Bada-bing, bada-boom, bam! Mafia – Definitive Edition está entre nós após um pequeno atraso de, aproximadamente, um mês no lançamento. A espera valeu a pena… até porque o que precisa ser arrumado no jogo levaria bem mais de um mês. O game está disponível avulso e em pacote na trilogia Mafia – essa é a versão analisada nessa review, portanto, há menções aos outros dois jogos, também.
Desenvolvimento: Hangar 13
Distribuição: 2K
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Xbox One, PS4 e PC
Duração: 11h (campanha)/ 22h (100%)
Taxi Driver
Tommy Angelo era um taxista em Lost Heaven (uma cidade fictícia baseada na Chicago real) dos anos 30. Uma noite, ele foi obrigado a dirigir para dois mafiosos em fuga. Coisas acontecem e Tommy acaba por se tornar um homem feito na família criminosa de Don Salieri. A história, contada por ele para um agente da lei em flashbacks e flash forwards, envolve tiros, explosões, corridas de carro, roubos diversos e uma guerra entre famiglias pelo controle do submundo da metrópole.
De longe, a narrativa de Mafia é o maior trunfo do jogo. Quem gosta do gênero em outras mídias irá sentir-se em casa com o trio de mafiosos Tommy, Sam e Paulie. A trilha sonora e o radialista cumprem seu papel de transmitir a atmosfera da Grande Depressão e da Lei Seca, bem como os gráficos do jogo – travados em 30 quadros por segundo – proporcionam uma boa experiência.
Caminhos perigosos
Originalmente, Mafia foi lançado para PC em 2002 e portado para PS2 e Xbox original. Seu remake, feito praticamente do zero, trocou os modelos dos personagens e ampliou partes da história, atualizando a jogabilidade. É um feito digno de nota porque ressuscita um jogo que antes era…
Bom, sejamos honestos: quem já tentou jogar esse game no Playstation 2 sabe que ele é injogável. A movimentação de Tommy naquela versão é bastante característica dos jogos da época (correr de lado), o combate melee das brigas é impraticável, as ruas são pistas de patinação no gelo, Tommy era um idiota que ao recarregar a arma jogava fora parte da munição e a cada tentativa de cruzar uma ponte para chegar à outra parte da cidade, você se depara com uma tela de loading que não cessa mesmo após instalar Mafia em um disco rígido do PS2, sem falar nas quedas de FPS. Finalizar a história de um game nessas condições é heroico.
O jogo oferece muitas opções de jogabilidade: além dos níveis tradicionais, há também o modo “clássico” que recria o sofrimento da versão original do game. Por que alguém iria escolher uma versão que aumenta a dificuldade artificialmente? Não sei. Passei longe disso, porém tampouco recomendo o modo fácil porque é estupidamente fácil.
O jogo tem 53 veículos, inclusive motos, e oferece a possibilidade de direção simulada – um modo bem exigente. Porém, se você quiser diminuir a dificuldade, mas experimentar parcialmente a simulação, basta ajustar o game para câmbio manual. Já a mira e a cobertura seguem o padrão desse tipo de jogo: nada memorável.
Os infiltrados
O jogo não é bem um mundo aberto (como o Mafia III), na medida em que a história evolui em capítulos consecutivos. Mafia é tão focado na narrativa que você pode pular todas as seções de “dirija do ponto A ao ponto B” que não sejam parte da missão, como perseguir um inimigo ou fugir deles.
Nesse aspecto, o game depende muito dos scripts, tanto que tentar atrair os inimigos para emboscadas não funciona. Por sua vez, a polícia abandona as perseguições rapidamente, mas há a opção no menu de mantê-la mais próxima da mecânica do jogo original, isto é, irritante e perseguidora.
Uma coisa que o game não faz é segurar o jogador pela mão, mas por muito pouco. Quando você explora o cenário e se aproxima de itens de interesse como munição, kits de primeiro socorros ou dos inúmeros colecionáveis do jogo (cards e revistas – sem Playboy dessa vez, como em Mafia II), os colecionáveis aparecem no mini-mapa. Se você quiser aumentar a dificuldade, pode desabilitar por completo os elementos na tela do jogo.
Em partes stealth das missões, você só vai ver os inimigos no minimapa quando Tommy avistá-los de corpo inteiro. Essa é uma camada de dificuldade que eu gostei, principalmente porque remete ao tempo em que não existiam as mecânicas de “ouvir” os inimigos com seu “sentido do Batman”. Isso só é quebrado em uma missão em que você “vê” o ícone de inimigos-sentinelas.
A cor do dinheiro
O jogo tem recebido conteúdos adicionais por meio de atualizações, como missões extras de corrida, acessíveis a partir do modo Direção Livre, que seria a “versão mundo aberto” de Mafia.
Essas missões extras têm jogabilidade arcade do tipo “dirija até o ponto X, pegue o veículo Y e leve ao ponto Z sem sofrer dano”. Mafia II também tem missões assim, a diferença é que elas oferecem algum tipo de informação nova a respeito de um personagem importante do jogo. Mas não dá para dizer em nenhum dos dois casos que essas missões são secundárias, não chegam a tanto.
Em relação à jogabilidade, a movimentação dos personagens me pareceu muito estranha e as animações de morte – por exemplo, queimado por um molotov – são precárias, lembrando muito os games da geração passada ou retrasada. O jogo tem gráficos bonitos, bons modelos, boa atuação, mas faltam quadros nas animações. A física do jogo também é um pouco esquisita. Não creio que fosse coisas passíveis de correção apenas com a extensão do adiamento previsto para o lançamento.
Por mais que as versões da Hangar 13 sejam competentes, há um bug de iluminação irritante neste Mafia e no Mafia II em suas versões definitivas. Quando você está em um lugar escuro – túnel, armazém, o que for – e olha para fora, o ofuscamento é gritante. Inclusive, no Mafia II Definitive Edition há também queda brutal na taxa de quadros, a ponto de deixar o game praticamente injogável em alguns momentos, mesmo na versão supostamente mais estável, que é a versão do Xbox One X.
Os bons companheiros ou O Irlandês?
Narrativa impecável, gráficos e trilha sonora competentes, física e animações do game um pouco datadas, mas com poucos bugs considerando-se que há uma pandemia em curso e que esse fator afeta bastante o desenvolvimento de qualquer tipo de trabalho. Apesar dos pontos levantados nessa review, não se engane: Mafia Definitive Edition é um bom jogo.
Se você tiver que escolher, é preferível gastar algumas horas jogando e assistindo a história de Tommy Angelo a assistir O Irlandês, apesar de ambos serem um pouco fantasiosos: qualquer um que tenha um mínimo de familiaridade com o gangsterismo sabe que Tommy não entraria como “homem feito” para a famiglia de Don Salieri daquele jeito. Mas a suspensão de descrença é importante para a fruição de qualquer narrativa, independente do meio.
Apesar de Mafia III ser um jogo fraco, vale a pena adquirir a trilogia completa quando o preço cair – e cairá: já foi anunciado que não haverá atualizações com pacote de melhorias para a próxima geração. Enquanto isso, recomendo que você assista “Os bons companheiros”, o melhor filme de mafiosos que há, baseado em fatos reais, e que foi homenageado em uma missão de Mafia II.
Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One adquirida pela autora
Revisão: Bia Bock
Mafia Definitive Edition
Prós
- Narrativa
- Muitas opções para personalizar a dificuldade
- Trilha sonora de época
- Gráficos
- Participação especial de Vito Scaletta
Contras
- Animações de morte mal trabalhadas
- Movimentação do personagem aos esbarrar no cenário
- Inimigos não são muito inteligentes
- Sem missões secundárias, apenas atividades extras