O sucesso de títulos pensados para jogarmos com amigos e dar boas risadas não é fruto da pandemia, mas certamente foi potencializado pela nossa realidade em 2020. Temos o exemplo dos viralizados Fall Guys e Among Us como os grandes nomes da jogatina em grupo. Há, entretanto, outros títulos proporcionando uma experiência similar e buscando a atenção dos jogadores. Unrailed! é um destes.
Assim como o citado Among Us, Unrailed! já está circulando entre os jogadores há algum tempo. Em acesso antecipado por cerca de um ano, o título foi atualizado em setembro para sua versão 1.0, sendo publicado também para Nintendo Switch e PlayStation 4 – a versão para Xbox One está em desenvolvimento no momento desta publicação.
Desenvolvimento: Indoor Astronaut
Distribuição: Daedelic Entertainment
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Arcade, Party
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: Switch, PS4, Xbox One e PC
Duração: Sem registros
Jogar é construir trilhos de trem
Pensado como uma experiência cooperativa – até mesmo no modo de confronto estamos em equipes – Unrailed! faz os jogadores correrem contra o tempo para construir trilhos e fazer um trem chegar ao seu destino. O trem se move em uma dada velocidade – que aumenta conforme avançamos – e cabe aos jogadores interagirem com o cenário para construir a rota do ponto inicial até a estação final.
Essa interação se dá através da coleta de recursos. Com o machado pode-se cortar árvores e conseguir madeira, e com a picareta destruir rochas e minerar ferro. São atividades de propósito duplo: além de gerarem os necessários recursos, são essenciais para retirar mata e pedras do caminho, abrindo espaço para a construção dos trilhos.
Outra mecânica importante é usar o balde para pegar água e esfriar os vagões do trem quando estes começam a pegar fogo. Perder pedaços do trem pode inutilizar algumas funções e sistemas de jogo atrelados a eles. Uma destas funções, por exemplo, é a criação de trilhos.
Criar trilhos é essencial, e a forma de fazê-lo é levando matéria prima até um dos vagões do trem, retirando os trilhos prontos de outro. Alguns perigos já aparecem de cara, pois existem ladrões dispostos a roubar recursos. Dessa forma, é crucial saber quando ignorar e quando se opor aos furtos. Para impedir os gatunos basta atacá-los com machado ou picareta.
Estas são as peças e mecânicas básicas de Unrailed!. Apenas com estas o título consegue divertir e engajar em uma bela partida cooperativa. Mas o jogo ainda traz algumas outras surpresas em seus vagões.
Mapas aleatórios
Os mapas nos quais devemos acompanhar nosso trem e construir a rota são gerados aleatoriamente. Unrailed! é, em descrição oficial, um Roguelike cooperativo. Nosso objetivo – no principal modo de jogo – é chegar o mais longe possível, e tanto cada área quanto cada partida são criados de forma randômica.
Temos como consequência disso o centro da proposta de jogatina do título: ao se deparar com uma nova área, os jogadores devem planejar a rota do trem e executar a construção dessa rota. Fosse um título de estágios fixos, soluções fixas também surgiriam.
O planejamento é pivotal aqui. Como temos o trem ditando nosso ritmo e nossa corrida contra o tempo, não é incomum tentarmos resolver os obstáculos do momento da forma mais rápida e, como consequência, gerar problemas no futuro. Unrailed! te desafia a conseguir olhar o ambiente e pensar o melhor plano enquanto te apressa com o andar do trem.
Um ponto importante nessa questão do planejamento é que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Não é possível atravessar outro jogador ou mesmo o trem – com a exceção vinda da compra de um vagão específico. Assim, é importante planejar não apenas a rota do trem, mas a rota que os próprios avatares deverão fazer, afinal todos terão tarefas e precisarão correr de um lado pro outro.
Temos outras interações que vão aparecendo com o tempo e em novos biomas – os “mundos” do jogo. É preciso construir pontes sobre água, se movimentar de forma mais lenta no gelo, e por aí vai.
Velozes e furiosos
No principal modo de jogo, endless, cada área finalizada nos leva a uma outra. Entre áreas, é possível gastar os parafusos de ouro para desbloquear melhorias: novos vagões, melhor performance dos existentes e até mesmo um novo motor.
Geralmente os novos vagões nos trazem formas inéditas de interagir com o ambiente. Existe, por exemplo, o vagão fantasma – aquele, incrivelmente útil, que nos possibilita ir de um lado pro outro atravessando o trem – além de um usado para construir dinamites – outro importante equipamento que nos ajuda a limpar áreas e coletar recursos rapidamente. Existe, ainda, um vagão para transformar madeira em ferro e vice-versa.
São três as formas de conseguir os parafusos de ouro usados na compra de melhorias: terminar o trecho, realizar missões extra ou coletá-los em locais do próprio estágio. Cada uma dessas se relaciona de forma distinta com o nosso objetivo.
A primeira – levar o vagão ao destino e completar a área – condiz exatamente com nosso objetivo de curto prazo. A segunda – completar as missões paralelas – geralmente nos ajuda com o objetivo, visto que costuma presentear a realização de atividades úteis como por exemplo “os três jogadores devem cortar árvore pelo menos uma vez”.
Eventualmente isso pode gerar confusão se a forma de organização do time for a de divisão de tarefas específicas para cada um. Nada que não possa ser resolvido com uma leve variação, mas em estágios mais rápidos a coisa pode complicar.
A terceira maneira de conseguir os parafusos dourados é buscando-os no mapa. Quando aparecem, ficam em lugares escondidos e distantes da rota inicial. Sendo assim, esta maneira é aquela que atrapalha nosso objetivo da área – o de curto prazo – mas gera uma vantagem no longo prazo.
Por entre biomas e outros modos
Uma importante melhoria se dá através da compra de um novo motor. Quando estes vagões específicos são comprados, temos acesso a um novo bioma. Cada um destes traz aspectos e interações diferentes. No deserto temos os camelos que bebem a água. Na neve nos locomovemos de forma mais vagarosa, e ainda existem iétis. No bioma do dia das bruxas a câmera é ocasionalmente invertida deixando o mundo de cabeça pra baixo.
Este último dialoga de maneira desafiadora com nossas atividades centrais de planejar e executar a melhor rota, mas costuma ser divertido. Isso tudo ocorre no modo “sem fim”, porém Unrailed! ainda traz outros modos: o “rápido”, uma corrida contra o tempo para terminar um único estágio, e o “versus” – corrida entre times para levar o trem ao lugar mais rápido.
Todos os modos são mais divertidos entre amigos, é claro, mas a comunicação com pessoas pareadas pelo matchmaking (as quais não pude interagir através de chat de voz) é competente: é possível definir tarefas e propor rapidamente uma rota aos colegas. A parte negativa é justamente a demora para encontrar outros jogadores na versão de Nintendo Switch.
Unrailed! é diversão entre amigos e também entre pessoas desconhecidas. Nos desafia a planejar e executar a melhor rota para nosso trem enquanto corremos para lá e pra cá interagindo com o ambiente e seus desafios. Traz uma proposta diferente e prazerosa de utilização da geração aleatória de ambientes.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock