Tropico vem sendo uma de minhas franquias preferidas de todos os tempos quando se trata de jogos de estratégia com elementos de gerenciamento. Meu primeiro contato com Tropico foi a partir do terceiro jogo da série, no longínquo ano de 2009, através de meu antigo Xbox 360. Tempos depois, resolvi visitar o primeiro e o segundo título, os quais apresentavam qualidade similar no quesito diversão, mesmo que gráficos e jogabilidade fossem um pouco mais simples. Em seguida, tive o quarto jogo e este se tornou meu Tropico favorito, sendo que o joguei durante vários anos a fio e sequer continuei adquirindo as sequências.
Finalmente, em 2020 consegui a oportunidade de ter contato com a série novamente com Tropico 6 no console mais inesperado possível, o Switch. Seu trailer foi divulgado na Nintendo Direct Mini de novembro do mesmo ano, e muita gente ficou com o pé atrás ao ver os gráficos e suposta performance que o vídeo apresentava. A maior questão é: valeu a pena sacrificar elementos visuais, recursos e performance para trazer a franquia ao console da Nintendo?
Desenvolvimento: Limbic Entertainment
Distribuição: Kalypso Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Simulação, Estratégia
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataforma: Xbox One, PS4, PC e Switch
Duração: 27 horas (campanha)/65 horas (100%)
É tempo de comandar a vida alheia
Caso você não seja um grande conhecedor de Tropico, é fácil de resumir a série como um todo dizendo que é um “simulador de ditadura galhofa”, no qual você controla um líder de ilhas tropicais – El Presidente – e pode gerenciar até os detalhes mais minuciosos de sua nação. Aqui, não comandamos personagens ou tropas como em Age of Empires, e nem mesmo precisamos batalhar – pelo menos de forma direta – contra um país inimigo, mas o foco principal em Tropico é fazer macro e micro gerenciamentos para a economia girar e obter o respeito de várias facções existentes em suas terras. O escopo lembra um pouco a série Sim Ciy, mas com uma abordagem bem mais fechada em pedaços de terra e centralizada em construções e missões rápidas.
O maior objetivo por aqui é bem simples: se manter no poder. Claramente a meta de toda pessoa cujo sonho é ter o controle total em suas mãos. Mas a decisão é sua quando se trata dos meios que serão utilizados para essa perpetuidade na presidência de Tropico. Quer apelar para a corrupção e fraudar os votos da campanha? Sem problemas, mas as pessoas possivelmente perceberão seu ato. Prefere fazer um jogo limpo e conquistar os habitantes de sua nação através de simpatia, promessas cumpridas e melhorias de vida para todos? Parabéns, você colherá os frutos de sua honestidade. Mas lembre-se que agradar uma facção pode afetar seu relacionamento com outras, por exemplo. Construir bancos e locais rentáveis demais para sua economia agradará os capitalistas, enquanto que o comunistas lhe criticarão e tirarão o apoio nas próximas eleições. É necessário saber manter o equilíbrio. Tropico sempre foi muito divertido pela liberdade dada ao jogador, mesmo que esse prefira seguir por caminhos obscuros.
Maior e melhor
Como meu último Tropico foi o 4, percebi que várias mudanças foram feitas na séria ao longo de quase 10 anos. O jogo se tornou um pouco mais complexo e cheio de detalhes adicionais, enquanto que alguns elementos mudaram de local para serem acessados. Agora existe uma constituição da ilha em que é possível criar decretos como declarar o ateísmo, estender o turno dos empregados para aumentar os rendimentos e como punição derrubar a qualidade de trabalho, permitir com que seja proibido exportar alimentos, etc.
Além disso, foram criadas períodos que dividem o jogo em épocas diferentes, como Guerra Fria e Tempos Modernos, algo proveniente do DLC de Tropico 4 ao qual não tive acesso na época. Estes períodos permitem que novos tipos de construções sejam liberadas, como também decretos específicos e a mudança visual dos estabelecimentos já construídos simbolizando a alternância de época.
Para expandir a experiência, Tropico 6 implementou um sistema de arquipélagos, ao contrário dos jogos anteriores que restringiam o jogador à apenas uma ilha sob seu comando. Agora é possível explorar mais de um local, usando e abusando das reservas naturais de cada pedaço de terra. Porém, é importante levar em consideração aspectos da vida real: quanto tempo um empregado levará para chegar até seu trabalho? Ou em quanto tempo os carregamentos de açúcar chegarão até a destilaria de Rum para produzir e exportar? Seus trabalhadores possuem moradia, transporte e diversão próxima ao emprego? Em Tropico 6, todos estes fatores precisam ser observados, caso contrário o resultado será uma grande ineficiência.
Pensa que as novidades acabam por aqui? Tropico 6 também traz um recurso chamado Raid, o qual é usado para criar rotas de saqueamento de seu covil de piratas e conseguir suprimentos não possíveis de adquirir por meios comuns, às vezes porque sua ilha não possui os nutrientes para abastecer as plantações de Tabaco, por exemplo.
No mais, o mesmo de sempre está presente – no bom sentido -, como representantes de cada facção constantemente solicitando tarefas ao El Presidente para que seu relacionamento seja ampliado, novas plantas de construções sejam liberadas e seu poder seja garantido.
Pontos fracos
Tropico 6 é muito maior e melhor do que os games anteriores da franquia, o que pode afastar um pouco os recém-chegados. Por eu já saber do que se trata, a transição de Tropico 4 para o sexto jogo foi bem tranquila, mas confesso que algumas novidades me tomaram alguns bons minutos de leitura para entender exatamente como funcionavam. Fora isso, muitas vezes me peguei tendo que consultar o Almanaque, uma espécie de enciclopédia de Tropico que resume vários dados importantes, como também mostra a quantidade de cada construção existente na ilha. É bem maçante às vezes precisar entrar neste local para consultar certas informações, o que poderia ter sido melhor aproveitado na própria interface durante o modo construção, por exemplo. Quer saber qual estabelecimento está sendo mais custoso e gerando menos renda para a nação? Precisará abrir o almanaque e ir até a página de custos.
Já em relação ao port para o Nintendo Switch, as pessoas tinham razão em ficarem decepcionadas ao virem os gráficos do trailer. Em seu lançamento, Tropico 6 apresentava uma performance abaixo do aceitável e gráficos bem borrados e serrilhados. Dias depois, uma atualização repentina melhorou os visuais de forma geral, porém mesmo assim ainda deixam a desejar estando em um nível inferior até mesmo comparado ao ultra low do PC.
Os serrilhados também ainda são muito evidentes e chegam a incomodar, mas jogando com o Switch na Dock a experiência se torna um pouco menos agressiva aos olhos. Mesmo assim, você pode esperar alguma lentidão em locais com muitas construções e pessoas transitando, com o framerate despencando por volta dos 20 fps.Porém, os fãs de jogatinas no modo portátil ficarão bem felizes com a possibilidade de levar El Presidente e sua ilha por aí, sem falar que existe suporte à toques na tela.
Mas o que mais me entristece é a ausência do modo online. Como também tive acesso à versão de PC de Tropico 6, consegui sentir muito a falta deste recurso na versão para Switch. Nada sobre a inclusão do online no console da Nintendo foi comentado até agora pela Kalypso Media, e acredito que nunca chegará por causa de cortes de custos – e olha que a versão para Switch é bem cara. É uma pena porque, apesar de Tropico 6 oferecer um modo Sandbox como há muito tempo é presente na franquia, jogar com amigos através da internet é uma experiência sem igual. O multiplayer de Tropico 6 é extremamente divertido, e nele é possível estabelecer qual objetivo será necessário cumprir para vencer a partida, com ambos os jogadores se enfrentando em tempo real.
Você é quem decide
Ser um ditador nunca foi tão divertido! Tropico 6 é extremamente cativante, e provavelmente o melhor da franquia até o momento. Apesar de sua complexidade um pouco elevada para quem chegou agora, em alguns minutos já é possível entender como tudo funciona. Algumas decisões melhores de interface resolveriam o problema de consulta excessiva ao Almanaque, mas nada que atrapalhe de forma extrema a jogabilidade.
Muitas novidades são completamente bem-vindas no sexto jogo da série, e com certeza renderão milhares – sim, eu disse milhares – de horas de diversão. Mais uma vez temos o modo Sandbox existente, como também o modo Missões, em que objetivos específicos são estabelecidos. Porém, o modo online certamente é uma perda muito grande para a versão de Switch. Por fim, sacrifícios naturais para rodar um jogo desses no console da Nintendo já eram esperados, mas acredito que a performance ainda precisa melhorar um pouco para se manter estável em ambientes mais populosos. Ah, o jogo está em português brasileiro!
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami
Tropico 6
Prós
- Localização em português
- Arquipélagos
- Modo Sandbox
- Suporte à toques na tela
Contras
- Performance precisa melhorar
- Visuais e borrados em excesso
- Modo online inexistente
