Acredito que seja consenso dizer que o ano de 2023 foi muito generoso com quem gosta de videogame. Em meio a tantos lançamentos de peso, a Team Ninja – mesmo estúdio que desenvolveu Nioh – nos brindou com um novo jogo que foi sucesso de vendas e de crítica. Trata-se de Wo Long: Fallen Dynasty. Cerca de um ano após seu lançamento inicial, o título retornou no início deste mês em sua Complete Edition. Esse é um pacote robusto, que contém todas as três expansões pagas lançadas (Revolta em Jingxiang, Conquistador de Jiangdong e Batalha de Zhoungyuan) e mais alguns extras, como armaduras, novas armas e personagens.
Desenvolvimento: Team Ninja
Distribuição: KOEI TECMO America
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, RPG
Classificação: 16 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
A Rebelião dos Turbantes Amarelos
A História da formação da China ganha contornos maiores na época da luta pelo domínio da região pelos Estados independentes formados durante a dinastia Zhou. Essa época ficou conhecida como o Período dos Reinos Combatentes e só terminou com a vitória do reino de Qin, do governante Ying Zheng. A dinastia que sucedeu a Qin, foi a dinastia Han. Nesse período, houveram novas batalhas pela supremacia da região e é justamente nos últimos anos dessa dinastia que o jogo se situa. Wo Long, no entanto, acrescenta mais camadas a sua narrativa, pegando emprestado alegorias do folclore chinês.
A história foca na busca dos soberanos pelo Elixir, uma droga mística que aumenta o Qi, conferindo àqueles que o ingerirem força sobre-humana. A energia do bem (Yang) é chamada de Qi Genuíno. No entanto, o mal uso do Elixir e a própria ganância e violência humana podem despertar a energia Yin, dando ao Qi um status que transforma pessoas em demônios. Em Wo Long, controlamos um soldado de milícia anônimo, usuário do Qi Genuíno, que inicialmente precisa ajudar a conter a Rebelião dos Turbantes Amarelos, um conflito religioso liderado por Zhang Jiao, o taoísta de preto.
Soulslike em sua essência
Soulslike em sua essência, Wo Long segue a mesma cartilha dos RPGs imortalizados pela From Software. Dito isso, é bom salientar que o jogo é difícil (a dificuldade escalona de forma atípica em alguns momentos), possui um combate bem cadenciado, em que devemos fazer bom uso de esquivas, parries (defletir) e defesas para superar as forças inimigas. Apesar de não haver as clássicas divisões de classes, comum nesses jogos, a boa variedade de armas e equipamentos existentes nos permitem construir um gameplay que imprima nossa própria identidade na jogatina.
As armaduras e armas guardam consigo efeitos especiais de buff e debuff, que podem ser customizados mais pra frente. As armas possuem ainda um atributo a mais chamado de Artes Marciais, que usa o Qi para desferir um golpe violento no adversário. Ao final de cada campanha, é juramentada uma aliança. Com esse juramento, novos aliados poderão ser recrutados para nos acompanhar no campo de batalha.
Também nos é concedido o poder de uma Fera Divina – uma espécie de alma de um animal místico protetor, que pode ser invocado para nos auxiliar brevemente durante o combate ativa (desferindo um ataque) ou passivamente (nos concedendo atributos de acordo com a sua natureza, através da ressonância). Pode parecer muita coisa para absorver, mas a curva de aprendizagem das mecânicas presentes é bem satisfatória. E tudo é bem explicado para deixar o jogador a par do que pode ou não ser feito durante o jogo.
Invista bem o Qi Genuíno sem deixar a moral de lado
A progressão é linear e dividida em grandes arenas de combate. Conforme avançamos pelo campo inimigo, hasteamos bandeiras para demarcar o território e elevar a moral do nosso personagem e dos NPCs que nos acompanham nas batalhas. Esses locais funcionam como as fogueiras de Dark Souls, que além de darem respawn nos inimigos abatidos, servem – dentre tantos – como pontos de salvamento, liberar e definir magias, descanso, convocação de aliados e subir de nível utilizando o Qi Genuíno.
As melhorias em nosso personagem são distribuídas se baseando nas cinco fases do Yin-Yang (Madeira, Fogo, Água, Metal e Terra), concedendo virtudes que melhoram nossos atributos mágicos, ofensivos, defensivos e até mesmo a quantidade de equipamentos que podemos carregar. Tudo depende em qual dos cinco atributos iremos investir o Qi Genuíno, adquirido dos inimigos derrotados, para subir o nível de nosso personagem. Superar chefões mais trabalhosos, como Lu Bu, depende não só da nossa perícia em combate, mas também de quão bem escolhemos os atributos que serão melhorados.
Outro fator importante que não pode ser deixado de lado durante a campanha é o nível de moral do nosso personagem. Independente do nível que estejamos, se a moral estiver mais baixa do que a dos inimigos no campo de batalha, mais difícil será lhes causar dano. Ser abatido por um inimigo o torna mais forte. Se vingarmos nossa morte com uma vitória, elevamos ainda mais a moral. Conseguimos aumentar a moral, portanto, ao matar inimigos e as perdemos quando sofremos dano. Podemos subir os pontos de moral até o nível 25. A cada bandeira que hasteamos, o jogo trava um nível específico de destemor, fazendo com que a moral não seja perdida até mesmo com uma derrota.
O modo online segue uma premissa parecida com a dos jogos da série Souls. Podemos trazer até dois aliados para nos acompanhar nas campanhas ou ser invadidos por jogadores hostis. Jogadores abatidos são demarcados pelos cenários, com os seus dados e de seu algoz. Entregar Potes de Cura do Dragão em sua homenagem, nos concede um certo número de moral temporariamente, o que é útil caso o inimigo à nossa frente esteja com a moral mais elevada que a nossa.
Uma versão turbinada, mas com alguns problemas
O visual de Wo Long é muito bonito (adoro o conceito da Vila Oculta) e os cenários guardam baús com itens valiosos em todos os cantos. Encontrar todos os locais para hastear as bandeiras é divertido e aguça o senso de exploração. A trilha sonora também é bem competente e transmite bem a sensação de estarmos diante de um épico de guerra. Porém, mesmo no modo qualidade, há pop in de alguns inimigos e texturas, principalmente em campanhas que possuem áreas mais abertas. O jogo também não faz uso das funcionalidades do DualSense, como o sensor háptico dos gatilhos.
Outra coisa que me incomodou um pouco é a forma como a história é contada. Tudo é muito rápido e novas alianças são formadas sem muita explicação a cada início de campanha. Isso faz com que não nos importemos tanto com as causas e dramas dos personagens. Mas, é algo já presente no jogo base. De toda forma, o saldo dessa versão completa, com todo o conteúdo extra, é bastante positivo, trazendo para os fãs do gênero horas e mais horas de jogatina e “sofrimento” entre as Campanhas principais e secundárias.
Cópia de PS5 cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro