Em uma ilha paradisíaca e cheia de mistérios, descubra o que aconteceu com uma expedição desaparecida, resolva os enigmas espalhados por toda a ilha e desvende a assustadora verdade sobre o que espreita nas sombras do ensolarado Taiti.
Desenvolvimento: Out of the Blue Games
Distribuição: Raw Fury
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Puzzle, Walking Simulator
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e Interface
Plataformas: PS4/PS5, Xbox One,Xbox Series X/S e PC.
Duração: 6 horas (campanha)/7.5 horas (100%)
Expedição no paraíso perdido

Lovecraft encontra Disney e Júlio Verne em um bar. Parece o início de uma piada ruim, mas é uma excelente forma de apresentar de maneira resumida as principais referências por trás da aventura extremamente singular que é Call of the Sea, a obra de estréia da desenvolvedora Out of the Blue, publicada pela Raw Fury.
O jogo mistura puzzles desafiadores e uma narrativa intrigante em uma premissa bastante incomum. A protagonista, Norah Everhart, sofre de uma doença misteriosa que a obriga a usar uma bengala e traz toda sorte de dores e dificuldades. Seu marido, o arqueólogo Harry, decide montar uma expedição a uma ilha afastada na costa do Taiti, em busca de uma possível cura para a sua doença. Alguns meses se passam e Norah recebe um cartão postal do marido pedindo que ela o encontre na ilha.

É neste ponto que controlamos Norah, que chega à costa desta ilha singular e não encontra nada além de um acampamento abandonado e algumas pistas sobre o paradeiro da expedição de Harry. É o início de uma jornada surreal em um ambiente exótico e sombrio, onde o sol brilha o tempo todo mas algo espreita nas sombras. Dividido em sete capítulos, a aventura de Norah traz o entusiasmo por desbravar o desconhecido que é tão recorrente nos livros de Verne e o fascínio por aquilo que nos amedronta como na obra de Lovecraft.
Os jogadores mais cautelosos podem soltar um suspiro de alívio, pois o terror lovecraftiano não tem vez em Call of the Sea, pois a aura de mistério e fascínio com o sombrio permeiam todo o jogo mas sem os monstros aterrorizantes comuns aos games de horror que bebem nessa fonte.
O foco de Call of the Sea é sem sombra de dúvidas a exploração da ilha, apresentando mecânicas de point-and-click modernizadas em que a maioria dos itens espalhados no cenário estão disponíveis para interação e há uma considerável quantidade de backtracking em cenários previamente explorados. Durante a jornada, Norah encontra cartas e fotografias tiradas pelos membros da expedição e muitas delas são narradas ao jogador, um detalhe que contribui em muito para o desenvolvimento dos personagens secundários e aprofunda ainda mais sua solidão durante a jornada.
Admirável Mundo Novo

Call of the Sea tem cenários extraordinários e o estilo cartunesco escolhido pela direção de arte faz os elementos surrealistas e as cores extremamente vibrantes desse ambiente fantástico se apresentarem em todo seu esplendor. Engana-se quem acredita que por ser ambientado em uma ilha, Call of the Sea estaria restrito ao dualismo de praia e floresta tropical. As ruínas de uma antiga civilização, os diversos acampamentos abandonados pela expedição de Harry e um incrível e belíssimo universo subaquático são alguns dos cenários que exploramos e todos eles são sabiamente conectados à ilha ao longo da narrativa.
Há uma nítida curva de dificuldade nos puzzles encontrados ao longo da jornada, interessante especialmente aos iniciantes neste gênero. Cada capítulo traz no mínimo três puzzles em um crescendo de dificuldades e habilidades exigidas.

Assim como visto na franquia Uncharted, Norah traz consigo uma espécie de diário que registra os arquivos e documentos encontrados e também desenha e faz anotações referentes aos diversos quebra-cabeças que se depara. É importante interagir com todo o ambiente, pois as pistas podem se esconder nos locais mais improváveis e muitos enigmas não são possíveis de resolver sem as informações corretas em mãos.
À medida que descobrimos mais a respeito da civilização antiga que habitou a ilha e por consequência como funcionava suas construções e barreiras de proteção, resolver os enigmas se torna uma tarefa muito mais fluida e orgânica. Em todo o jogo houve apenas dois momentos em que não soube o que fazer e tive que reler alguns arquivos e avaliar o enigma através de uma outra perspectiva. Uma boa ideia é ter sempre por perto papel e caneta, especialmente em alguns puzzles que dependem mais da capacidade de orientação visual e memória.
Entre dois mundos

Combinado à enigmática civilização antiga e aos fascinantes mitos cósmicos, temos o sólido relacionamento e o forte laço de amor e companheirismo que une Norah e Harry, perceptível através dos monólogos de Norah ao longo da jornada e também através das inúmeras cartas escritas por Harry durante a expedição que ela encontra nos acampamentos abandonados.
Call of the Sea utiliza diversos elementos fantásticos e os enlaça com uma sólida narrativa emocional sobre companheirismo, identidade e autoconhecimento, e o faz com absoluta maestria, conectando todos os diversos elementos como estrelas em uma das constelações que apreciamos durante o jogo.

Aos entusiastas por colecionáveis, Call of the Sea traz pelo menos um item secreto por capítulo, perfeito para aqueles que não deixam pedra sobre pedra durante a exploração dos cenários, além dos diversos arquivos e murais. Completar todos os murais libera um troféu e aqueles que não conseguirem reunir todos em uma única jogatina não precisam se preocupar, pois após o fim do jogo é possível visualizar em cada capítulo a porcentagem dos registros do diário alcançadas e a quantidade de murais presentes no episódio, além do registro do item secreto do capítulo, facilitando e muito a vida dos complecionistas que não precisam jogar tudo do zero novamente.
Perto do final, Norah deve tomar uma decisão que leva a um dos dois finais possíveis e é permitido salvar logo antes desse momento, evitando assim ter que jogar o último capítulo do início – algo que agradeço imensamente, pois não é comum nos jogos narrativos essa benesse. Em resumo, Call of the Sea une elementos fantásticos e puzzles de qualidade a uma narrativa surpreendentemente humana, em um ritmo singular que agradará a todos que gostem de games narrativos. Sua amigável curva de dificuldade agradará em especial os jogadores casuais e iniciantes no gênero de puzzles.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores.
Revisão: Kiefer Kawakami