Stray - Capa

Review Stray (PC) – Miando e escalando na metáfora do pós-mundo

Stray chegou para tomar posições no topo das tendências de assuntos da internet. O novo sucesso estrondoso da Annapurna fez sucesso em recordes de vendas, registrando mais de 50 mil jogadores simultâneos na Steam, chegando no primeiro dia de lançamento na PS Plus (Extra e Deluxe), e encantando a todos que gostam de gatinhos e uma jogabilidade muito boa, visuais e trilha sonora impecáveis, além de uma história surpreendente. 

Desenvolvimento: Blue 12 Studios

Distribuição: Annapurna Interactive

Jogadores: 1 (local) 

Gênero: Ação, Aventura

Classificação: 12 anos

Português: Legendas e interface

Plataformas: PC, PS4, PS5 

Duração: 4.5 horas (campanha)/8.5 horas (100%)

Miau!

Já imaginou assumir o papel de um gato num jogo de exploração, narrativa e puzzles? Em Stray, isso é possível. E você percebe todas as nuances e comportamentos detalhados de um gato de verdade em forma de animação, o que é encantador. Todas as mecânicas de miar, pular em locais de difícil acesso, arranhar paredes e tapetes ou de se esfregar em robôs simpáticos pelos cenários combinam demais com a narrativa apresentada e somam ao componente da fofura desse gatinho laranja.

Em meio a um passeio com seus amigos numa área meio industrial, o felino acaba se acidentando e cai num submundo urbano muito estranho, se perdendo do seu grupo. Ele descobre toda uma cidade abandonada e deserta, onde há criaturas agressivas e sinais robóticos, que o guiam para conhecer seu companheiro nessa rota, o pequeno robô flutuante B-12. Ao longo da sua jornada juntos, o robô irá ajudá-lo em traduções, descobertas, quebra-cabeças, nos combates e, não menos importante, em conhecer caricatos robôs habitantes dessa curiosa cidade.

A exploração de um mundo semiaberto, dividido em 12 capítulos, é muito satisfatória nessa jornada do protagonista felino. Existem diversos segredos e itens escondidos, que podem ser úteis para atender a pedidos de NPCs específicos ou progredir na história. Os pequenos puzzles durante a jornada são poucos e surgem no momento certo, sem destoar ou desequilibrar a jogabilidade e a situação narrativa da dupla aventureira. O jogo ainda tem uma atmosfera virtuosa divertida de adventures antigos, entregando facilidade e mais fluidez à jogatina.

Screenshot de Stray - Os cenários de Stray são de cair o queixo. Esse tipo de beleza está muito presente no jogo inteiro.

Não bastando o foco principal em exploração, Stray ainda vai além com fases curtas, mas bastante envolventes, de combate e furtividade contra robôs da Neco Corporation, grande corporação que não é tão explorada narrativamente; e Zurks, que são pequenos insetos mortais a seres vivos e que também comem material sintético, os quais aterrorizam os robôs há muito tempo.

Além disso, é possível capturar pequenas referências culturais, como a outros jogos e a grupos de música eletrônica e filmes de temática cyberpunk, deixando a obra cada vez mais interessante e repleta de conteúdo e conhecimento. Stray também bebe de uma fonte inusitada: Half-Life. Seus inimigos insetóides e algumas conjunturas pós-apocalípticas são bastante similares ao título da Valve.

A presença da luz

Screenshot de Stray - O centro da cidade morta é repleto de detalhes visualmente impressionantes.

O protagonista quadrúpede se depara, após sua queda, com uma cidade abandonada, bastante escura e inabitada, onde somente restam algumas luzes artificiais e pequenas criaturas espreitando. Em Stray, os belíssimos cenários são inspirados na cidade de Kowloon, em Hong Kong, conhecida por ser uma das mais densas demograficamente do mundo (mais de 2 milhões de habitantes dentro de pouco mais de 43 km²), há alguns anos, principalmente. Em decorrência disso, você se depara com ambientes extremamente urbanizados e verticalizados, nos quais um gatinho consegue se movimentar com destreza.

Faz muito sentido, então, subir em prédios e casas altas, telhados, se embrenhar em janelas abertas ou tubulações estreitas. O jogo explora isso ao máximo: os objetivos primários e secundários, que servem muito diretamente ao progresso da história principal e a conquistas triviais, dependem muito da exploração desses lugares. De nada vale ser um gato e não sair por aí buscando segredos nos cantos do seu mundo e interagindo com tudo e todos, não é mesmo?

Stray é muito focado em exploração e, nesse sentido, ele é muito recompensador. Há muitas memórias espalhadas pelo cenário que acrescentam à história e sua compreensão, além de provocarem muita reflexão durante os capítulos. Mesmo que a exploração possa não ser um atrativo, os visuais e a paleta de cores de cada cenário fazem valer todo o tempo investido nas andanças por essa cidade peculiar. A iluminação de cada lugar dela é de cair o queixo, e capaz de deixar contemplativo o mais apressado dos jogadores. Sua direção de arte, inclusive, é maravilhosa e merece prêmios e mais prêmios mundo afora.

É impossível deixar de mencionar o detalhamento dos ambientes. São incontáveis os detalhes desenhados, cuidadosamente colocados, e, por isso, é muito evidente o esmero que a equipe desenvolvedora investiu no jogo. Também é impressionante a capacidade que Stray tem de nos convencer das ambientações criadas e situadas em cada capítulo, seja um esgoto, uma cidade grande ou um metrô. Por isso e muito mais, seu propósito e estética têm grande valor na indústria dos jogos.

O pulo do gato

Apesar de bastante simples e fácil, Stray cria uma atmosfera cyberpunk única para si e passa uma mensagem muito positiva a respeito das possibilidades nefastas que a humanidade pode enfrentar no futuro não tão distante. Mesmo entre explorações sem muito propósito ou sentido, há muito do que extrair de Stray, seja em pequenas interações com robôs dessa cidade morta ou em mensagens anticapitalistas nas entrelinhas dos diálogos com o B-12.

Bugs de texturas e objetos travados no cenário à parte, muito irrisórios nesse mundo semiaberto, em nada afetam o fato de existir belíssimos visuais, que carecem muito de um modo foto agora, e de passar uma sensação de solidão no jogo, com o toque delicado de uma mensagem importante para a humanidade e sua realidade atual no planeta Terra.

Stray vai muito além de tudo o que se propõe a fazer e serve de grande metáfora ao contrastar um passado trágico da humanidade com uma baita exclamação direcionada a possíveis futuros extremamente perversos, compactada em forma de ficção científica de alta qualidade. Afinal, seu principal objetivo é escalar pela cidade inteira de volta ao topo, saindo de lugares profundos, desconhecidos e muito perigosos. Esses fatores todos, que transmitem sensações boas e reflexivas, alimentando a imaginação e o pensamento, vendem muito bem o jogo por si só.

Ser ou não ser (um gato)?

Stray pode ser um jogo muito focado em narrativa e exploração, o que é grande parte do seu triunfo, agradando muita gente, mas fica muito pautado em cima disso. Ele tem curtos momentos de variação da gameplay, como combates ou fugas alucinantes, além de puzzles bem fáceis, mas ambos não têm pouco mais de 20 ou 30 minutos de duração quando acontecem. Tudo isso embalado sob uma trilha sonora incrível de Yann Van Der Cruyssen, que lembra muito dos filmes Blade Runner. Tal configuração faz dele uma peça bastante singular das distribuições da Annapurna Interactive, com críticas e reflexões sociopolíticas atuais, bem características da distribuidora.

Por isso e por tantos outros motivos, vale muito a pena conferir o jogo. Entrar no personagem felino e desbravar todos os cenários incríveis presentes nessa obra é muito relaxante e satisfatório, com um marcante adicional de tornar toda sua simulacra bem crítica e reflexiva, saudando o gênero da ficção científica com muita originalidade. Digo com muita certeza de que Stray é um dos melhores e maiores jogos indies de 2022. Miau!

Cópia de PC adquirida pelo autor

Revisão: Jason Ming Hong

Stray

9

nota final

9.0/10

Prós

  • Narrativa e mecânicas muito envolventes
  • Jogabilidade simples e fluida
  • Cenários e ambientação incríveis
  • Trilha sonora muito boa
  • Detalhes do design e direção de arte absurdas

Contras

  • Exploração nem sempre recompensa bem
  • Bugs de texturas e iluminação
  • O jogo é bem curto