Quem conhece a lenda do barqueiro que atravessa as almas, o Caronte da mitológica grega? Essa já é a premissa do jogo, ser um barqueiro das almas. Mas pra quem não se recorda ou não conhece, segue um resumão pra entender melhor.
Caronte vaga pelos rios que divide o mundo dos mortos com o dos vivos, e sempre que alguém morria, sua alma aparecia nas margens dos rios e Caronte deveria fazer esta travessia. Porém, isso tinha um custo, era preciso pagar com uma moeda (óbolo) para que o barqueiro levasse sua alma recém chegada em segurança até seu destino pós vida. E é exatamente essa nossa missão em Sipiritfarer, conduzir corretamente as almas no seu pós vida. Mas o jogo nos propõe isso de uma forma bem mais leve e colorida que a lenda sombria original grega.
Desenvolvedora: Thunder Lotus Games
Distribuição: Thunder Lotus Games
Jogadores: 1-2 (Local)
Gênero: Aventura e Simulação
Classificação: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataforma: Xbox One, PS4, PC e Switch
Duração: 21 horas (campanha)/ 42 horas (100%)
Navegando em terras novas
Com o antigo barqueiro deixando sua posição para se aposentar, ele passa o “bastão” para a simpática Stella e seu gatinho Daffodil, que agora estão incumbidos de levar as almas perdidas para seus destinos no “além”. Com isso ganhamos uma esfera mágica e um barco novo para transportar nossos novos amigos.
Quando eu digo “amigos”, é porque de fato todos que entrarem em seu barco serão ou eram seus amigos, fora os que são seus parentes. Nem no pós vida temos paz…
Cada espírito novo recrutado, tem uma história nova, algo novo a te ensinar, e seu dever é ajudar cada um deles. Para dar seguimento ao jogo precisamos ir realizando os pedidos dos espíritos e obter recursos para construirmos e melhorarmos nosso barco. Barco, aliás, que parece uma micro cidade, que vai se expandindo aos poucos. Podemos e temos de construir tudo que estiver ao nosso alcance para melhorar nosso barco e recrutar cada vez mais espíritos.
Muitos dos espíritos que passam a viajar conosco desempenham funções específicas no jogo, nos ajudando a conseguir recursos diferentes, que sem seu auxílio não são possíveis. Além disso eles ajudam em algumas funções simples no barco também, podendo cozinhar, consertar, colher, plantar, dentre outras coisas. Você os ajuda e eles te ajudam.
O mais interessante é ir descobrindo cada motivo, sentimento, decepção e amores que seus convidados passaram durante suas vidas e lhe contam aos poucos, mostrando quem são, revelando suas personalidades, anseios e tormentos que ainda os prendem neste mundo.
Abraços quentinhos
Além de realizar o desejo das almas para que possamos conduzi-las corretamente por esse novo mundo, também temos que saber “controlar” seus humores. Cada uma funciona como um “bichinho virtual”, temos de alimentá-los, conversar com eles, dar presentes e o melhor de todos: dar abraços quentinhos!
Manter seus convidados sempre felizes é a chave do sucesso, pois quanto mais felizes eles estiverem mais eles te ajudam com os afazeres no barco. E, bom, não é nada tão difícil de deixar essas boas almas felizes, até porque cada um tem uma ficha técnica com seus status e que podemos verificar livremente. Aos poucos vamos descobrindo do que eles gostam e não gostam, algumas vezes eles falam, outras descobrimos ao dar-lhes comidas ou presentes, e assim vamos. Mas tenha a certeza que todos vão adorar ganhar um forte e amável abraço.
Navegamos por um mapa, passando por ilhas, tempestades, locais de naufrágio e cidades para que possamos encontrar variados recursos, como madeira, minério, sementes e até recursos mágicos, que nos permitem fazer contrações e melhorias em nosso barco. A princípio começamos com um barco relativamente pequeno, sem muito espaço para as primeiras construções, mas aos poucos vamos conseguindo as centelhas – seria como o dinheiro do jogo – necessárias para podermos realizar melhorias em nosso humilde barquinho.
Com os recursos em mãos temos de construir um lugar aconchegante e bem estruturado para que as almas sejam bem recebidas. Devemos criar então praticamente uma cidade em nossa embarcação, com casas para os espíritos morarem, cozinha para fazer deliciosas refeições, horta para o plantio e cultivo, oficinas de trabalho para os hobbies dos seus convidados e mais. Além de construir, devemos realizar upgrades que melhorem o conforto e qualidade de vida na nossa cidade flutuante.
Mas Spiritfarer não é só gerenciamento cansativo e repetitivo, ele também mistura plataforma e exploração. Como dito antes, exploramos um mapa repleto de afazeres, adquirindo recursos e encontrando novas almas. O mapa tem um bom tamanho, com alguns pontos até de viagem rápida para agilizar nossas travessias. No início ele passa a falsa sensação de ser um mapa de livre exploração, mas logo percebemos que, se não dermos seguimento as missões principais, não avançamos no jogo e ficamos apenas rodando em círculos.
O sistema de navegação é bem simples, você escolhe um ponto no mapa e aí seu barquinho irá navegar até lá. A distância influencia diretamente no tempo em que passaremos navegando, e quanto mais longe o lugar, mais demoramos para chegar. Mas nada que seja absurdo. Enquanto navegamos podemos ir fazendo outras coisas até chegarmos, somos livres para fazermos o que quiser enquanto isso.
O jogo dispõe de um sistema de dia e noite, e esse tempo é contado conforme vamos jogando. Aliás, seu barco não pode navegar de madrugada, então somos obrigados a fazer algumas paradas no trajeto. Nada que uma boa noite de sono não resolva e na manhã seguinte não esteja a todo vapor novamente.
Talvez o diferencial de Spiritfarer seja que fazemos tudo literalmente no jogo, desde de plantar uma sementinha na horta e passar pelo processo de regá-la e colhê-la, até o fato de cortamos as árvores, moldarmos as madeiras para que virem tábuas, tecer e afins. Com o tempo isso acaba ficando um pouco repetitivo demais e você passa a pensar que seria ótimo se algumas coisas fossem mais automáticas.
Como passamos um bom tempo sempre indo de um lado para o outro, e realizando vários desejos ao mesmo tempo dos nossos convidados, fora os recursos que acumulamos, a sensação de que o desenrolar da história demora um pouco a acontecer vai ficando cada vez mais evidente. Ainda assim, sempre que chega a hora da partida você se sente triste. Afinal, passamos horas mimando seus espíritos e, quando eles finalmente estão prontos, você os conduz para seu descanso eterno. São despedidas emocionantes apesar de rápidas, e bate aquela tristeza momentânea ao dar o adeus final.
Uma viagem de outro mundo
Spiritfarer nos apresenta a belos gráficos parecidos desenhados a mão, sempre agradáveis e belíssimos. Com certeza simples, mas agradáveis aos olhos. Existe um carinho maior pelos personagens do jogo, não só os espíritos que recrutamos, mas também aos NPCs “fixos” que precisamos sempre interagir. Uma das melhores coisas é você abraçar alguém e ver sua reação. Houve a preocupação de como cada um reagiria a um abraço aconchegante, com alguns ficando surpresos e outros te retribuindo felizmente de imediato. Nossa personagem Stella e seu gatinho Daffodil também possuem bastante detalhes, tanto em suas expressões quanto em seus movimentos.
A música do jogo casa perfeitamente com sua ambientação, leve, agradável e relaxante. É fácil passar horas jogando sem se dar conta, não só pelo jogo ser agradável, mas porque a música te deixa leve e despreocupado. A única coisa que se torna um tanto irritante conforme as horas de jogo passam, é o fato de que todos os personagens do jogo fazem barulhos repetitivos demais nas conversas. Eles sempre têm muito a nos contar em seus diálogos e repetem seus ruídos com frequência, e isso acaba sendo um pouco irritante com o tempo.
Mas Spirifarer é um excelente jogo que mistura a mitologia grega, muitas vezes retratada com brutalidade e tom sombrio, de uma forma leve e carismática, te fazendo ver o tema sobre a morte de uma forma um pouco diferente.
Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming