Em uma época em que Skyrim e suas cópias reinavam, surgia Ravensword: Shadowlands, um game mobile lançado em meados de 2013, que buscava seu lugarzinho nos RPGs de mundo aberto nos smartphones. O jogo da Crescent Moon Games chamou atenção em seu lançamento e fiz questão de conferir na época. Infelizmente, as percepções que tive não foram tão boas assim. Agora, em 2021, recebemos um port dele para Switch e fiz questão de experimentar para certificar de que minhas impressões da época podem mudar.
Desenvolvimento: Crescent Moon Games
Distribuição: Ratalaika Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Aventura
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 6 horas (campanha)/9.5 horas (100%)
Um mundo vazio para ser explorado
Em Ravensword: Shadowlands somos o último sobrevivente de uma guerra que foi travada entre os humanos de Ravengard e os Dark Elves, logo nos primeiros momentos de jogabilidade. Com isso, o Reino de Tyreas ficou à mercê de invasões do povo élfico e a espada Ravensword está desaparecida. Como um descendente de uma linhagem de reis, sua missão é encontrar a Ravensword e restaurar a paz que antes reinava.
Sendo uma clara inspiração em Skyrim – ou algum outro título da série The Elder Scrolls -, Ravensword: Shadowlands nos coloca na pele de um protagonista personalizável, mas com pouquíssimas possibilidades de alteração na barba, cabelo e rosto. Iniciamos em uma cidade gigantesca, com alguns portões que levam à outras seções do local e cenários externos.
Ambientado em cenários medievais como florestas, cavernas e montanhas geladas, o RPG de mundo aberto permite que vaguemos por aí derrotando monstros – alguns com um design duvidoso e efeitos sonoros medonhos -, recebendo experiência para subir de nível, pontos de atributos para distribuir entre alguns elementos como saúde e ataque, e a possibilidade de equipar itens como armaduras e armamentos ofensivos.
Tudo parece bastante divertido na teoria, mas é na prática que o indie decepciona. Existe uma grande falta de polimento em vários pontos, e o maior deles é o mapa. Ele nada mais é do que uma grande imagem JPEG sem qualquer tipo de detalhes importantes representando o cenário onde estamos. Não é possível também demarcar pontos de interesse para seguirmos, como também não há uma forma de saber quão longe estamos do próximo objetivo. Por isso, boa sorte consultando o mapa completo a cada 10 segundos no menu principal para se certificar de que está no caminho certo, apesar de existir um minimapa bastante inútil no canto da tela.
Já os itens consumíveis são, provavelmente, a parte mais mal explicada de todo o jogo. É possível carregar pães e outros alimentos em sua bolsa, porém, em nenhum momento existe um botão de interação que permite consumir esses itens caso sua vida esteja muito baixa. Até agora estou tentando entender o propósito destes alimentos. E não, não há um local no menu explicando sobre seu uso. Sua saúde é regenerada automaticamente ao ficar longe de conflitos, e acho isso um ótimo ponto, mas, mesmo assim, por que não posso ter a opção de gerenciar eu mesmo a minha barra de saúde consumindo estes itens obviamente úteis para preencher este elemento?
Mais problemas e design datado
Ravensword: Shadowlands também possui uma movimentação bem ruim e lenta, sem a possibilidade de correr. Felizmente, existe um apito que “conjura” um cavalo no meio do nada, e isso provavelmente devido à alguma limitação das habilidades de programação de quem criou o jogo. Isso causa estranheza enorme, fora a tentativa de encaixar esse fato de alguma forma que faça sentido dentro da descrição deste item. Outra bizarrice é vista também quando se alterna a visão para primeira pessoa, em que é possível ver apenas a sombra da espada e do escudo no chão, já que seu boneco se torna invisível e dá lugar a uma câmera. Porém, isso não devia ficar tão “na cara” assim, pois demonstra amadorismo extremo.
A mecânica de furtividade também é completamente quebrada, e não sei a razão de sua existência – sinceramente. A única coisa que ela faz é te permitir agachar e andar “silenciosamente”, porém você é detectado mesmo assim.
Mas, o que me fez detestar mesmo Ravensword foram os bugs e o mal planejamento do sistema de salvamento. É permitido salvarmos o progresso em qualquer lugar, e isso é muito bom. Porém, existe apenas um slot para isso e o salvamento automático te obriga a voltar pro menu principal para escolher um ponto de restauração depois de entrar em um primeiro menu de saves. Demorei dias até entender que isso era possível, já que, ao morrer dentro do jogo, as únicas opções oferecidas são “recarregar último save” e “voltar ao menu principal”. Acabei salvando o progresso manualmente dentro de uma taverna apenas para testar, enquanto lá fora eu estava rodeado de monstros na porta que foram me seguindo. Resultado: estraguei meu save manual, já que, ao sair, fui atacado pelas criaturas e fiquei impedido de prosseguir.
Que tal usar a viagem rápida para tentar se safar disso? Esqueça, você não pode fazer isso com inimigos próximos. Alguém havia sequer pensado nessa possibilidade?
Um produto da época que ainda é medonho
Ravensword: Shadowlands é um jogo de qualidade decepcionante, que te fará questionar o tempo investido nele – por mais curto que seja. Existem tantos erros de game design, interface e simplesmente de concepção nele que é espantoso. A jogabilidade é maçante e travada, além de não te fazer sentir plenamente sob controle da situação. Caminhar pelo mundo de Ravensword é cansativo e sem graça, já que existem espaços enormes e completamente vazios, além da história ser contada em falas de NPCs aqui e ali sem grandes emoções e uma péssima atuação.
Ravensword: Shadowlands é um fruto de sua época e plataforma em que originalmente foi lançado. Minhas percepções haviam sido bem negativas anos atrás e agora preciso dizer que pioraram muito. Se você busca um RPG de mundo aberto de qualidade no Switch, recomendo claramente The Legend of Zelda: Breath of the Wild, ou Kingdoms of Amalur: Re-reckoning caso pretenda gastar menos. Fique bem longe desse aqui, para o seu próprio bem.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami