maneira de explorar o ambiente à volta, pois revela alguns segredos ou instruções para resolver algum puzzle – dica, tem um troféu muito interessante a ser obtido com algumas fotografias específicas. Portanto, é recomendado que o jogador tire foto de tudo o que puder ao seu redor sem se preocupar em obter recursos: a câmera vem com filme infinito.

Em alguns momentos demorei mais do que pretendia para conseguir avançar no jogo, pois não sabia exatamente o que devia fazer ou onde ir. Além de uma dica no menu de objetivos, o jogo não me fornecia nenhuma outra pista. Foram várias tentativas e sucessivas mortes até eu finalmente chegar ao lugar correto. 

Aos desavisados de plantão, serei o arauto de más notícias: o personagem irá morrer. Incontáveis vezes. Algumas dessas mortes são “scriptadas” e não há nada que se possa fazer para evitá-las. Não existe combate no jogo. Sua tarefa é tentar estar sempre um passo à frente de sua implacável perseguidora e, quando isso não for possível, se esconder e evitar ser visto a todo custo.

aparição da entidade

O protagonista pode se esconder embaixo de camas, dentro de armários e se abaixar atrás de alguns móveis. Tirar uma foto da entidade quando ela estiver prestes a atacar às vezes dá certo, mas eu não tive muita sorte em aperfeiçoar o timing exato e o destino do protagonista foi sempre a morte certa.

Apesar dos muitos jumpscares, o jogo não te deixa completamente desavisado da proximidade do inimigo. Indicadores sonoros e visuais servem de alerta para o jogador tentar terminar a busca no cômodo o mais rápido possível e evitar voltar para o último checkpoint.

entidade na televisão

Sozinho no Escuro

O sistema de salvamento automático e checkpoints sem nenhuma forma de controle manual pelo jogador não é dos meus favoritos. Em geral, ele funciona de maneira satisfatória, mas não ter a possibilidade de salvar até completar um objetivo pode se tornar bastante frustrante, pois ser pego pela entidade prestes a completar o objetivo faz com que o jogo retorne ao momento em que o objetivo foi atualizado.

A ambientação de Infliction:Extended Cut é impecável. Durante grande parte do gameplay só podemos ouvir os passos do protagonista se deslocando pela casa, e o silêncio ajuda muito a manter a sensação de opressão e total isolamento. Ouvir o alto toque do telefone após minutos de completo silêncio assusta tanto quanto entrar em um cômodo e dar de cara com a entidade, e os jumpscares são sempre bem executados e costumam ocorrer quando menos se espera.

filmes de terror clássico dos anos 80

Outro ponto que me agradou muito foram as diversas referências a grandes obras do terror psicológico. Seja nas capas das fitas em VHS de filmes fictícios de horror, ou como pôsteres pendurados na parede. As referências a obras como O Chamado e a Hora do Pesadelo, além de séries características dos anos 90, como Arquivo X, fazem maravilhas pela imersão.

Somos nosso pior pesadelo

A direção de arte apresenta um excelente trabalho nos diferentes cenários do jogo e especialmente nas obras de arte penduradas pelos corredores. Já os modelos de personagem, especialmente da antagonista, destoam do conjunto da obra, parecendo saídos diretamente do PS3.

O contéudo adicional que justifica o nome de edição estendida é constituído de algumas cenas adicionais na sequência final do enredo e uma galeria de arte com todas as incríveis pinturas que aparecem ao longo do jogo, modelos de personagens e um projetor no qual podemos ver cenas deletadas e um final alternativo. Para aqueles que se interessam pelos bastidores do processo criativo, é um excelente conteúdo.

galeria de arte- material adicional

Infliction: Extended Cut usa elementos do sobrenatural para tratar de horrores e sofrimentos intrinsecamente humanos. Testemunhar os infortúnios que assolaram os Prout ao longo dos anos e a cadeia de eventos que culminam em uma tragédia permitem que acompanhemos as lutas dos personagens contra seus próprios demônios. Um ótimo jogo que traz horrores com os quais todos podemos nos identificar.

Esta review foi feita com uma cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming

Infliction: Extended Cut

8

Nota Final

8.0/10

Prós

  • Ambientação bastante competente
  • Narrativa muito bem executada
  • Excelente trabalho de dublagem
  • Direção de arte impecável
  • Bom uso da câmera na exploração

Contras

  • Saves automáticos e checkpoints apresentam falhas
  • Modelos dos personagens destoam da qualidade visual do jogo
  • Falta de contexto nos objetivos pode confundir o jogador