Capa de Ghost of Tsushima

Review Ghost of Tsushima: Versão do Diretor (PC) – Guerra é guerra

Depois da edição completa de Horizon Forbidden West, os especialistas em ports da Nixxes agora estão levando a Versão do Diretor de Ghost of Tsushima para os jogadores de PC. Lançado originalmente em 2020 para PS4, o título é uma viagem ao Japão feudal que traz uma emocionante história de resistência e brutalidade em meio a uma experiência espetacular, mas que se perde um pouco na sua obsessão pelo cinema.

Desenvolvimento: Sucker Punch Productions, Nixxes Software

Distribuição: Sony Interactive Entertainment, PlayStation PC LLC

Jogadores: 1 (local) e 1-4 (online)

Gênero: Ação, Aventura, RPG

Classificação: 18 anos 

Português: Dublagem, legendas e interface

Plataformas: PC, PS4. PS5

Duração: 23 horas (campanha)/61 horas (100%)

Impedindo uma invasão

Jin Sakai, protagonista de Ghost of Tsushima

Situada na ilha de Tsushima em 1274, a trama se passa durante a invasão dos mongóis ao Japão. O título põe os jogadores na pele de Jin Sakai, um samurai que precisa deixar tudo de lado depois que uma tentativa de resistência a um ataque acaba terrivelmente mal para os soldados japoneses. É necessário se reerguer e defender a ilha, reunindo aliados para formar um exército e evitar o que seria o primeiro passo da dominação do Império Mongol no Japão. A Versão do Diretor também traz um novo mapa explorável, colocando o protagonista para proteger um outro local em uma história relacionada ao seu próprio pai e ao legado dele, já que a família e infância de Jin são temas recorrentes da campanha.

Ghost of Tsushima é um prato cheio para os fãs de narrativas centradas na época dos samurais. Com um ritmo lento, a trama é bem desenvolvida e é marcada por personagens cativantes, reviravoltas inesperadas e planos mirabolantes contra o Império. Para contar essa história, o pessoal da Sucker Punch se inspirou nas obras do lendário Akira Kurosawa – e eles sequer tentam esconder isso, visto que o cineasta é homenageado através de um modo visual totalmente em preto e branco que leva o nome do diretor.

Cena da campanha de Ghost of Tsushima

Não à toa, Ghost of Tsushima tenta se aproximar ao máximo de uma experiência cinematográfica em tudo que se propõe a fazer. A jogabilidade foi projetada com essa direção criativa em mente, o que resulta em um game com uma interface limpa e mecânicas que condizem com a história. Como um exemplo disso, temos o sistema de confrontos, no qual é possível convidar os adversários para um duelo, pois o código ético dos samurais e da família de Jin não considera lutas injustas algo honroso. Mas, claro, será necessário quebrar esse código ao longo da campanha, já que Jin irá contra seus costumes familiares para se tornar um assassino impiedoso – o que gera o grande conflito da trama, uma vez que seu tio é justamente quem comanda o contra-ataque japonês.

Missões são lineares

Só que nem tudo combina com essa proposta cinematográfica, como as missões, que seguem um roteiro fixo com uma exploração limitada, apesar do game possuir dois mapas abertos enormes. É sempre necessário seguir os trilhos projetados pelos produtores, e não dá nem para lutar fora do perímetro máximo das missões, o que limita a jogatina nos confrontos. A ausência de indicadores óbvios e presentes na interface também prejudica a exploração e a orientação dos objetivos no decorrer da gameplay, que é fortemente inspirada pela saga Assassin’s Creed.

Jogabilidade violenta e brutal

Captura de tela de Ghost of Tsushima no modo foto

Embora a apresentação seja bastante diferenciada, Ghost of Tsushima é repleto de características conhecidas dos games de ação e aventura em mundo aberto. O ciclo de gameplay consiste na exploração e investigação das ilhas em busca da retomada de locais dominados pelos mongóis, além de grandes batalhas e missões furtivas – tudo sempre envolvendo a coleta de matérias-primas pelos cenários para obter equipamentos melhores.

O combate é devagar, com movimentos demorados, mas visualmente espetaculares. Durante a campanha, Jin aprende múltiplos estilos táticos e ganha acesso a armas diferentes, todas úteis para violar seu código ético e massacrar seus rivais. Há até um sistema de combos, que recompensa o protagonista com um poder especial que lhe permite atacar mais rapidamente com golpes mortais. Os pontos altos desse aspecto são as lutas contra os chefões em batalhas individuais, além dos confrontos épicos de larga escala, que proporcionam uma experiência alucinante.

Duelo na campanha de Ghost of Tsushima

Entretanto, Ghost of Tsushima não possui muitas opções de dificuldade e acessibilidade, se restringindo a funcionalidades que dão mais tempo para reagir aos ataques dos oponentes e realizar eliminações furtivas, não havendo nem uma opção de mira mais apurada para os momentos em que Jin precisa utilizar seu arco. Porém, o que decepciona é a câmera e a responsividade do protagonista, que são notavelmente pesadas devido à alta deadzone do game, que faz com que o analógico precise ser movido até quase sua extremidade para que os comandos sejam respondidos.

Não existem configurações de sensibilidade que possam mitigar isso, havendo apenas padrões pré-estabelecidos que são insatisfatórios. O título foi feito pensando nos joysticks das plataformas da Sony, mas, por conta desse problema, Ghost of Tsushima funciona melhor no mouse e teclado. Além da interface ter sido plenamente adaptada ao PC, o pessoal da Nixxes adicionou configurações que permitem a alteração manual da sensibilidade, resultando em uma experiência mais responsiva.

Encarnando lendas

Tela principal do modo Lendas, com a integração com a PSN

Uma campanha principal com duração de 20 horas, diversos conteúdos secundários e uma expansão narrativa não foram suficientes para a equipe da Sucker Punch, que criou um modo online chamado Lendas – sem microtransações nem nada do tipo, complementando perfeitamente a experiência proporcionada pelo modo single player.

Nessa função, parte do realismo da campanha sai de cena em favor de um lado mais folclórico da cultura japonesa, em missões cooperativas e competitivas para até quatro jogadores. Existem quatro classes que podem ser usadas num modo com história fantasiosas, em sobrevivência de hordas e até num competitivo, que coloca duas equipes para batalhar contra inimigos que recompensam pontos que podem ser usados para prejudicar o time rival. 

Gameplay do modo Lendas

O que chama a atenção é a integração com a PSN, uma faca de dois gumes que, inclusive, levou o jogo a não ser disponibilizado em diversos países do mundo devido à falta de suporte da rede da Sony nessas regiões. O crossplay foi lançado em uma versão beta, com a jogatina entre PC e console não funcionando corretamente no matchmaking público, dificultando a busca por partidas rápidas. Ghost of Tsushima também chegou oferecendo os famosos troféus, colocando as conquistas da Steam e da Epic na mesma lista da versão de PS5 do game, com direito a platina e tudo.

Port incrível, mas com problemas

Configurações da versão de PC de Ghost of Tsushima

Mais uma vez, os desenvolvedores da Nixxes deram uma aula de como converter um jogo de PlayStation para os computadores. O port é sensacional, sem travamentos, com muitas configurações técnicas e tempos de carregamento impressionantemente curtos. Ghost of Tsushima também traz suporte para diversas tecnologias de upscaling e até de geração de quadros, que, juntas, permitem rodar o jogo com um FPS elevado em hardwares fracos. Essa tecnologia é praticamente uma insanidade, porque ela permite efetivamente dobrar a taxa de quadros sem nenhum efeito negativo perceptível nos gráficos ou na latência do game.

Os visuais são impressionantes, com uma ambientação bela e detalhada. Mesmo sem texturas e modelos numa qualidade alta, o jogo se sobressai graças à sua incrível direção artística, que mescla com sucesso elementos naturais das ilhas com uma iluminação vibrante e animações vivíssimas. A narrativa pode ser prestigiada com uma ótima dublagem brasileira, áudio original em inglês ou em japonês, no modo mais imersivo possível. Uma das novidades da Versão do Diretor é uma fidelidade maior para as animações faciais deste último modo, pois esse aspecto deixou a desejar na edição inicial do game.

Cena da campanha de Ghost of Tsushima

No entanto, existem alguns problemas, como erros visuais nas sombras em certos momentos e um brilho extremamente escuro nas cenas noturnas. Além disso, ocorrem falhas sonoras em que os personagens ficam sem som em vários pontos do mapa, e as legendas não são exibidas adequadamente em algumas cenas. Adicionalmente, certas cutscenes são pré-renderizadas e são mostradas numa qualidade inferior ao restante do jogo – que é fenomenal em ultrawidescreen.

Contudo, a insistência da Sucker Punch em inserir barras pretas durante as cenas não ficou restrita ao modo de tela padrão, dado que isso ocorre em todos os formatos disponíveis. É um pequeno detrimento para essas cenas, que não são exibidas com a mesma fidelidade do resto da jogatina, porque metade da tela fica preenchida por essas barras. Isso vai até contra a filosofia da Nixxes de trazer o maior número de opções técnicas, sendo algo que ficou de fato faltando – mas que não chega a afetar o ótimo trabalho de conversão realizado aqui.

Sensacional

Ghost of Tsushima não é perfeito, mas é uma aventura inigualável. A história é surpreendente, introspectiva e imersiva – embora parte dessa imersão comprometa alguns aspectos da jogabilidade devido ao foco numa experiência cinematográfica, que, por vezes, vai contra algumas funções básicas do gênero do título. Mas vale a pena passar um tempo no belíssimo Japão feudal ajudando Jin a salvar Tsushima, pois o jogo oferece uma jornada imperdível para os fãs de uma boa campanha single player.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Ailton Bueno

Ghost of Tsushima: Versão do Diretor

8.5

Nota Final

8.5/10

Prós

  • Gráficos sensacionais
  • Port de PC excelente
  • Adição de troféus
  • Trama envolvente
  • Modo online adicional

Contras

  • Exploração ruim e confusa
  • Controles pesados
  • Pequenos problemas técnicos
  • Poucas opções de acessibilidade
  • Crossplay bugado