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Review Source of Madness (Switch) – à beira do abismo da loucura

Source of Madness é um roguelite ambientado em uma terra desolada pela loucura. Com elementos místicos e de horror, o jogo consegue entregar uma experiência curiosa, divertida e visualmente grotesca.

Desenvolvimento: Carry Castle
Distribuição: Thunderful
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC, Switch
Duração: 3 horas (campanha)

A jornada dos acólitos

Ilustração da loucura

Source of Madness traz como cenário principal as Terras Argilosas, um lugar tomado por monstros grotescos e onde a morte está sempre à espreita. Há diversas localidades dentro das Terras Argilosas disponíveis para descoberta e exploração, e cabe ao jogador utilizar seus acólitos do Culto do Conhecimento para buscar trechos do folclore por trás do mundo do jogo e entender seu papel ali dentro.

Sendo completamente honesto, a forma como a narrativa se apresenta não é exatamente a minha favorita. Para desvendar a história, entender seus personagens e compreender esse mundo tomado pela loucura, é preciso encontrar criaturas e elementos com os quais se possa interagir para receber linhas de diálogos ou imagens deturpadas das Terras Argilosas. É como um quebra-cabeça que vai se completando lentamente com as peças encontradas. 

Se por um lado o estilo mencionado instiga a exploração dos ambientes e a busca por segredos, é justamente nessa fragmentação que Source of Madness me perde. Há muito o que ser dito e contado sobre seu mundo e suas criaturas, sejam elas os cultistas ou os monstros, mas o progresso lento e descobertas inicialmente sem sentido fazem com que eu me sinta apenas como um personagem derrotando um sem número de monstros sem propósito maior além de ficar mais forte.

Acólitos de nomes diferentes

Acólito lançando magia de fogo

Source of Madness não possui um protagonista fixo. O jogo utiliza um sistema que gera proceduralmente três acólitos do Culto do Conhecimento para escolha antes de iniciar uma partida. Cada um desses bonecos possui dois anéis de poder, que são basicamente suas duas habilidades de ataque (utilizadas com ZR e ZL), e características únicas, como porcentagem de dano, pontos de vida e resistências defensivas. Após a escolha do acólito, a aventura começa e cabe ao jogador avançar pelas Terras Argilosas derrotando monstros para coletar sangue.

O acúmulo de sangue permite o desbloqueio de habilidades passivas, novas classes, novos anéis de poder e itens de suporte. Ao desbloquear uma dessas opções, elas se tornam permanentes e passam a ser geradas pelo jogo e a aparecer no mundo para coleta, seja em monstros derrotados, na lojinha do Róger ou em baús de chefes secretos. Quanto mais opções desbloqueadas, maior a variedade de ataques dos acólitos e mais chances de sobrevivência eles têm em uma partida, pois, ao morrer, a história do personagem escolhido termina e é preciso começar uma nova partida do início.

A execução das magias de ataque são realizadas com os dois “gatilhos” do controle, e são direcionadas com ambos os analógicos, sendo o analógico direito o mais preciso. Há uma variedade imensa de anéis de poder que concedem magias diferentes, como lançamento de espinhos, bolas de fogo, globos arcanos e nuvens de podridão venenosas. A grande maioria desses ataques são focados em combate à distância, o que acentua o estilo de movimentação contínua de Source of Madness. É preciso estar sempre em movimento para escapar dos ataques dos inimigos e evitar ser encurralado pelos monstros, mesclando pulos e a habilidade de esquiva para sobreviver.

Conforme a partida progride e novas áreas são acessadas, o nível dos itens encontrados vai aumentando, o que é essencial para a sobrevivência do jogador. A dificuldade se acentua de acordo com esse progresso, tanto pelo dano aumentado dos monstros quanto pelo número de inimigos, e até mesmo por elementos do cenário que podem causar ferimentos ao acólito.

Os monstros da loucura

Acólito batalhando chefe

Um dos aspectos que distinguem Source of Madness de outros jogos do gênero está em seus visuais gerados proceduralmente por uma rede neural de inteligência artificial. Olhando pelo aspecto tecnológico, é incrível o que os desenvolvedores atingiram com sua visão. Os cenários têm suas texturas e composição construídos de forma aleatória com base nesse sistema neural, em um estilo artístico que casa bem como o tema de loucura e trevas do jogo: peças que se encaixam e formam um cenário por vezes disforme, mas ao mesmo tempo distinguível e curioso.

O mesmo acontece para os inimigos que, não apenas são gerados proceduralmente em seus visuais, mas também possuem um sistema de animação procedural. Esse conjunto de sistemas faz com que os monstros de Source of Madness sejam fisicamente grotescos, sendo horrores visuais no melhor sentido possível. Entretanto, a aleatoriedade das animações, casada com uma física “leve e flutuante” adotada aqui, faz com que os combates sejam menos metódicos do que o ideal. Por vezes, é possível ter a sensação de estar apenas apertando os botões de magia e dando pulos e esquivas para qualquer lado. Quanto mais inimigos na tela, maior é a confusão visual. 

Além do mencionado no parágrafo anterior, é preciso notar que, à exceção dos chefes principais, cujos visuais são unicamente magníficos e aterrorizantes, o restante dos inimigos, incluindo mini-chefes encontrados pelos cenários, possuem visuais que, na grande maioria das vezes, não são facilmente distinguíveis. Se por um lado isso casa bem com a temática do título, por outro deixa de ser marcante. Gosto de pensar e comparar, guardando as devidas proporções, com outros jogos de horror como Resident Evil, Silent Hill e Dead Space, cujos monstros são meticulosamente criados e desenvolvidos. São conceitos diferentes, é verdade, e é preciso reconhecer o “valor tecnológico” de Source of Madness, mas as experiências visuais contidas nos outros jogos mencionados são de fato marcantes e memoráveis.

A loucura de se jogar em um Nintendo Switch

Batalhando monstruosidades dentro de um chefe morto

Deus abençoe quem decide jogar Source of Madness em um Nintendo Switch. Embora a qualidade visual geral do jogo não deixa em nada a desejar, o seu desempenho técnico é completamente tenebroso no híbrido da Nintendo.

Seja no dock ou no modo portátil, tenha certeza que o jogo vai conseguir atingir taxas de fps de um dígito. Por mais que isso não ocorra o tempo todo, não é difícil encontrar situações que causam essas quedas tão bruscas na taxa de quadros. Qualquer batalha com grupos maiores de inimigos pode passar a sensação de que vai fazer o console sair fumaça.

Apesar de tudo, uma aventura competente

Source of Madness é um jogo que merece ser jogado. A variedade de habilidades mágicas e anéis de poder para coletar e desbloquear é imensa, e torna as batalhas contra as monstruosidades nas Terras Argilosas uma experiência divertida mesmo após a morte do acólito controlado. É um Roguelite que passa a sensação quase intrínseca do gênero de “só mais uma partida”. Ele é visualmente intrigante e com uma temática sombria muito bem representada em seus cenários e inimigos, especialmente nos chefes principais.

O que a desenvolvedora Carry Castle alcança com seu sistema procedural com auxílio de rede neural de inteligência artificial é digno de todo reconhecimento. Mesmo que não ofereça criaturas tão marcantes como em outros jogos, o talento do time e a visão ambiciosa fazem de Source of Madness uma experiência única.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Source of Madness

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Variedade de habilidades e magias
  • Embora caóticas em certos momentos, as batalhas são bem divertidas
  • Diversas habilidades, classes e itens para desbloquear
  • Temática sombria bem representada em cenários e monstros

Contras

  • Narrativa com fragmentação do folclore do jogo
  • Gerados proceduralmente, os visuais dos monstros não são tão memoráveis