Controle um pequeno grupo de resistência alemão durante a ascensão e auge do Terceiro Reich. Sobreviva e resista estrategicamente às atrocidades do regime nazista.
Desenvolvimento: Paintbucket Games
Edição: HandyGames
Plataformas: PS4, Xbox One, PC, Switch, Android e iOS
Gênero: Estratégia, Aventura
Jogadores: 1 ( local)
Português: Não
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 8 horas (campanha)/ 15 horas (100%)
A Queda da Democracia
Neste jogo de estratégia desenvolvido pela Paintbucket Games e publicado pela Handy Games, controlamos uma pequena célula rebelde em meio à ascensão meteórica de Hitler ao comando do Terceiro Reich da Alemanha. Through the Darkest of Times inicia em 1933, no dia seguinte à nomeação de Hitler como chanceler da Alemanha, quando cinco cidadãos vindos de diferentes classes sociais se reúnem unidos pelo absoluto desgosto e revolta com o rumo que o país vem tomando e decidem montar uma célula de resistência.
O jogo é dividido em quatro atos, marcados pela passagem dos anos sob o regime nazista. O primeiro ato acompanha os desdobramentos imediatos da nomeação de Hitler a chanceler, em 1933. Em um primeiro momento, podemos observar que diversos cidadãos não se sentiam representados pelas políticas agressivas do regime, e alguns deles estavam dispostos a arriscar suas vidas para deter o avanço do nazismo.
O jogador controla o líder de uma pequena célula rebelde que se instala no coração de Berlim. Juntam-se à nossa causa até cinco membros advindos das mais diversas posições políticas: Comunistas, Social-democratas, Conservadores cristãos, liberais e até mesmo alguns nacionalistas colocam suas habilidades e contatos à disposição da célula, angariando contatos e recursos para o planejamento e execução de missões de sabotagem do regime.
Não esperem por missões saídas de um filme de James Bond, repletas de ação e em larga escala. A célula é composta por civis e suas missões cotidianas são muito mais singelas, como fabricar e distribuir panfletos, grafitar mensagens rebeldes em prédios públicos ou parques, contrabandear e distribuir livros proibidos pelo regime e espalhar a palavra rebelde entre a maior quantidade possível de pessoas.
Estratégia Rebelde
Through the Darkest of Times é um jogo extremamente desconcertante, pois a todo momento somos recordados que os acontecimentos que estamos vendo são reais, pessoas efetivamente passaram por aqueles situações de sofrimento. Preferi jogar poucas horas por vez, pois sempre que jogava por longas horas, me sentia um pouco desconfortável com as situações que aconteceram em um dos contextos mais desoladores da humanidade.
Infelizmente, as mecânicas do jogo não são tão excepcionais como o storytelling, e levando em conta que é um jogo de estratégia, a jogabilidade é demasiadamente simples e pouco inventiva. O jogador é colocado no papel de gerente, sempre administrando os membros da célula rebelde, os recursos disponíveis no inventário e equilibrando os dois medidores do jogo: moral, representativa da determinação da célula rebelde, equivalente à barra de saúde/vida do personagem – se a moral chegar a 0 é fim de jogo.
E o número de apoiadores mede a força rebelde da sua célula. Quanto mais apoiadores, mais fortalecido o grupo se torna, e quanto menos apoiadores, mais os membros da célula tendem a discutir entre si , gerando intrigas que podem culminar na separação do grupo.
Cada ato do jogo é composto por 20 turnos, durante os quais caberá ao jogador definir as missões que serão realizadas, sempre na tentativa de escolher as tarefas mais adequadas a cada tipo de personalidade dos membros, por exemplo, enviar um comunista/ social democrata para falar com trabalhadores é uma boa ideia, mas enviá-los para convencer o empresariado não dará muito certo e o jogador deve escolher os membros do seu grupo sabiamente, de acordo com sua estratégia de jogo. Em minha jornada, tentei criar um grupo diverso de membros, na tentativa de ampliar a probabilidade de sucesso das missões.
Cada missão exige alguns pré-requisitos que podem ser uma determinada quantidade de recursos materiais, como papel e tinta, e podem ser apresentadas como missões solo ou como uma cadeia com até 04 missões, no qual o sucesso em uma missão é pré-requisito para liberar a próxima.
Em cada missão, aparecem duas barras referentes a níveis de preparação e perigo. Novamente, as características dos membros escolhidos para a missão podem impactar nos níveis das duas barras e, quanto maior o nível de preparação e menor o de perigo, mais aumentam as chances da missão ser bem sucedida.
A narrativa avança em Through the Darkest of Times através dos diálogos que aparecem em momentos específicos durante cada ato e oferecem escolhas para que o jogador construa o diálogo. As escolhas podem desbloquear algumas missões ou oferecer contexto histórico através da apresentação de alguns eventos marcantes do Terceiro Reich, como o incêndio do Reichstag e a queima de livros em Bebelplatz, todos narrados pela nossa protagonista aleatoriamente gerada no início do jogo.
Resistir e Persistir
Inspirado pelo realismo mágico característico da República de Weimar, o visual de Through the Darkest of Times apresenta um visual único e faz bom uso da paleta de cores composta pelo vermelho, preto e cinza – largamente usado no regime nazista. O visual caracteriza o jogo e nos remete à opressão e ao clima de desesperança e impotência que permeia o jogo. Muitas vezes durante Through the Darkest of Times, o maior ato de resistência que seremos capazes de realizar é sobreviver para lutar no dia seguinte.
Uma mecânica bastante frustrante é a perda dos itens ao final de cada ato. A maior parte dos itens desaparecem do seu inventário entre um ato e outro, e o jogador inicia o novo ato praticamente do zero, tendo que reavaliar toda a sua estratégia para tentar executar as tarefas de maneira mais rápida e efetiva. Essa mecânica se torna excessivamente frustrante ao longo do jogo ao induzir a sensação de que não importa o quanto tentemos, nunca conseguiremos realmente prejudicar o regime nazista com nossos atos insurgentes.
E nisso reside a força da narrativa em Through the Darkest of Times, nos fazendo compreender que um pequeno grupo de rebeldes jamais conseguiria derrubar um regime como o Terceiro Reich sozinho, mas é capaz de planejar e executar pequenos atos de resistência, como abrigar um casal de judeus e escondê-los longe da perseguição,convencer os vizinhos a acolher uma família judia em um bunker durante um ataque aéreo ou ajudar o pai de um amigo comunista a fugir do país.
São atos de menor escala, mas que impactam a vida de quem foi ajudado e muitas vezes podem ser a diferença entre a vida ou morte das pessoas perseguidas.
Recordar para viver
Through the Darkest of Times nos apresenta as agruras do regime nazista através da ótica de cidadãos comuns e o quanto o regime afetou a convivência cotidiana. Amigos de longa data de repente se viram em lados opostos de acordo com a nova ordem da nação. Judeus e minorias tinham suas posses confiscadas pelo governo e eram forçados a ir para os guetos.
Em mundo onde o fantasma do nacionalismo e o preconceito às minorias teimam em ressurgir, é importante a crítica à desumanização do outro que vemos o tempo inteiro em Through the Darkest of Times. Revisitar esse período histórico na contemporaneidade é relevante e o que faz valer a experiência, apesar da jogabilidade um tanto monótona e personagens pouco desenvolvidos.
Para os interessados na temática ou no período histórico, Through the Darkest of Times é uma experiência bastante recompensadora, pois a Paintbucket Games fez um belíssimo trabalho de ambientação do período através dos eventos e das manchetes que aparecem no início de cada semana-ato no jogo. Para os amantes de jogos de estratégia/tácticos, a experiência é bastante simples e o distanciamento do jogador de qualquer ação deixa tudo bastante monótono – há opções melhores no gênero.
Este review foi feito com uma cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming