Lançado no último dia 23 de abril, Tales of Kenzera: ZAU é um jogo de plataforma 2D, aos moldes de um metroidvania, que trata de forma respeitosa um assunto tão delicado como a morte e o seu impacto na vida daqueles que ficam. Desenvolvido pelo Surgent Studios e distribuído pela EA Originals, a aventura se passa num país fictício, situado na África Subsaariana. O título se inspira em vários elementos da cultura africana, contando, inclusive com uma boa opção de dublagem no dialeto Suaíli (Kiswahili) – a língua Banta com maior número de falantes da África – para acompanhar a jornada do Xamã Zau até o seu processo de aceitação.
Desenvolvimento: Surgent Studios
Distribuição: EA Originals
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Ação, Aventura
Classificação: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Switch, Xbox Series X|S
Duração: 8 horas(campanha)/9.5 horas (100%)
Toda história começa no fim de outra
No início do jogo, controlamos Zuberi, que mora com sua mãe numa grande metrópole chamada Amani. Eles tinham acabado de perder o pai e o esposo, respectivamente. Inconformado com a partida repentina de seu “Baba”, Zuberi se debruça em um livro escrito por seu pai tempos atrás. O personagem da obra, Zau, passava pela mesma situação que Zuberi. O livro narra uma jornada fantástica de Zau e o Deus da Morte Kalunga pela maravilhosa Terra de Kenzera.
É, portanto, sob o ponto de vista narrativo de Zau que Zuberi passa a lidar com o seu luto e que experimentamos a aventura. Mesmo não estando mais ali, Zuberi aprende com seu pai e busca lidar com seus dilemas presentes através do passado de seu “Baba”, para finalmente compreender que toda história começa no fim de outra. O jogo, dessa forma, narra os impactos da morte, projetando a nossa atenção para ideia do ciclo natural da vida. Algo já batido na indústria cultural, mas ainda assim, legal de acompanhar.
Bonito, mas com problemas
Tales of Kenzera possui um gameplay rápido que lembra demais os dois títulos da Moon Studios, Ori. Não há, no entanto, o mesmo refino técnico e o jogo apresenta alguns travamentos e momentos de lentidão, mesmo no modo performance. Sem contar que a câmera, muitas vezes, não consegue acompanhar a velocidade de Zau na tela, levando a mortes bobas e evitáveis. Os gráficos do jogo parecem uma mistura de Ori com o novo Prince of Persia, apresentando um visual tridimensional com uma movimentação bidimensional. Apesar de contar com cenários belos e coloridos, muitas texturas estão em baixa resolução. Tecnicamente falando, o ponto mais forte é o áudio do jogo. Os efeitos sonoros e as melodias são incríveis. Isso sem contar a dublagem Kiswahili, que ajuda demais em nossa imersão.
Em linhas gerais, há pouco backtracking em Tales of Kenzera. O jogo é bem direto (leva de 8h a 9h para fechar os quatro atos) e não dá para ficar perdido nos cenários, apesar de sua estrutura labiríntica. Os pontos de viagem rápida facilitam ainda mais a exploração caso queira fazer 100%. Até o sistema de conquistas do jogo não é absurdo e nos instiga a continuar em Kenzera para conseguir os 1000g mesmo depois de ter fechado o arco principal. Há, nesse sentido, locais para meditação, que aumentam a nossa energia de forma permanente; desafios, que nos premiam com amuletos que nos conferem algumas habilidades úteis; e Ecos, que narram alguns acontecimentos contidos no livro que Zuberi está lendo; entre outros.
A dança das máscaras
Zau, como novo Xamã, herdou as Máscaras do Sol e da Lua de seu falecido pai e cada máscara confere a ele poderes diferentes. Durante o combate, temos que ficar alternando de máscara o tempo todo para conseguir passar pelos perigos. Esses combates seguem uma premissa parecida com a vista em Guacamelee, em que o cenário fecha e uma horda de inimigos aparecem na tela em sequência. O problema é que os controles são instáveis e ora respondem bem, ora não, o que gera certa frustração. A batalha contra os chefes é bem divertida e existem momentos de “grande fuga” com em Ori and the Blind Forrest.
Cada uma das máscaras podem ser aprimoradas por uma pequena árvore de habilidades. Os inimigos derrotados geram uma energia de alma chamada Ulogi. Acumulando-as, conseguimos pontos xamânicos que podem ser usados para melhorar as habilidades das máscaras. Além disso, novos poderes são adicionados conforme avançamos na história, permitindo a exploração completa das áreas interconectadas do jogo.
O ciclo da vida
Apesar de alguns problemas técnicos e da história ser um pouco batida, o jogo diverte e há algumas reviravoltas bem legais. A gente vê Zau passando por cada uma das fases do luto, ao longo da aventura: negação (ele deseja que o Deus da Morte reviva seu pai), raiva (ele culpa Kalunga de ter levado seu pai embora), barganha (Zau acredita que pode negociar com a morte), depressão (o personagem fica sem chão sem a figura que representa seu norte, sua bússola moral) e aceitação (quando entende o seu papel no mundo e o ciclo da vida).
Cópia de Xbox Series X|S cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro