Os jogos de corrida sempre tiveram lugar cativo em cada novo console lançado. De início, de maneira bem particular, eles buscavam emular a experiência de famosas corridas de carro, em especial os de Fórmula 1. Na década de 90, dois jogos foram os responsáveis por reinventar a dinâmica do gênero ao apresentarem games ambientados num mundo futurista, em que veículos antigravidades disputam uma mistura de corrida e batalha em velocidades insanas: trata-se de F-Zero e Wipeout. No entanto, ambas as franquias se encontram num hiato. Não temos um novo F-Zero há quase vinte anos, e o último Wipeout há quase dez.
No vácuo do sucesso dessas duas franquias e na carência deixada por suas ausências na indústria de games, sucessores espirituais, vez ou outra, surgem para tentar ocupar o trono vazio. Nesse sentido, obras como Redout, lançado em 2016, buscam levar adiante o legado desses jogos. É diante dessa tentativa de ganhar os corações carentes dos órfãos de F-Zero e Wipeout que o estúdio britânico R8 Games, em seu jogo de estreia, entra na briga nos trazendo Pacer. O jogo – lançado em outubro do ano passado para PC e PS4 – chegou, no dia 9 de março, também para os donos do Xbox One.
Desenvolvimento: R8 Games
Distribuição: R8 Games
Jogadores: 1 (local) e 1-10 (online)
Gênero: Corrida, Multiplayer
Classificação: 14 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4 e Xbox one
Duração: Sem registros
Visual futurista caprichado
Uma coisa tem que ser elogiada: o visual futurista de Pacer é incrível e mostra o quanto a guerreira Unreal Engine ainda consegue entregar gráficos impressionantes. Cada uma das quatorze pistas à nossa disposição são ricas em detalhes, possuem design único e desafios próprios que diferenciam bem uma das outras. Algumas pistas são mais estreitas, outras mais largas, algumas possuem curvas mais acentuadas e requerem um bom domínio dos controles. Uma pena não haver clima dinâmico ou transição do dia para a noite. De toda forma, por se tratar de uma produção indie, é algo que podemos facilmente relevar. E é seguro dizer que essa ausência não atrapalha em nada nossa experiência. A trilha sonora é igualmente competente, apresentando uma boa variedade de batidas eletrônicas (mais de oitenta) e composições originais que casam muito bem com o estilo do game.
Em linhas gerais, Pacer é focado em disputas de alta velocidade. Para atravessar a linha de chegada em primeiro lugar, no entanto, é necessário batalhar. Cada uma das pistas funciona como uma espécie de arena de combate. As corridas contam com até dez competidores, seja nas disputas solo ou online. Temos ao todo cinco modelos de veículos disponíveis e um leque de onze armas (das mais variadas possíveis) à nossa disposição para limpar o caminho até o pódio. Pacer oferece algumas opções pré-programadas de customização de desempenho para o nosso veículo (Drifter, Defesa, Agilidade ou Alta Velocidade) que alteram a performance nas pistas. Conforme jogamos e ganhamos créditos (que variam com nossa posição ao final das disputas), podemos comprar equipamentos diversos – como motores e freios – que melhoram nossos atributos e nos permitem montar uma configuração personalizada de desempenho. Além disso, os créditos acumulados ao final das corridas também nos permitem comprar novas armas e itens cosméticos, no menu Oficina do jogo. Essas opções de personalização garantem certa singularidade nas provas, na medida em que dificilmente alguém terá um Crafting com uma configuração idêntica à sua.
Variedade de modos e online problemático
Contamos com um singelo modo Carreira, pouco inspirado, sem uma história específica que nos apresente ao mundo de Pacer e que crie uma maior identificação nossa ao título. Tal modo serve mais para apresentar a dinâmica das corridas e as mecânicas. Conforme avançamos, novas classes (F3000, F2000, F1000 e elite) e desafios vão sendo disponibilizados com o acréscimo de possibilidades diferenciadas de gameplay que extrapolam a experiência simples de uma corrida padrão. Pacer, na verdade, conta com modos de corrida bastante diferenciados. O que é um alívio ainda mais se compararmos com outros jogos de corrida que, geralmente, apresentam apenas um modo arcade e um corrida contra o tempo. Assim, modos como Tempestade (em que temos que fugir de uma onda que destrói os corredores mais lentos) e o Flowmentum (que aumenta ainda mais a velocidade de nosso veículo a cada checkpoint) nos convidam a permanecer no jogo por muito mais tempo.
Pacer tem um foco muito grande no fator online. As informações de nosso perfil, com registro de estatísticas diversas e nosso próprio progresso são salvos em servidores dedicados ao game. Claro que isso é algo que jogos de corrida mais recentes – como os da série Forza – já fazem. O problema é que os servidores da R8 Games são um tanto quanto instáveis. Meu save, por exemplo, se corrompeu por conta dessa instabilidade e acabei perdendo o meu progresso. Buscar salas online aleatórias para competições multiplayer é uma tarefa um tanto quanto árdua. Só consegui jogar o modo online criando uma sala e convidando um amigo para a mesma. Ao menos durante as partidas tudo se manteve bem estável, sem quedas de framerate ou qualquer tipo de lag que pudesse estragar a experiência. Porém, por não conseguir encontrar algum servidor com uma sala pública disponível, não pude testar se Pacer se comporta da mesma forma com dez jogadores simultâneos.
Interface poluída e jogabilidade difícil
No que se refere a interface das partidas senti muito a falta de um mini mapa na tela. E olha que há certo excesso de informações: posição de cada corredor, tempo da volta, número da volta, velocidade do veículo, posição, vida, escudo, turbos e arma. Custava colocar um mapa? Até temos a opção de ocultar essas informações da tela do jogo, para uma experiência mais minimalista, mas, poderíamos ao menos escolher o que queremos que seja apresentado na interface.
Mais do que ficar de olho em nossa posição na corrida, devemos nos precaver quanto a energia e escudo de nosso veículo, além de prestar atenção em alguns power ups que restauram tais status e recarregam nossa arma. Perder a proteção do escudo é ter certeza que sua barra de energia irá se esgotar rapidamente, levando a uma explosão que te jogará para as últimas colocações.
Os controles de Pacer não fogem ao padrão estabelecido por seus antecessores famosos. Basicamente podemos acelerar, atirar, dar mini turbos, frear para a esquerda ou direita nas curvas mais suntuosas e por aí vai. Apesar dos controles simples, a curva de aprendizado é extremamente alta, tornando o game muito difícil.
Os comandos são sensíveis o que torna o ato de terminar uma partida sem beijar uma única vez a mureta da pista algo bem improvável de acontecer. Essa dificuldade elevada pode acabar afastando jogadores casuais que desejam uma distração menos hardcore e mais acessível. Dominar os comandos, no entanto, requer paciência e repetição. Mas, ainda sim basta uma distração para você sair do primeiro para o último lugar.
Bebendo em fórmulas de jogos famosos
Apesar da beleza visual e sonora e a carência por títulos do gênero tornarem o jogo ainda mais atrativo, Pacer não está livre de problemas. A instabilidade do modo online, a ausência de uma narrativa que desperte no jogador uma maior identificação com o título e a dificuldade elevada no manuseio dos veículos são exemplos disso. O game bebe em fórmulas de jogos famosos lançados ao ostracismo por seus desenvolvedores em muito por não ter nada de diferente para apresentar aos seus fãs.
Dito isso, mesmo sendo divertido, não há nada de novo no jogo da R8 Games. Apenas vemos uma recriação nostálgica – e bem feita, diga-se de passagem – de jogos de corrida com veículos antigravidade e temática futurista.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Pacer
Prós
- Gráficos incríveis
- Trilha sonora competente
- Muitos modos de jogo
- Experiência nostálgica
Contras
- Online instável
- Ausência de narrativa
- Dificuldade elevada
