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Review Wolfenstein: Youngblood (Xbox One) – Duas irmãs e um coop

Essa foi minha primeiríssima experiência com a franquia Wolfenstein, e isso pode ser bom e ruim. Bom porque fiquei com várias boas impressões do jogo, apesar de algumas ressalvas. Ruim porque a marca que a franquia vai me deixar inicialmente será este formato de RPG, tiro e coop com amigos (e dizem ser o jogo mais fraco da série) que a MachineGames desenvolveu em conjunto com a Arkane Studios. Você já teve alguma experiência com o famoso “simulador-de-matar-nazistas”? Em Youngblood, publicado pela Bethesda, controlamos uma das duas filhas – Jess e Soph – do protagonista original da franquia, B.J. Blazkowicz. Duas garotas com sangue jovem (trocadilho, desculpa), humor ácido e atitudes que condizem com a idade que possuem.

Ano: 2019
Jogadores: 2 (online)
Gênero: Ação, Tiro, Multiplayer, Aventura
Classificação indicativa:
16 anos
Português: Dublagem, legendas e interface
Plataformas: PC, macOS, Xbox One, PS4 e Switch
Duração: 9 horas (campanha) / 27 horas (100%)

Evite o partida rápida

Single player sem tanto apelo

Com tamanho foco no modo cooperativo que o jogo tem, o que podemos esperar quando não estamos jogando nesta modalidade? Pois é, tudo fica um pouco desfalcado quando não temos a presença de um ser humano controlando a outra irmã. Nada que tire a diversão absurdamente, mas é sem igual a experiência de ter alguém jogando com você algo cuja campanha exige habilidade dos dois jogadores e um mínimo de bom senso. É legal também por causa de um recurso de “ânimo”, onde você faz um sinal para a outra irmã e esta recebe um bônus temporário de saúde ou escudo, e ela pode fazer o mesmo para te beneficiar, então obviamente isso fica mais dinâmico ao jogar com alguém.

Se você optar por viver na pele de uma das filhas de Blazkowicz enquanto deixa a inteligência artificial tomar conta da outra (que solidão), verá que às vezes a jogatina fica um pouco sofrida por conta das ações do computador serem previsíveis. Jogando online não tive este problema, porque obviamente a pessoa sabia o momento de partir para o ataque e as ocasiões onde o stealth e a cautela eram necessários. A gente nota essa humanidade necessária principalmente nos momentos de quase morte, onde você precisa sair do fogo cruzado antes de pedir ajuda à sua companheira para que o tiroteio seja evitado. Até mesmo no simples fato de que você está morrendo e gritando desesperadamente por ajuda, mas ninguém te escuta ou reage. Mas o maior empecilho mesmo de não ter um ser humano ao seu lado é a mecânica de vida compartilhada, a qual você possui 3 no total e a I.A. pode acabar precisando usar se você não chegar a tempo para o resgate – ao menos estas vidas são encontradas em caixas durantes as missões.

Não tão incômodo, porém notável, são os momentos onde é exigido a ação em conjunto de Jess e Soph, nos quais jogando com alguém isso acontece de forma muita mais ágil e você não fica vendo a inteligência artificial meio que girando em seu próprio eixo para realizar um certo comando. Bom, pelo menos temos um bot para nos acompanhar durante a jogatina e deixar tudo menos solitário – certo, muito fundo do poço isso.

Somente coop online

Uma crítica ao jogo: não possui o modo de tela dividida. Jogar com amigos online é divertido, mas eu PARTICULARMENTE sou fã do famoso coop de sofá. Gosto mais de reunir pessoas ou até mesmo jogar com minha namorada, e fiquei levemente decepcionado quando descobri que o jogo não me daria esta opção. Não sou contra o multiplayer online, mas gosto de ter opções. Também é possível jogar com estranhos na internet usando o “partida rápida”, mas dificilmente encontrei alguém neste modo.

Apesar de precisar recorrer ao modo cooperativo através da internet, jogando com um colega que mora também no Brasil não me trouxe quedas de conexão, delay/lag ou coisa parecida. Resumindo, foi uma jogatina bem tranquila e sem reclamações. Fica apenas a dúvida se a forma como ele trata o online é peer-to-peer ou exige um servidor. Ao menos o jogo deixou bastante a entender que a conexão é sim peer-to-peer (quando um jogador criar seu próprio servidor) pelos modos disponíveis para criação de sala. Se for realmente assim, parabéns, não ficamos dependentes dos servidores ficarem online, o que dá mais longevidade ao jogo cooperativo caso um dia resolvam deixar de dar suporte ao multiplayer. É importante avisar que, caso você jogue online com um parceiro(a), se você já tiver progredido na história e sua personagem estiver num nível elevado, você naturalmente vai precisar se prender ao progresso do anfitrião da partida – o que é um problema no modo de partida rápida. Mas calma! Todo o seu desenvolvimento ficará salvo caso resolva jogar offline depois.

História direta, talvez até simples demais

Aqui você escolhe vivenciar o jogo na pele de Jess ou Soph, as filhas treinadas para matar de Blazkowicz. As irmãs estão ingressando em sua primeira missão, enquanto o pai está desaparecido, e demonstram claramente uma ansiedade e maturidade que esperamos da idade que aparentam ter. Logo em uma das primeiras mortes aos nazistas que as duas conseguem, você assiste a cena de comemoração exagerada acompanhada do vômito por ter os miolos explodidos e caídos na boca de uma delas. Ao longo do jogo existem várias cenas e diálogos mostrando o bom relacionamento entre Jess e Soph, em conjunto com vários momentos de humor ácido com influências de um estilo de vida brutal e selvagem.

A trama se passa em 1980 e gira em torno praticamente de um objetivo principal: invadir as 3 torres nazistas chamadas Brother e tomar o controle. Em cada uma delas existem inimigos de níveis razoavelmente elevados. Isso acontece para que você obrigatoriamente faça algumas missões secundárias (todas tem contexto na história) com a intenção de ganhar níveis e adquirir novos aprimoramentos, para então depois arriscar nas principais que são praticamente a história central do jogo. Um ponto a ser melhorado é apenas a necessidade de revisitar cenários durante algumas tarefas paralelas, o que pode enjoar rapidamente.

Acho essa forma de contar a história válida e valoriza bastante os elementos de RPG que o jogo tenta propor. Acharia péssimo se as missões secundárias fossem completamente inúteis e bobas, o que me traria a sensação de um conteúdo superficial apenas para inflar o jogo. Por último neste quesito, e não tão importante, de forma complementar são oferecidas missões adicionais (semanais, diárias, etc) na NPC de nome Abby, mas apenas para dar algo a mais ao jogador caso este já tenha finalizado o arco principal – melhor que nada.

Mecânicas de progressão

É engraçado que o jogo me fez pensar bastante em The Division, da Ubisoft, por conta do formato de progressão e dos inimigos com HUD de saúde e nível acima da cabeça – ao menos aqui eles não são esponjas de bala. Para complementar a fórmula de RPG, também existe uma árvore de habilidades que são liberadas de acordo com seu nível, além da possibilidade de fazer upgrade das armas que você carrega durante o jogo e adicionar acessórios nelas como miras, lanternas, trocar o cano, etc.

Para subir de nível, basta você completar missões, matar inimigos, robôs, pegar coletáveis e certos itens durante as fases para que seus pontos de experiência sejam elevados. Também é legal que inicialmente, antes de começar o jogo, podemos escolher uma das irmãs e quais habilidades e equipamentos ela terá, criando assim uma espécia de build para sua personagem.

Visuais e performance dignos

A retratação gráfica dos ambientes em Paris é muito boa, aliada à qualidade também dos modelos dos personagens que também não fazem feio. Apenas algumas animações – como o pulo duplo – deixam a desejar, na minha opinião. Fora isso, o jogo tem visuais caprichados para não deixar ninguém reclamar. Também é possível de se ajustar a resolução do jogo, escolhendo se você prefere uma resolução dinâmica com foco em quadros por segundo ou qualidade máxima, que são opções que provavelmente funcionam de forma mais notável em consoles como o Xbox One X, PS4 Pro ou no PC (master race). Já na versão de Switch temos o famoso port com downgrade brusco, por conta do hardware inferior ao da concorrência, o que é inevitável tendo em vista a qualidade gráfica que o jogo possui. O resultado é similar ao já visto em alguns ports para o console Nintendo: texturas de baixa qualidade, resolução mediana, visuais borrados e um aspecto de “jogo com miopia”. Aliás, de quem foi a ideia de colocar na página do jogo, na eShop, imagens totalmente não condizentes com a qualidade gráfica real do port? Claramente aqueles visuais não são da versão de Nintendo Switch.

Dublagem fenomenal

Como muitos sabem e concordam, a dublagem brasileira normalmente faz um trabalho maravilhoso no mundo dos games. Isso não é diferente em Wolfenstein: Youngblood, onde você percebe o carinho em cada voz que dá vida aos personagens do jogo. Portanto, se você não tem conhecimento de inglês, conseguirá perfeitamente desfrutar da história sem perder detalhes. Apesar dos alemães não terem sido dublados, acredito que desta forma a imersão fica muito maior tendo os nazistas falando em seu idioma original enquanto todo o resto fala em português do Brasil.

Mesmo com elogios, é necessário dizer que o jogo toma a decisão errada de vincular o idioma com o do console, e isso vem acontecendo com bastante frequências em vários títulos recentes – alô, Gears of War.

Fliperama dentro do jogo que homenageia os jogos clássicos

Jogue se tiver amigos

Por fim, Wolfenstein: Youngblood é um jogo sólido, mas focado completamente em jogar com outra pessoa. Não que a experiência solitária em conjunto com o computador seja um desastre, mas não tem o mesmo apelo. Se você é fã de jogos de tiro com mecânicas de RPG, Youngblood é um boa pedida. Agora, se você é fã da franquia Wolfenstein como um todo, não sei exatamente o que dizer porque não joguei os outros (risos).

Prós

  • Humor ácido
  • Dublagem
  • Sistema de progressão
  • Arsenal bacana
  • Jogo funciona sozinho ou com alguém
  • Missões secundárias com contexto
  • Gráficos competentes
  • Química entre as irmãs

Contras

  • Modo partida rápida ineficiente
  • Revisitação de cenários enjoativo
  • Minimapa ruim que não expande
  • Um pouco de backtracking chato
  • Loadings demorados

Este review foi feito usando uma cópia para Xbox One cedida com carinho pela Bethesda