Se um filme de terror antigo existe, as possibilidades dele ser transformado em um jogo online estão cada dia mais altas. Isso aconteceu com Evil Dead, com Sexta-Feira 13, O Massacre da Serra Elétrica, e agora é a vez dos Palhaços Assassinos do Espaço Sideral. Killer Klowns from Outer Space: The Game é a mais nova empreitada da IllFonic, a desenvolvedora por trás de obras como Predator: Hunting Grounds e Ghostbusters: Spirits Unleashed. Baseado no filme lançado em 1988, o título coloca até 10 pessoas no mesmo jogo de gato e rato de sempre, mas com uma jogabilidade surpreendentemente diferenciada para o gênero.
Desenvolvimento: IllFonic, Teravision Games
Distribuição: IllFonic Publishing
Jogadores: 2-10 (online)
Gênero: Terror, Ação
Classificação: 18 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: Sem registros
Palhaços contra humanos
Killer Klowns from Outer Space: The Game põe seus jogadores diretamente em partidas que duram até 15 minutos, com equipes aleatórias formadas por três palhaços matadores e sete humanos. No papel de palhaço, é preciso impedir que os sobreviventes escapem, caçando-os e colocando-os em casulos, que devem ser enganchados em geradores. Esses, por sua vez, aumentam a velocidade do Palhaçopocalipse, um fenômeno que explode quem não estiver protegido dele. Os humanos precisam fugir da cidade de Crescent Cove antes que esse evento seja deflagrado, coletando armas no mapa para matar os palhaços e indo em direção às rotas de fuga ou aos bunkers – tudo no absoluto silêncio, claro.
Os palhaços precisam ficar atentos aos sons feitos pelos humanos e impedir que eles fujam, bloqueando as rotas com algodão doce. Cada rota é limitada a um determinado número de pessoas, então a cooperação se torna necessária para que todos evitem tomar um Palhacitality, um ataque especial comicamente sangrento que mata os humanos – uma referência óbvia a Mortal Kombat. Killer Klowns from Outer Space: The Game não se leva a sério em momento algum, e é precisamente isso que faz com que a jogatina seja estranhamente leve e divertida.
Nesse jogo, as vítimas e os assassinos possuem um equilíbrio maior do que o normal para esse gênero, pois ambos lados podem utilizar armas para atacar uns aos outros. Só que ter igualdade não significa que há equidade, já que os palhaços ainda assim são consideravelmente mais lentos do que os humanos – o que é uma parte essencial da fórmula do terror competitivo, porque um lado precisa necessariamente ser mais limitado do que o outro para que a jogabilidade funcione.
Gameplay diferenciada
O problema de Killer Klowns from Outer Space: The Game é que o jogo não se preocupa muito em explicar seu funcionamento. Há apenas breves textos no menu principal com sinopses do que precisa ser feito, sem nenhuma interatividade. O bom é que há uma forma de criar partidas com bots para aprender a jogar sem a pressão de um ambiente multiplayer, e essa é a única maneira de pegar o ritmo das invasões.
Existem várias mecânicas que proporcionam uma experiência dinâmica e que dificilmente se torna repetitiva. Um exemplo é a mecânica de cards, que faz o trabalho em equipe acontecer até depois da morte ou fuga dos humanos. Na hora de ver como os jogadores remanescentes do time estão se saindo, o título coloca pequenos minigames na tela, e o sucesso nesses joguinhos dá cartas que podem entregar itens de cura e ataques aos membros restantes, criando uma jogabilidade engajadora a todo segundo. Para equilibrar a jogatina, os palhaços também contam com habilidades especiais que lhe concedem vantagens, como teletransportes e bônus temporários em seus atributos.
Há um sistema de progressão satisfatório, que distribui pontos de XP por quase todas as ações feitas nas partidas, havendo progresso mesmo em caso de derrota. O nível geral do jogador vai desbloqueando novos arquétipos de personagens, permitindo optar entre builds com mais vitalidade, velocidade ou força. Isso se estende aos palhaços, sendo possível escolher diferentes classes e assumir papeis distintos nas invasões, selecionado caçadores mais ágeis ou um tanque, com mais força, mas uma velocidade menor, por exemplo. Além dos personagens humanos criados do zero, o título inclui skins de Debbie Stone e Mike Tobacco, os protagonistas do filme que inspirou essa grande homenagem a esse clássico bizarro e assustador do cinema trash.
Há problemas
Os responsáveis implementaram um suporte ao crossplay excelente, que unifica toda a base de jogadores entre PC, PlayStation e Xbox com sucesso. No entanto, as salas estão um tanto quanto vazias, pelo menos no servidor nacional. Isso talvez acaba demonstrando que não houve muito interesse da comunidade nesse jogo em específico, provavelmente devido à abundância de filmes que viraram um multiplayer assimétrico.
A conexão aos servidores dos desenvolvedores é necessária até nas partidas com bots, e como o jogo é profundamente inspirado numa propriedade intelectual de terceiros, o título certamente terá uma data de validade – como é o caso de Friday the 13th, que será desativado no fim deste ano, justamente porque os produtores perderam os direitos da franquia.
A apresentação de Killer Klowns from Outer Space: The Game é satisfatória, mas a otimização deixa a desejar. A performance é pesada mesmo com uma distância de renderização baixa, pois os cinco mapas são enormes. As animações durante as partidas são feias e robóticas, com movimentações travadas e pouco fluidas.
Entretanto, os efeitos sonoros são engraçadíssimos e a trilha sonora é sensacional, o que garante uma personalidade ímpar para esse lado do jogo. Só que a tradução em português é péssima, dado que ela está repleta de termos que não foram devidamente localizados e que aparecem em inglês na interface, sendo um aspecto inconsistente do título.
Bom, mas com um futuro duvidoso
Com boas alterações na fórmula típica de um terror assimétrico, Killer Klowns from Outer Space: The Game é uma experiência bastante agradável e carismática. Porém, como todos os títulos desse gênero dependem exclusivamente de uma comunidade moderadamente grande para prosperar, pode ser que esse jogo não tenha uma vida longa, dado a situação do matchmaking já nesse período de lançamento. É uma pena, visto que esse jogo realmente se difere dos padrões do gênero em muitos aspectos diferentes, tendo, acima de tudo, uma gameplay ótima.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno