Alguns jogos passam despercebidos pelo público e crítica por causa da quantidade de lançamentos ou de tendências que acabam surgindo. Welcome to Elk foi mais um desses casos de anonimato, não vi ninguém comentando nada sobre ele mesmo se destacando do estilo da maioria dos jogos atuais com sua arte linda. Mas ele se sustentaria somente pela sua arte?
Desenvolvimento: Triple Topping
Distribuição: Triple Topping
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação indicativa: 14 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: Xbox One e PC
Duração: 3 horas (campanha)/4 horas (100%)
Estiloso e intuitivo
A primeira coisa que me chamou a atenção para o jogo foi seu estilo artístico que foge do “padrão” atual e traz uma estética que me lembra os quadrinhos europeus. E não que desgoste da arte que os jogos independentes têm adotado, mas nos últimos anos tenho a sensação que uma parte deles só seguem uma “fórmula” com base nos títulos de maior sucesso (isso em si não é ruim) do que tentam verdadeiramente criar um estilo próprio.
Felizmente existem vários desenvolvedores e estúdios como a Triple Topping (responsável por Welcome to Elk) que continuam apostando na sua personalidade e no que querem fazer, ao invés de tentar seguir uma tendência. A estética de Elk tem um propósito além de mostrar a identidade do estúdio, que é deixar o jogo mais intuitivo para o jogador, indicando quais partes você pode interagir por causa da cor.
Se um objeto está colorido entendemos que pode se realizar alguma ação, caso contrário só podemos ver o contorno do desenho com um fundo branco e não interagimos. É simples e com certeza não foi inventado aqui, mas é feito de uma maneira tão intuitiva e charmosa que me faz pensar que muitos títulos AAA não sabem colocar os objetivos de maneira clara, e vem um estúdio indie e mostra que às vezes a simplicidade é o melhor caminho.
Outra coisa que me surpreendeu positivamente além de sua arte muito charmosa foi a jogabilidade, não esperava que fosse tão divertido e com objetivos tão diversos.
Diversidade nos Minigames
Sua jornada nessa ilha acontece em alguns dias e pode explorar algumas partes para ver algumas coisas a mais, mas a história principal é muito focada e relacionada diretamente com ela, temos a parte mais divertida, os minigames – e sempre temos pelo menos um por dia. Tem uma variedade muito considerável pelo tamanho do jogo, só me lembro de um minigame ser repetido e a existência deles tem um propósito narrativo muito bom – mesmo.
Não vou comentar todos os minigames para preservar algumas surpresas para quem decidir jogar, mas aqui vão dois dos meus favoritos. Um parece o brinquedo Genius, onde temos que decorar a direção que uma personagem nos fala e fazer igual, é claro que tem algumas reviravoltas no meio que deixam ele mais divertido. Outro que gostei muito foi o de cantar, não existe uma melodia que tem que ser seguida, somos nós que criamos e tudo fica muito bonito musicalmente.
Alguns minigames dariam um jogo completo para App Store e Play Store, um deles tem uma mecânica idêntica a de um título que saiu ano passado, por exemplo. Mas eles acabam sendo utilizados por poucos minutos e seguimos com a história já que todos estão ligados diretamente por ela. Aqui fica claro qual é a principal parte de Welcome to Elk: as suas histórias – e esse também é um dos pontos mais complicados.
A motivação das histórias
Talvez em algum momento de sua vida você tenha se perguntado “Por que contamos histórias?”. Bom, pelo menos eu fiz muito isso e principalmente depois de acompanhar uma que não parecia ter necessidade de existir. Mas a resposta para essa pergunta é muito simples: nós contamos histórias porque fazemos isso desde sempre, conseguimos explicar coisas complexas através de formas mais simples e humanizamos situações difíceis. Mas como tornar isso instigante para o público?
Existem muitas técnicas, mas as principais coisas que uma história precisa para ser interessante são: motivação do personagem (seja real ou fictício), algumas regras daquele universo e, por fim, o que eu quero dizer com o que estou contando e por que é interessante? Existem mais coisas, mas essas são as básicas que todo contador de história tem que responder para ele mesmo durante a elaboração de uma história.
Welcome to Elk é um jogo que tem como objetivo contar histórias reais e parece muito interessante alguém tentar fazer isso nessa mídia, mas não foi bem feito porque ele tenta contar várias histórias reais sem correlação umas com as outras. E não só isso, muitas histórias não tem o mínimo motivo para estar dentro do jogo, porque não existe motivação em nenhum aspecto (nem moral), não respeita as regras do universo e é tudo menos interessante.
Parece que eles tinham algumas histórias reais interessantes e quiseram fazer um jogo todo com base nisso, mas se esqueceram de que pegar as que eram bem contadas e colocar em uma ordem que fizesse sentido dentro de uma narrativa maior, porque não existe nenhum sentido na história principal. Toda a técnica que existe na direção artística não está presente no contar das histórias – ou storytelling.
Eu realmente gostei da arte de Welcome to Elk e de todas as decisões tomadas para tornar ele mais intuitivo, foi um refresco artístico muito bom e necessário para mim. Os minigames também são únicos e muito divertidos, inclusive se algum deles sairem para Play Store eu baixo porque são bons mesmo, mas o problema do jogo é a história. Em vários momentos me perguntava “por que isso está acontecendo?” e na maioria das vezes não obtive resposta.
É um grande erro dos roteiristas em terem deixado essas histórias que não tinham motivações dentro do jogo final, coisas que não acrescentam narrativamente precisam ser tiradas e se está ali deveria dizer alguma coisa, mas ele conta histórias reais sem nenhum motivo.
Este review foi feita com uma cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock