West of Dead é um estilosíssimo “bangue bangue” no purgatório, onde você controle um atirador com cabeça de caveira, chamado William Mason, e um fogo queimando em seu crânio. E, bom, não é pra todo mundo. O jogo se trata um twin stick shooter com foco muito grande em cobertura, onde você deve usar os dois analógicos para comandar o personagem. A restrição por aqui fica por conta do gênero Roguelite. Apesar de ser uma escolha que automaticamente segmenta o público para um bem mais específico, tudo pode se tornar mais agradável se feito da maneira certa.
Desenvolvimento: Upstream Arcade
Distribuição: Raw Fury
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tiro, Ação e Aventura
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 11 horas (campanha)/ 37 horas (completo)
Roguelite está em alta
Entende-se por Roguelite um jogo que tem elementos gerados proceduralmente, seja em suas fases, armamentos, possibilidade, inimigos, etc. Podemos dizer que a última experiência nunca será igual à anterior. Ou seja, você pode muito bem gastar uma vida de seu personagem para retornar ao jogo e nada será como minutos atrás.
Porém, é importante lembrar que o Roguelite é bem menos punitivo do que o famoso Roguelike. O lite justamente se refere à alguma quantidade de progresso que se mantém salvo mesmo após sua derrota. Portanto, upgrades, itens adquiridos e o avanço no enredo continuam ali, mesmo que estruturalmente o jogo se repita e te mande ao início para tentar de novo. É uma fórmula em alta, e muitos produtos vêm sendo lançados com este tipo de escopo, seja porque supostamente torna o desenvolvimento mais facilitado por existir ali um conteúdo sendo gerado por uma inteligência artificial em toda rodada (chamada comumente de run), ou porque é possível extrair um grande nível de fator replay fazendo uso deste gênero – porém, fica o perigo da repetição.
Recentemente tive experiências bem ruins com Enter the Gungeon, um outro título que aplica o Roguelite em seu gameplay. Porém, esse jogo da Devolver Digital acabou sendo algo que me marcou negativamente, por causa de seu sistema punitivo e sentimento bastante raso de esforço e recompensa somado ao inferno de balas para todos os lados. Não importava quantas vezes eu tentasse, sempre sentia que não havia avançado nada por conta de não ser capaz de sobreviver durante muito tempo. Pior ainda, as recompensas eram poucas e muito lentas de se adquirir. O problema sou eu? Quem sabe. Mas fato é que jogos altamente punitivos, e que premiam pouco o jogador pela sua tentativa e erro, geralmente perdem muitos pontos com gamers mais casuais.
Dito isso, West of Dead me fez torcer o nariz ao saber que trazia o Roguelite consigo. Fiquei com receio de ter os mesmos sentimentos de Enter the Gungeon mais uma vez. Bom, eu estava parcialmente errado, e parece que a desenvolvedora Upstream Arcade soube fazer o seu trabalho bem, mas esqueceu de ampliar os meios de acessibilidade.
Pague seus pecados, ou troque por itens
West of Dead se passa num purgatório, um local conhecido da religião Católica Apostólica Romana para onde os mortos são enviados antes de terem seu destino e julgamento final definido. Você controle o protagonista William Mason (dublado por Ron Perlman, mais famoso por atuar como Hellboy), um pistoleiro com um crânio em chamas e roupas escuras com detalhes vermelhos. O personagem inicia num bar, onde o taberneiro (como todo bom profissional da área, passando pano em uma caneca ou louça qualquer) conta um pouco sobre o local onde Mason se encontra, enquanto o aconselha a tomar cuidado.
Sua principal missão é desbravar todos os cantos completamente escuros desta passagem entre o céu e inferno, eliminando toda e qualquer criatura em seu caminho. Não é uma tarefa muito fácil, visto que inimigos altamente atentos estão à espreita para descer a bala em você, como também criaturas ferozes e infernais irão ter perseguir caso tente dar o fora.
A jogabilidade segue uma linha constante de se adentrar salas, explorar outras, eliminar inimigos e ativar círculos de chamas que guardam seu progresso temporariamente para ser interrompido quando quiser – até mesmo podemos encerrar o jogo e retomar depois. Eliminando inimigos, existe uma chance de que o protagonista consiga esferas brilhantes simbolizando pecados, os quais são moedas de troca para realizar upgrades.
No canto inferior da tela ficam as informações de quantos pecados já foram coletados, como também a quantidade obtida de ferro – item adquirido após eliminar inimigos, o qual pode ser usado para comprar itens -, e um mini mapa que serve para nos orientarmos em relação aos locais já explorados. A visão muitas vezes é isométrica nos corredores, quase vista completamente de cima, mas um pouco inclinada. Porém, ao chegar nas salas onde os confrontos acontecem, de forma inteligente a visão se afasta e permite uma visão geral no lugar. Considero algo bastante útil, já que é necessário ficar de olho o tempo todo em inimigos existentes por ali, apesar de que todos parecem te ver mesmo que você esteja dentro de um ponto cego do oponente.
Bangue bangue no capeta
No início do primeiro andar, existe sempre uma pistola, ou carabina, e uma escopeta para iniciar sua jornada – de nível 1 -, mas ambas possuem atributos bastante baixos já que se trata do primeiro nível do jogo. É possível equipar cada arma em uma das mãos, tendo os botões ZR e ZL atrelados às cada uma delas. Sua munição carrega sozinha quando o armamento para de ser disparado. Além dos tiros, podemos adquirir habilidades equipáveis nos botões L e R, como também esquivar com o B e utilizar itens consumíveis com o Y – e usar este mesmo botão para iniciar conversas e interagir com objetos e personagens, mas que faz você ficar rolando no chão enquanto pula as falas.
Suas principais ações em combate serão uma alternância entre tiro, cobertura e esquiva, esta última apresentando o famoso movimento Bullet Time dos jogos Max Payne, onde tudo se move em câmera lenta ao desviar no momento exato da bala quase atingir o personagem. Além do básico, podemos usar lâmpadas nos ambientes que iluminam e melhoram sua visibilidade, ao mesmo tempo que paralisam inimigos por alguns poucos segundos quando acesas. Isso acaba tornando os confrontos um pouco mais dinâmicos, tudo por causa destes momentos rápidos de vulnerabilidade do oponente.
Mesmo assim, não se engane, pois os inimigos são brutais e tiram bastante vida de Mason, o que infelizmente não pode ser alterado já que não existe opção de dificuldades no jogo ou de chance extra. Considero isso um erro, já que é uma escolha que restringe o público aos mais persistentes e fãs de fórmulas punitivas, mesmo com upgrades disponíveis que facilitam um pouco o jogo ao serem armazenados. Apesar disso, West of Dead é bastante divertido no quesito controles com seu twin stick shooter muito bem feito, exceto a mira automática que parece errar quase sempre.
Para evitar isso, é necessário segurar alguns segundos até duas setas frente ao personagem se encontrarem, simbolizando uma precisão maior – e isso mesmo cara-a-cara com o inimigo. Isso poderia ter sido facilmente resolvido adicionando uma opção de mira automática mais agressiva, algo existente em muitos jogos que exigem o uso dos dois analógicos para fazer o trabalho de andar e mirar. Mas a sacada é sempre ficar de ouvido atento aos sons que os inimigos emitem quando estão prestes a atacar para começar a segurar o comando de tiro para uma maior precisão, e por causa disso foi possível para mim ter uma experiência bem melhor – com fones de ouvido – por entender as dicas que o jogo dá para dominar a jogabilidade como um todo.
Uma vez encontrado a saída do andar, somos enviados ao covil da Bruxa – uma espécie de hub – onde podemos gastar nossos pecados, recuperar os pontos de vida e etc. Neste local, alguns itens são possíveis de equipar permanentemente em Mason, como o cantil que recupera uma saúde extra e é restaurado no hub, num barril com líquido verde junto ao taberneiro. Porém, outros são vendidos (como armas e habilidades) para surgirem em alguns locais do jogo, funcionando mais para serem habilitados no lugar de melhorar atributos do protagonista sob os inimigos de fato.
Upgrades de apoio
As maiores vantagens são geralmente os equipáveis temporários que duram apenas até a sua morte, como pistolas com altos valores de danos e níveis maiores, escopetas brutais; altares que permitem aumentar atributos como barra de vida, ataque e eficiência de habilidades; e afins. Após a obrigatoriedade de gastar todos os pecados na Bruxa antes de prosseguir, o taberneiro te espera entre o covil e o portal para o próximo andar com um barril onde é possível beber o conteúdo para completar a vida do personagem e encher, novamente, o cantil.
A cada andar alcançado, a ambientação muda, assim como os inimigos que surgem em espécies diferentes, como cães do inferno e demônios gigantes equipados com lâminas letais que podem acabar com a sua “vida” em instantes. Existem cenários como criptas, locais gélidos, fazendas, pântanos, minas e etc. Também é possível encontrar chefes em salas específicas, ou foras-da-lei para eliminar e que recompensam o jogador com memórias resgatáveis na Bruxa. Por fim, o ciclo de jogabilidade se repete, girando em torno da tentativa e erro, mortes aos montes, inimigos variados que se tornam mais inteligentes a cada andar e um teste de paciência constante.
A versão de Nintendo Switch roda muito bem e com pouquíssimos detalhes negativos. Slowdowns são raros, mas é um pouco perceptível alguns locais do cenário apresentando uma linha branca piscando, provavelmente simbolizando – sem querer – onde a modelagem das paredes e chãos em 3D terminam. Mesmo assim, é um port muito bem trabalhado com excelente resolução e gráficos, ficando atrás das outras versões apenas em questões de acessibilidade, como uma mira automática mais agressiva ou aumento de brilho (coisas já vistas no jogo para PC). Muito disso se deve à demora das empresas de consoles levarem um tempo para avaliar o pacote de atualizações e aprovar, o que não acontece em versões de jogos no PC.
O erro de muitos roguelite
West of Dead sem dúvidas é um excelente jogo, mas para quem tem paciência. Infelizmente ele comete os mesmos erros de muitos Roguelite ao não oferecer nenhum tipo de acessibilidade na hora de passar pela experiência de tentativa e erro, resultando em algo muito punitivo que com certeza afastará jogadores menos compromissados.
Mesmo em suas versões mais atualizadas em outras plataformas não há uma forma de diminuir a dificuldade, então fica difícil indicar o jogo para o público geral. Suas recompensas também não são as melhores, o que acaba passando a sensação de muito esforço e ingratidão por parte da jogabilidade. É aquele tipo de game onde você passará muita raiva, e cairá numa profunda repetição por ter morrido tantas vezes sem ter uma segunda chance. Se sua praia é Roguelite e mecânicas de cobertura, vai fundo, pois é um dos melhores que já joguei. Caso contrário, passe longe de tamanha punição.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores