Oddworld Inhabitants é uma empresa de games famosa por jogos que se passam dentro de um universo fictício chamado, justamente, de Oddworld – ou o “mundo estranho”, numa tradução livre. Originalmente lançado em 1997, Oddworld: Abe’s Oddysee despontou no PC e PS1 e nunca ouvi muita gente comentando sobre ele de forma geral. Provavelmente porque a jogabilidade de Abe’s Oddysee era um pouco mais difícil do que os títulos da época e acabava afastando o público mais casual, e isso se agravava ainda mais quando a experiência era tida na versão de PC a qual dava suporte apenas para jogar com o teclado.
Como uma sequência lançada em cerca de 9 meses depois de Oddysee – um janela curtíssima de tempo para produção de um jogo -, Abe’s Exoddus foi o último da saga de Abe e deixou muitas saudades em todos aqueles que haviam sido cativados pelo heróico Mudokon em busca da libertação de seu povo das garras dos Glukkons. Felizmente, em 2014 o remake de Abe’s Oddysee intitulado Oddworld: New ‘n’ Tasty deu as caras no PS4 e finalmente tínhamos a volta de Abe em gráficos totalmente refeitos, mecânicas aprimoradas e uma jogabilidade que misturava os melhores elementos de Oddysee e Exoddus. Tive meu primeiro contato com a nova versão apenas em 2017 através do Wii U e posteriormente comprei a versão lançado para Android. Apenas em 2020, finalmente foi criado um port para Switch que, sinceramente, fez o mês de outubro valer a pena por causa de seu anúncio repentino.
Desenvolvimento: Oddworld Inhabitants
Distribuição: Oddworld Inhabitants
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Plataforma, Puzzle, Ação
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, Xbox One, PS4 e Switch
Duração: 7 horas (campanha)/10.5 horas (100%)
Escravos, reuni-vos!
Abe é um ser da raça Mudokon que trabalha – leia “é escravizado” – numa fábrica chamada Rupture Farms, uma espécie de empresa que cria produtos alimentícios. Um belo dia, nosso protagonista está limpando os cantos do local quando, de repente, observa o anúncio de uma nova linha de alimentos com os dizeres “New ‘n’ Tasty”. Porém, segundos depois o ingrediente secreto desse produto é revelado no telão do anúncio: a carne de Mudokons. Então Abe fica desesperado e decide que precisa salvar todos os seus companheiros da fábrica e levá-los para casa sãos e salvos.
A jogabilidade de Abe sempre foi um diferencial enorme pra mim no gênero plataforma. O título de 97, porém, era bastante exigente no quesito precisão e pixel perfect se tratando de interações com portas, alavancas, canos, etc. Toda essa dificuldade e falta de piedade com o jogador apenas restringia o público de forma absurda, já que uma vez derrotado em fase o jogador era enviado para o último checkpoint e precisava tentar tudo de novo. Às vezes esta punição consumia vários minutos desnecessários e o ressurgimento do personagem não era necessariamente rápido.
New ‘n’ Tasty é uma versão completamente melhorada do jogo original, aprimorando controles, exigindo menos precisão e, principalmente, adicionando comandos de save state em que se torna possível salvar e carregar um ponto qualquer de sua sessão de jogo. Esta funcionalidade agiliza as coisas de uma forma absurda e transforma de forma abrupta a jogabilidade em algo mais acessível ao público geral. Mesmo que eu tivesse paciência o suficiente para jogar Abe’s Oddysee por volta dos meus 10 anos de idade na época, posso dizer com certeza que a adição de save state faz uma baita diferença. Apesar de Abe’s Exoddus já ter implementado algo similar mas não tão eficaz em 98, apenas New ‘n’ Tasty permitiu o mapeamento do recurso em botões específicos para que fosse usado de forma ágil.
Jogabilidade única
New ‘n’ Tasty, como dito, é uma mistura dos elementos de Oddysee e Exoddus. O primeiro jogo tinha a ausência de um comando importante, o “Hey y’all” – implementado apenas em Exoddus – que faz com que todos os Mudokons presentes na tela respondam seu chamado de uma só vez. Oddysee exigia com que chamássemos os companheiros de Abe um por um, depois levássemos o personagem em questão para um portal de pássaros para transformar em um portão de fuga e, assim, repetir o ritual diversas vezes. Como a jogabilidade tem um ponto central em resgatar os Mudokons e fazê-los fugir para casa nestes portais de pássaros que pedem o “canto” (em inglês, chant) de Abe para se transformarem em pontes para casa, em Oddysee essa tarefa era cansativa, e por falta de recursos se tornava punitiva em excesso. Quanto mais Mudokons resgatados, menos vítimas de Rupture Farms ficam para trás à própria sorte, e isso é possível de ser observado num “placar” ao fundo de alguns ambientes.
Portanto, o remake não é feito apenas de belos gráficos trazidos através da engine do programa Unity (sim, a engine bastante usada por empresas indie), mas também de acessibilidade, melhorias na jogabilidade e elementos de qualidade de vida (save state e outras funcionalidades presentes apenas no segundo jogo). Como em 97, Abe continua podendo caminhar em silêncio, correr, assobiar, dar comandos de voz para seus amigos e possuir seus inimigos.
A mecânica de possessão de outros personagens do jogo foi algo que “explodiu” minha mente na época. É algo aparentemente complexo por causa da forma excelente como ela funciona, e de longe é o elemento mais divertido do jogo. Com essa mecânica é possível enganar outros inimigos, conversar com eles, dar comandos para personagens que querem destruir Abe e seu povo, entre outras coisas que não cheguei a ver em nenhum jogo até hoje – ao menos desta forma.
Fora isso, resolução de puzzles e a exploração dos cenários continuam sendo peças fundamentais para a missão de Abe – e não posso esquecer da montaria em Elum, uma espécie de camelo de Oddworld -, colocando o jogo num dos patamares mais altos quando se trata de títulos de plataforma com elementos de puzzle na minha lista de “obras mais bem feitas do mundo dos games”.
De repente, Switch
A versão de Switch foi bastante inesperada para mim, mas confesso que era um desejo que eu tinha há tempos de ver Abe chegando ao console da Nintendo. Apesar de ter jogado a versão de Wii U em 2017, certamente poder experienciar New ‘n’ Tasty de forma portátil seria algo absurdamente divertido, e jogar no Gamepad do antecessor do Switch foi uma “amostra grátis” do que eu viria a ter anos depois – mesmo com a péssima resolução de 480p do controle com tela do Wii U. Na plataforma Android foi onde terminei o jogo pela primeira vez, apesar de o possuir também no PC, mas existem downgrades claros no mobile mesmo nos níveis gráficos mais elevados – o que faz com que essa versão seja bem parecida com a criada para o PS Vita.
Felizmente, o port de Switch traz visuais praticamente iguais às versões de consoles mais potentes (PS4 e Xbox One) e de PC. Porém, é um pouco decepcionante observar que, sim, o jogo no Switch roda em 30 fps sem travas – o que é ruim – tanto no portátil quanto na Dock, além de apresentar o uso da resolução dinâmica que torna os gráficos um pouco embaçados em certos momentos.
Bom, o game no PS4 recebeu uma atualização posterior para aumentar os quadros por segundo em até 60, então fico na esperança de que isso também chegue à versão de Switch em breve. Também é incômodo o fato do mapeamento de botões serem fixos, enquanto que no Android era possível mudar qualquer coisa e o comando de salvar e carregar o save state em botões separados. No Switch, uma pressionada no botão “menos” salva, já o segurando realiza o carregamento deste salvamento.
Porém, vale notar a tristeza também que fico ao não receber o DLC Alf’s Escape presentes em todas as plataformas, mas que não está disponível nem mesmo para compra no console da Nintendo. Perguntando ao perfil oficial da Oddworld no Twitter, fui ignorado completamente ao questionar se receberíamos o conteúdo adicional para o jogo no futuro, o que me faz pensar que a empresa não se importou muito em trazer algo mais completo no Switch.
Uma experiência sem igual
A jornada de Abe é um jogo único e nunca foi feito algo parecido ou que chegasse aos pés de sua qualidade. Agora que New ‘n’ Tasty está disponível em todas as plataformas, não existe mais desculpa para não libertar os Mudokons da escravidão de Rupture Farms. Falo com segurança que, se você é um fã de jogos que exigem estratégia e planejamento antes de tomar qualquer ação, Oddworld: New ‘n’ Tasty é a experiência que se encaixa perfeitamente em seu gosto. Mesmo assim, a versão de Switch ainda é inferior às outras mais antigas por apresentar uma performance abaixo do esperado e a ausência dos DLCs lançados até então em outras plataformas.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock