O estúdio indie Unspeakble Pixels foi o responsável por nos trazer um conto bárbaro, envolto a monstros sobrenaturais, magias, muito sarcasmo e… morcegos! Batbarian: Testament of the Primordials é um jogo plataforma de ação e aventura e progressão side-scroller, lançado em outubro do ano passado para PC e Switch e em julho deste ano para os consoles da Microsoft e Sony.
Desenvolvimento: Unspeakble Pixels
Distribuição: Dangen Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG, Plataforma
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
O início da aventura
Iniciamos nossa aventura naquilo que parece ser uma espécie de despedida precoce. Um jovem bárbaro, lançado de um penhasco, parece estar caindo para a morte iminente. Logo nesse momento, a gente percebe o tom do jogo. O personagem passa a refletir a sua trágica situação de forma irônica. Suas reflexões satíricas são apresentadas ao jogador para que ele decida o texto do arco introdutório. Nada muito complexo, é verdade! Mas, é divertido.
Por toda a aventura – como nos clássicos RPGs – nos deparamos com situações como essas, em que devemos escolher a linha de diálogo que o protagonista deve seguir. Porém, aqui nossas escolhas não interferem na narrativa. A história, na verdade, é contada ao longo da gameplay, seja em flashbacks, que vez ou outra são apresentados, ou por mensagens e inscrições rupestres deixadas por pessoas que exploraram os perigos do local antes do nosso protagonista.
O morceguinho Pip
Para fugir do penhasco com suas grutas misteriosas e atravessar armadilhas e muitos quebra-cabeças, temos a companhia de um amigo peculiar. Pip, um morceguinho que brilha, é o real protagonista e acrescenta níveis de desafios interessantes para o Metroidvania. E isso se dá porque todo o game é ambientado na penumbra, com cenários escuros e propositalmente mal iluminados. O brilho de Pip nos ajuda a desvendar segredos, itens e passagens escondidas.
Conforme vamos avançando, passamos a estocar certos tipos de frutas saborosas para o morceguinho. Ao arremessá-las, ele voa em sua direção. Com o tempo, nosso companheiro voador não só servirá para iluminar os escuros cenários, mas também ativará mecanismos e atacará inimigos. Além de Pip receberemos ajuda de outros personagens, que passam a compor uma espécie de party. Porém, podemos optar por levar apenas um companheiro por vez, além – é claro – do morceguinho.
Tecnicamente impecável
O visual de Batbarian – apesar de não ter muitos sprites de animação – é composto de um pixel-art de qualidade, casado com uma trilha sonora igualmente competente e diversificada. As batidas empolgam e em nenhum momento se tornam enjoativas. Como de praxe nos Metroidvanias, a exploração é livre em meio a cenários labirínticos. A transição de tela lembra jogos como Mega Man, em que o jogo dá uma ligeira congelada enquanto rola a transição de ambientes. Tecnicamente Batbarian está impecável, casando bem as possibilidades que a tecnologia atual permite com o passado.
Os controles são agradáveis e intuitivos. Basicamente, nosso personagem pula, bate com sua arma e pode tacar pedras para acionar alavancas ou lançar frutas para Pip. Por padrão, toda movimentação deve ser feita com o analógico esquerdo, algo que particularmente acho desconfortável em títulos plataforma 2D. Mas, felizmente, podemos mapear os controles para usar o d-pad. O senso de progresso, em Batbarian, é lento. As novas habilidades demoram a dar as caras e não transmitem aquela sensação de “poder” como habitualmente vemos nos jogos do gênero.
Se perca com facilidade
Derrotar os mais diversos inimigos nos confere itens como ouro (para comprar produtos diversos junto ao mercador), frutas e pedras, além de pontos de experiência. Quando subimos de nível, recebemos algumas melhorias de forma aleatória que pode maximizar nosso ataque, defesa e percepção (capacidade de enxergar no escuro). Baús guardam tesouros interessantes, como jóias (que podem ser trocadas por certas habilidades), fragmentos de mapas e melhorias nos pontos de saúde e na capacidade máxima do nosso estoque de pedras e frutas.
Diferente de outros títulos como Ori e Guacamelee!, Batbarian não nos pega na mão em nenhum momento. O mapa, apesar de possuir uma coloração diferente por cada área, e permitir com que coloquemos marcadores e apresentar a localização de lojas e pontos seguros (onde podemos salvar o progresso e fazer fast travel), não detalha muito bem as passagens dos labirintos. Dessa forma, olhares menos atentos podem deixar passar alguns caminhos.
O level design e as mecânicas menos tradicionais apresentadas (o morcego como ferramenta) são subutilizadas como indicativos – mesmo que indiretos – para as áreas que devemos rumar, fazendo com que facilmente nos percamos pelos cenários. Isso acaba tornando a experiência frustrante e cansativa com o tempo.
Show de acessibilidade
Salvo a localização, que infelizmente não tem para o nosso idioma, Batbarian, para todo o resto, dá show e apresenta um leque enorme de opções de acessibilidade. Desde o já comentado mapeamento dos controles, passando a escolha do gênero do personagem (representatividade), auxílio para disléxicos, textos ampliados para míopes e assistências que atenuam a dificuldade, para alegria dos haters de jogos como Dark Souls e Hollow Knight (ampliar a iluminação dos cenários, aumentar a força de ataque, defesa etc).
O visual retrô bem trabalhado de Batbarian, suas músicas e a originalidade de suas mecânicas, são atrativos para que nos aventuremos na pele do jovem bárbaro. Porém, tenha em mente que, apesar dos textos sarcásticos e divertidos, a narrativa é fraca (poderiam ter melhor trabalhado a própria noção do que define um “bárbaro”, por exemplo) e o tímido senso de progressão – aliado a um level design que acaba dificultando a exploração do mundo labiríntico do título – pode acabar afastando jogadores mais casuais.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong