Twin Mirror é um game narrativo criado pela Don’t Nod em parceria com a Bandai Namco. O título chegou no fim de 2020 sem chamar muita atenção, apresentando ótimos conceitos embalados em uma narrativa chocante e introspectiva. O jogo é ótimo, mas existem alguns problemas em relação à sua apresentação e ao ritmo da trama propriamente dita.
Desenvolvimento: Don’t Nod, Shibuya Productions
Distribuição: Don’t Nod, Bandai Namco Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: 16 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, Xbox One, Xbox Series X|S, PS4
Duração: 5 horas (campanha)
Um mistério complexo
Twin Mirror coloca o jogador na pele de Samuel Higgs, um jornalista que está retornando a sua cidade natal após dois anos para o velório de Nick, seu melhor amigo. Enquanto lida com o luto, Sam precisa confrontar as consequências de suas escolhas passadas, ao mesmo tempo em que se vê envolvido em um caso de assassinato e uma conspiração relacionada às circunstâncias da morte de seu amigo. Ao longo da campanha, Sam conta com a companhia de um amigo imaginário, que o guia com questionamentos e observações pertinentes a cada situação retratada.
Além do tradicional foco cinematográfico da Don’t Nod, Twin Mirror proporciona uma experiência centrada em investigações. Em várias cenas, é necessário examinar o cenário minuciosamente em busca de pistas para avançar na história. Entretanto, encontrar essas dicas é um pouco complicado, pois a interface nem sempre indica que um objeto pode ser interagido pelo protagonista, até quando ele está na cara de Sam.
Cabe ao jogador decidir como Sam deve agir com as outras pessoas de sua cidade, podendo optar por ser agressivo ou compreensivo, agindo de acordo com seus pensamentos de maneira analítica ou social, com tudo ficando registrado em seu diário. As escolhas impactam somente na reta final do jogo, já que são poucas delas que causam mudanças significativas nos rumos da trama.
Samuel também pode coletar memórias e visualizá-las em um palácio mental, o que propicia um dinamismo excelente para a construção da identidade do protagonista, além de auxiliar na elucidação dos acontecimentos da história. O personagem principal tem a capacidade de criar deduções e hipóteses para solucionar os mistérios, e tudo acontece de forma interativa, juntamente com as tradicionais escolhas.
Curto e bom
A trama apresentada é sensacional, sendo um drama extremamente interessante marcado por boas decisões criativas, como a presença de um protagonista deslocado do lugar onde nasceu. Essa escolha caiu como uma luva para situar o jogador no mundo de Basswood, deixando-o tão perdido quanto Sam nos momentos iniciais do enredo.
No entanto, Twin Mirror é um jogo com um orçamento menor em comparação com outros títulos da Don’t Nod – que, por sua vez, já não tinham um orçamento tão alto. Isso é visível em vários fatores, como na trilha sonora, que não é memorável, e na duração da história, que tem cerca de cinco horas.
Os produtores ainda decidiram priorizar os dramas pessoais dos personagens do que o mistério em si, e essa não foi uma má escolha. Contudo, o conjunto da obra deixa um pouco a desejar, já que a narrativa poderia ser mais completa se houvesse um foco equilibrado para todos os aspectos distintos da trama.
Tecnicamente ruim
O grande problema de Twin Mirror são os mesmos que afetam os jogos que a Don’t Nod vem lançando desde 2013. O lado técnico é decepcionante, começando pelas telas de carregamento que frequentemente interrompem a narrativa e a exploração.
As animações faciais não conseguem transmitir adequadamente as expressões dos personagens durante as cenas, e há diversos erros de renderização nas sombras e espelhos dos cenários. A apresentação poderia ter recebido mais atenção por parte dos responsáveis, já que falhas como essas prejudicam consideravelmente uma experiência que é mais assistida do que jogada.
A cinematografia é competente, com cenas bem posicionadas e iluminadas, Porém, alguns momentos são afetados por uma falta de qualidade nas texturas, que possuem uma definição tão baixa a ponto disso ser perceptível no decorrer das cenas. Não há dublagem em português, mas o jogo é apresentado com boas legendas, que passam perfeitamente toda a narrativa para o público nacional.
Legal, mas com ressalvas
Twin Mirror não foge de nenhum padrão que foi estabelecido pela Don’t Nod em suas empreitadas anteriores, mas não deixa de apresentar uma história interessante. Sem se estender, o jogo é um bom suspense psicológico e introspectivo, mas que apenas poderia ter sido mais polido por seus criadores.
Cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Ailton Bueno