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Review Minoria (Switch) – Caça às bruxas

Desenvolvido pelo estúdio indie Bombservice – do brasileiro Guilherme “Rdein” Martins – e publicado pela Dangen Entertainment, para PC, no ano passado, Minoria chegou no último dia 10 para Nintendo Switch, PS4 e Xbox One. Tratado como um sucessor espiritual de Momodora, o game é um belíssimo jogo de plataforma 2D, que mistura ação e exploração em cenários formados por labirintos interligados, numa temática com forte inspiração religiosa.

Desenvolvimento: Bombservice
Distribuição: Dangen Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma
Classificação indicativa: 16 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 5.5 horas (campanha)/ 9 horas (100%)

A luta pela paz em Ramezia

Combatendo os hereges.
Combatendo os hereges.

Durante a Idade Média, o imaginário social estava dividido entre a ideia do sagrado e do profano. Trata-se de um momento da História onde a fé, monopolizada pela Igreja Católica, ditava as regras do certo e do errado, do bem e do mal. Tudo girava em torno dessa visão maniqueísta, onde se posicionar contra a instituição era visto como um pecado e seus infratores – julgados num tribunal especial chamado de Santo Ofício – eram perseguidos e mortos como hereges.

Muitas pessoas que dedicavam-se aos saberes místicos, mas fora do que a Igreja considerava correto, eram taxadas de bruxas. Além de ditar as normas morais, a Igreja agia politicamente na sociedade. Em Minoria, somos jogados em um mundo que busca emular as contradições desse período de nossa História. Estamos no fantasioso Reino Sagrado de Ramezia, por volta do século XIII. Aqui política e religião estão misturadas e o mundo envolto num conflito envolvendo o Reino e as bruxas, por conta de uma cerimônia proibida que tenta fazer florescer uma floresta misteriosa que dá nome ao jogo.

No meio desse embate, a princesa do reino é sequestrada. Dessa forma, expedições religiosas foram patrocinadas pelo Reino/Igreja, através do Santo Ofício, numa espécie de Cruzada contra os infiéis. Só que diferente do que vemos nos livros de História, as freiras é que atuam como soldados no combate à heresia das bruxas. Na verdade, um dos grandes destaques do jogo é o protagonismo quase que total da figura feminina. Aqui assumimos o controle da Irmã Semilla, uma noviça cheia de habilidades que, com a ajuda de irmã Fran, tentará trazer paz novamente à Ramezia.

O roteiro do jogo, apesar de tudo aqui exposto, é simples e os diálogos bobos e previsíveis. A riqueza da história, na verdade, se encontra de forma subjetiva na leitura que nós mesmos fazemos do game. Em Minoria sempre somos levados a nos questionar se estamos tomando as decisões corretas. Até porque a noção de bem e mal é relativa. Cabendo, portanto, ao jogador decidir o caminho a seguir.

Belo visual e gameplay fluido

O visual do jogo é muito bonito.
O visual do jogo é muito bonito.

O jogo possui visual simples, mas muito bonito. Os desenvolvedores se afastaram dos gráficos em pixel art de trabalhos anteriores (visto nos jogos da franquia Momodora) e trouxeram uma experiência visual digna de nota. Os traços – pintados a mão e que fazem um belo uso de cel-shading – são suaves e o design dos personagens lembram animações japonesas. Os cenários são bem variados e fazem bom uso de efeitos de luz e sombra. As músicas e efeitos sonoros não são memoráveis, mas cumprem bem o seu papel de nos transportar para o mundo do jogo.

A nossa protagonista utiliza a espada de forma veloz, tornando os combates rápidos e divertidos. Ao longo da nossa jornada, vamos encontrando outras armas que, infelizmente, são pouco variadas, assim como os seus respectivos especiais (temos apenas duas variações). Além de nossa arma, temos incensos mágicos de efeito ativo ou passivo. Os de efeito ativo podem ser usados para recuperar parte de nossa vitalidade ou para desferir algum ataque mágico. Os de efeito passivo atribuem certos status à Semilla, como aumento do poder de ataque, redução de dano, entre outros.

Esses itens podem ser encontrados nos cenários, derrotando certos inimigos ou comprando com um NPC numa biblioteca, acessada por certos portais, usando moedas de prata que vamos coletando. Os incensos de efeito ativo são restaurados toda vez que salvamos o jogo nos inúmeros save points espalhados pelos cenários. Ainda falando sobre as mecânicas do jogo, senti falta de um comando de dash ou de corrida para melhor avançarmos pelos labirintos. No lugar dele temos apenas uma estranha rolagem lateral que é ativada com o mesmo botão que usamos para defletir ataques (parry).

O gameplay é fluido na maior parte do tempo, mas engasga em alguns pontos do jogo que possui muitos elementos em tela. Como nos clássicos Metroidvanias 2D, os cenários constituem grandes labirintos interligados que devemos desbravar. Cada inimigo abatido nos confere pontos de experiência para que possamos subir de nível. Com isso vamos melhorando nossos atributos de ataque, defesa e nossa própria vitalidade (PV). Porém, não contamos com um árvore de habilidades. Dessa forma, vamos adquirindo certos movimentos apenas conforme derrotamos alguns chefões e nada mais além disso. O problema é que algumas dessas habilidades aparecem muito tarde no jogo.

Jogue mais de uma vez

Enfrentando as bruxas.
Enfrentando as bruxas.

O sistema de progressão é muito desbalanceado, só que age ao nosso favor. Certos inimigos concedem pontos elevados de experiência, fazendo com que nossa subida de nível seja rápida demais. Assim, se nos dedicarmos a “farmar” mesmo que de forma tímida por um tempo, logo Semilla estará tão overpower que dificilmente iremos sofrer alguma derrota para qualquer inimigo, até mesmo para os chefões do jogo. Enquanto muitos jogos desse gênero (sem trocadilho com a temática religiosa) pecam pela dificuldade, em Minoria a experiência é fácil demais. A gente consegue passear pela história de forma muito tranquila.

O jogo, para todos os efeitos, é demasiadamente curto. Em menos de seis horas dá para terminar a campanha principal. A falta de desafio mencionado acima e o tempo de duração do jogo podem ser explicados pelas escolhas que podemos fazer durante nossa jornada. Após fecharmos o game, nos é oferecido a opção de começar uma nova campanha. Na verdade, somos encorajados a isso. Durante nossa revisitação podemos tomar outras decisões que criam ramificações com consequências diferentes na história. Como disse na introdução à história do game, a noção de bem e mal é relativa.

Outro problema no jogo é o mapa. Em Metroidvanias, a utilização desse recurso é essencial para avançar na história e descobrir áreas até então inacessíveis, já que certos locais só são possíveis de explorar após adquirirmos certa habilidade. Porém, em Minoria o mapa é simples demais. Não podemos colocar marcadores e nem temos um percentual de área concluída, por exemplo. As únicas informações precisas que ele nos dá é a localização dos pontos de save e de nossa personagem.

Vale a pena?

O jogo irá te prender por um tempo.
O jogo irá te prender por um tempo.

Apesar de alguns problemas – como a falta de desafio e a curta duração – Minoria nos ganha pela experiência de gameplay. Avançar no jogo é algo prazeroso e que, certamente, irá te prender por um tempo. O visual e a ambientação também são pontos a se destacar, assim como a escolha da equipe de desenvolvedores em entregar um jogo formado apenas por personagens femininas. Trata-se de um game que irá agradar a todos que gostam de um bom Metroidvania e que pode servir de porta de entrada para quem nunca se aventurou na exploração desse sub-gênero.

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Minoria

8.5

Nota final

8.5/10

Prós

  • Belo visual
  • Gameplay fluido
  • Controles precisos
  • Protagonismo feminino

Contras

  • Muito curto
  • Pouco desafiador
  • Mapa simples