Necrobarista

Review Necrobarista (Switch) – Cafézinho com os mortos

Desde pequeno, sempre fui um grande adorador do café. É tradição aqui em casa sentarmos todos juntos na sacada, quando o sol está se pondo no domingo, para apreciar essa maravilha amarga enquanto jogamos conversa fora, lembramos de alguma história legal para contar ou discutimos sobre algum evento que aconteceu recentemente. Algo nessa bebida traz esses sentimentos de reflexão e conforto, que combinam com o fim melancólico do domingo e o início de uma nova semana. Necrobarista reflete sobre essa mesma sensação, mas para aqueles que já estão mortos e possuem um último dia no mundo.

Desenvolvimento: Route 59

Distribuição: Coconut Island Games

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Visual Novel

Classificação: 14 anos

Plataformas: Ps4, Switch, PC

Português: Legendas e Interface

Duração: 4 horas (campanha)/7 horas (100%)

Um expresso por favor

Adocicar os momentos finais.

No mundo de Necrobarista, os mortos possuem a possibilidade de aproveitar suas últimas 24 horas na Terra antes de irem para o além. Em Melbourne, Austrália, um café chamado Terminal recebe essa clientela especial, e é nele que o jogo se passa. Acompanhamos Maddy, a jovem necromante que é dona da cafeteria, Chay, o antigo dono e Ashley, a aprendiz e auxiliar de Maddy, nessa aventura para proporcionar os drinks mais diversos e ouvir o desabafo dos mortos.

Mesmo com a presença de algo tão sinistro como necromancia e o tema do pós-vida, Necrobarista  tem total cuidado de deixar as perguntas mais complicadas com respostas bem simples, sem atrapalhar o fluxo e a atenção da história, essa que consegue cativar o jogador do início ao fim.

Vai querer açúcar?

As referências à Monogatari.

Por se tratar de um Visual Novel, a composição narrativa é o elemento principal para que um jogo como esse funcione e se destaque em seu gênero. E a Route 59 trouxe um leque de ferramentas para Necrobarista, como o uso de um estilo artístico muito semelhante a animes e o uso de textos parecidos com os de Monogatari, em que uma cena é interrompida por algum texto num fundo colorido, geralmente usado para efeito cômico ou para acentuar algo dito. Essa mistura traz aos personagens as mais diversas expressões, tornando cada diálogo especial.

Necrobarista também se destaca pela sua ótima trilha sonora composta por Kevin Penkin, que também trabalhou em Florence e Made in Abyss. Penkin consegue criar uma ambientação perfeita para as situações que conseguem no Terminal, trazendo batidas rápidas e rítmicas para as discussões mais engraçadas e extrapoladas, e um piano mais lento acompanhado de um baixo suave para enaltecer as conversas mais pesadas e expositivas. Todo o cenário visual e sonoro favorece o jogador de se enturmar com os relatos dos personagens.

Vocês também vendem chá?

Os rostos que desenhei nos robôs.

Com uma ótima ambientação, ótimos personagens também vem junto no pacote e com Necrobarista não foi diferente. Acompanhar todos os indivíduos que aparecem no Terminal, vivos ou mortos, é algo que cativa o jogador. O cuidado da escrita em tratar de temas tão sensíveis como o fim de uma vida, a dificuldade de deixar o que tinha para trás e a dúvida sobre como foi vivido é muito emocionante. 

Entre os capítulos, é possível vagar pelo café e acompanhar diversas histórias que aconteceram ali, como o caso de um senhor peixeiro que contou de suas boas memórias para Maddy; a rivalidade gerada entre um ex-jogador de sinuca e o seu ídolo; e o debate entre Maddy e Chay sobre o que significa ser um adolescente rebelde. Cada traço narrativo do jogo consegue entreter o jogador, seja de maneira engraçada ou com alguma reflexão.

Ficou amargo demais…

Quem não gosta de curtir um pôr do sol?

O que pode se tornar um incômodo para muitos jogadores é que Necrobarista, em questões de jogabilidade, não faz algo muito diferente do que se espera de um Visual Novel. Não existe um sistema de escolhas e você só pode se locomover no Terminal para procurar relatos ou para acessar dois modos: Estúdio e Rabisco.

O modo Estúdio seria semelhante a um modo foto muito visto em jogos recentemente lançados, mas aqui ele permite a criação total da cena desde a seleção de cenários até objetos, personagens, animações e etc. É algo que dá para brincar por um tempinho, mas a lentidão para carregar cada opção e a bagunça no menu causam um enorme cansaço.

O Modo Rabisco serve para customizar o rosto de três robôs que aparecem em algumas cutscenes para torná-las mais engraçadas. Não são muitas opções disponíveis para quem busca algo além do objetivo principal do game.

Prefiro café preto

Mesmo sem fugir muito da mesmice encontrada em seu gênero, Necrobarista é um Visual Novel que vale muito a pena jogar. Essa história maluca e tocante, com personagens muito bem escritos vai, com certeza, ficar na sua cabeça por mais de 24 horas.

Cópia do Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Necrobarista

8.5

Nota final

8.5/10

Prós

  • Belos visuais
  • Ótima trilha-sonora
  • Narrativa emocionante
  • Personagem cativantes

Contras

  • Limitação na jogabilidade
  • Modos secundários esquecíveis