É muito fácil errar a mão em jogos de detetive. Pois imagine algo como a proposta inovadora de Paradise Killer: o jogo é uma espécie de point and click, mas é um “mundo aberto”. Os cenários não são estáticos, a exemplo do que ocorre nos jogos clássicos do gênero.
Você passeia com sua câmera em primeira pessoa por diferentes lugares da Ilha Paradise, e o jogo tem uma estética vaporwave que remete aos anos 80. E eu amo games com estética anos 80, como Shakedown Hawaii. O que poderia dar errado? Muita coisa. Calma, eu vou (me) explicar.
Desenvolvimento: Kaizen Game Works
Distribuição: Fellow Traveller
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Puzzle e RPG
Classificação Indicativa: 16 anos
Português: Não
Plataformas: Switch e PC
Duração: Sem registros
O que é Paradise Killer?
A premissa de Paradise Killer é muito simples: um crime foi cometido na Ilha Paradise. Os membros do conselho – elite governante – foram assassinados no momento em que a 24ª iteração da ilha estava para ser destruída – e com ela, todo o populacho vivendo ali.
O que é essa ilha? Uma tentativa do Sindicato de ressuscitar seus “deuses alienígenas corruptos”, obrigando os cidadãos a rituais de adoração que acabam por abrir a porta para uma “corrupção demoníaca além das estrelas”. Essa “corrupção demoníaca” acaba por sempre fazer o experimento falhar. Então a ilha é destruída, seus habitantes são sacrificados, uma nova ilha é feita e o ciclo se repete.
No jogo, você assume o papel da investigadora Lady Love Dies, reclusa desde a Sequência 13 da ilha porque foi enganada pelo deus Damned Harmony. Com o assassinato, Judge (o juiz) toma duas decisões: remove Lady Love Dies do exílio e institui The Architect (a Arquiteta) como governante provisória até que a investigação seja concluída e a Sequência 25 da ilha, a esperada sequência perfeita, seja instituída.
Um pouco da jogabilidade
Acho que já deu para perceber que o forte deste game não é a originalidade da história. Pelo menos não para mim. As referências aos poderes instituídos e à Maçonaria carecem de algum humor para configurar uma crítica social inteligente.
Já as mecânicas do jogo são normais: você caminha pelo cenário com o analógico esquerdo, controla a câmera com o analógico direito, interage com o botão A. Os objetos passíveis de interação no cenário são visualmente destacados e as pessoas/seres com os quais você interage são 2D. Como se fossem placas de papelão colorido em meio ao cenário. O que combina com a (falta de) personalidade deles.
Você acessa a linha temporal e os arquivos da investigação por meio do laptop de Lady Love Dies. Os menus de interação apresentam várias opções. Além de interrogar a pessoa, você tem a opção de passar um tempinho com ela. Isso melhora o relacionamento e abre possibilidades de obter mais elementos de investigação. Essa mecânica é comum em JRPGs e não é estranha a quem joga RPGs ocidentais. Em Paradise Killer, essa opção é só mais uma caixa de texto de diálogo ruim.
O jogo não tem autosave, você precisa salvar seu progresso em telefones públicos espalhados pela ilha. Esses telefones também servem como ponto de viagem rápida, caso você precise voltar para retomar a investigação. Os gráficos não chegam a comprometer, não percebi bugs que quebrassem a jogabilidade e a trilha sonora é bem interessante.
Lei e Ordem
Um jogo de detetive precisa de uma boa história. L.A. Noire, apesar de contar com excelente elenco e ser (na minha opinião) um bom jogo, foi a pá de cal em cima do estúdio Team Bondi. Por outro lado, Phoenix Wright Ace Attorney – que tem histórias absurdas – é muito divertido.
Paradise Killer consegue ser o pior dos dois mundos: um mundo aberto vazio, explorado em primeira pessoa – chato para se deslocar entre um suspeito e outro, além de não convidar à exploração, sem nada para fazer que não seja a investigação ou ajudar alguma alma penada (com mais investigação).
A história é sem pé nem cabeça como os games da franquia Phoenix Wright, mas sem o mesmo apelo de diversão nonsense… porque Paradise Killer parece se levar a sério. E isso me irritou.
Não posso dizer que me diverti com esse game. A temática de jogo de investigação e a estética anos 80 despertaram inicialmente minha curiosidade. Saber que o culpado pode variar conforme você conduza a investigação de um jeito ou de outro aumenta o fator replay, o que também me interessou.
Mas o roteiro ruim e os puzzles bobos… eu simplesmente não ligo para o Sindicato, para os Cidadãos, para Lady Love ou quem quer que seja. Os personagens são rasos. O enredo não engrena. As falas são de dar vergonha alheia. Os diálogos sofríveis e o deslocamento ruim pelo mundo sem autosave – talvez como um aceno aos anos 80? – quebraram o que poderia ser uma experiência muito interessante.
O veredito
Paradise Killer é um game que está mais para uma prova de conceito: é possível fazer um jogo de investigação parecido com as investigações do mundo real, em que nem sempre o verdadeiro culpado é de fato descoberto. A minha verdade, a sua verdade, afinal, qual é a verdade…? O jogo tenta ser filosófico e profundo, apostando no relativismo ontológico. Acaba sendo apenas pretensioso e chato.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming