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Review Captain Tsubasa: Rise of New Champions (Switch) – Super campeões

A série Captain Tsubasa deu as caras no Japão em 1983. Trata-se de um mangá/anime que tem como principal temática o futebol e que narra a história do jovem Oliver Tsubasa (no Japão Tsubasa Ozora). Tsubasa é um jovem extremamente promissor no esporte que deseja, com todas as suas forças, jogar num time brasileiro e sonha em ser o melhor jogador de futebol do mundo.

Em 1994, a Toei – produtora que possui os direitos da série – lançou um remake da versão clássica da animação chamada de Captain Tsubasa J. No final dos anos 90, a extinta TV Manchete trouxe para o Brasil justamente essa adaptação do anime, com o nome de Super Campeões. Este foi o último anime da emissora que premiou toda uma geração noventista com animações como Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho e Shurato.

No último dia 28 de agosto, a Bandai Namco lançou Captain Tsubasa: Rise of New Champions, para PC, PS4 e Nintendo Switch. No game, além de revivermos a conquista do terceiro campeonato nacional de Tsubasa pelo seu time (Nankatsu), podemos vivenciar a jornada da equipe sub-16, do Japão, no campeonato mundial juvenil, antes do nosso protagonista se transferir para o Brasil e jogar no São Paulo, time em que Roberto Maravilha (Roberto Hongo) – antigo mentor de Tsubasa – é técnico.

Desenvolvimento: Tamsoft Corrporation
Distribuição: Bandai Namco
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Esporte, ação
Classificação indicativa: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4 e Switch
Duração: 10.5 horas (campanha)/ 26 horas (100%)

Fair-play é para os fracos

O jogo é uma verdadeira batalha campal
O jogo é uma verdadeira batalha campal

No Brasil, Super Campeões (vou usar o título do mangá/anime na América Latina) teve uma vida bem longeva, contando com várias passagens por canais brasileiros, em momentos diferentes, como a já citada TV Manchete, o Cartoon Network e a Rede TV. Em 2018, o estúdio japonês David Production resgatou a série e, recentemente, a animação – que “reconta” tudo que aconteceu na série clássica mais uma vez – entrou no catálogo da Amazon Prime.

É óbvio que o jogo Captain Tsubasa: Rise of New Champions pega na nostalgia dos fãs da série de ontem e de hoje. Mas, o game é bom o suficiente para agradar até mesmo quem nunca leu um página do mangá, ou assistiu um episódio da animação japonesa.

Para quem não conhece, a série não é uma simples animação com temática esportiva. É o típico mangá/anime Shounen – direcionado ao público infanto-juvenil masculino – focado na clássica jornada de herói. Aqui as partidas de futebol são uma verdadeira luta campal, com dribles, carrinhos e chutes especiais que desafiam as leis da física e que não devem em nada a um Kamehameha ou um Meteoro de Pégaso da vida. Dito isso, fair-play numa partida de Super Campeões é coisa para os fracos! E o jogo emula perfeitamente toda a loucura da série.

Uma luta… digo partida de futebol

Meteoro de Oliveeeeeer.
Meteoro de Oliveeeeeer.

Se você está esperando um jogo com a mesma pegada de FIFA e PES, Rise of New Champions não é pra você. Ele não possui a profundidade técnica e uma infinidade de comandos ou opções de estratégias que podemos utilizar nas partidas. O jogo, aposta na simplicidade e no gameplay descompromissado. Trata-se de um game com forte pegada arcade que se distancia demais da ideia de simulação que esses dois jogos, de edições anuais com mudanças pouco inspiradoras, vendem.

Aqui cada partida é uma batalha. Falta? Isso não existe. O juiz marca muito mal um impedimento. Estamos diante de um valetudo super divertido. Os personagens principais, como Tsubasa, Miyzaki e Kojiro, possuem dribles, passes e chutes especiais. E toda vez que ativamos essas jogadas, entra uma animação super bem feita para demonstrar o poder desses craques. Porém, é bom frisar: apenas os personagens principais de seus respectivos times possuem esses poderes especiais.

Isso pode se tornar um problema, na medida em que é praticamente impossível marcar um gol sem ativar o chute especial. Nesse sentido, ficamos dependentes de alguns personagens que possuem esse “poder”. Os goleiros, por sua vez, pegam absolutamente tudo. Eles, assim como os demais jogadores, possuem uma barra amarela de Garra. Assim, quanto mais defesas fazem, menor vai ficando essa barra, aumentando a probabilidade de falharem e a bola entrar. Além dos super chutes, temos dribles dos mais variados possíveis, ativados pelos botões R ou ZR. Além de servir para driblar, ao segurarmos o botão R passamos a consumir garra, o que permite ao personagem dar uma arrancada em campo. Mas, cuidado com os carrinhos e trombadas. Caso contrário você será jogado sem piedade no chão.

Há ainda uma espécie de boost que pode ser acionado durante a partida, chamado de Zona-V. Toda vez que desarmamos um jogador em divididas, damos um drible bem feito ou vencemos um duelo, o medidor de Zona-V é preenchido. Quando está totalmente cheio, ao apertarmos o botão ZL, ativamos uma espécie de especial temporário. Assim, a barra de chute se preenche mais velozmente, nossos “tiros” para o gol ficam mais fortes, a barra de garra é recuperada, enfim, todas as habilidades do time são aumentadas.

Jogando uma temporada de Super Campeões

Jogue o anime.

O jogo apresenta duas variações do modo história, chamado aqui de “A Jornada”. Na mais simples (episódio Tsubasa) encarnamos o time de Tsubasa, o Nankatsu, disputando o terceiro campeonato regional até a final com o time de Toho, do esquentadinho Kojiro Hyuuga, assim como no anime. Vale destacar aqui a recriação de algumas cenas icônicas do anime. No outro modo (episódio Novo Herói), temos que seguir a nossa própria jornada. Lá montamos nosso lutador… digo, jogador (sempre me confundo), indicamos sua posição no campo e o time em que atuará na temporada, dentre as três opções disponíveis: Colégio Furano, Colégio Musashi e Academia Toho.

O legal dessa campanha é que podemos desbloquear habilidades especiais no personagem que criamos. No jogo temos acesso às cartas dos personagens que são desbloqueados conforme jogamos e que podem ser comprados (em pacotes aleatórios) na loja virtual do game com o dinheiro adquirido no próprio jogo. Neste modo, após cada partida, podemos selecionar um conjunto dessas cartinhas de personagens que nos concede certa afinidade (amizade) com os craques da bola. Dessa forma, conforme esse vínculo vai aumentando, vamos aprendendo as técnicas desses jogadores e podemos habilitá-las para o nosso avatar. Depois ainda é possível exportar esse personagem para os times dos outros modos de jogo.

Após fecharmos a copinha regional, somos lançados num campeonato internacional sub-16, onde iremos defender a seleção japonesa contra nações poderosas como Argentina, Alemanha e – é claro, o Brasil (tá! O Brasil é mais ou menos poderoso). A gente inicia o game podendo jogar com as seleções do Japão, Uruguai e Inglaterra. Somente neste modo todas as demais seleções internacionais presentes no jogo podem ser desbloqueadas. Só que alguns times possuem um “macetinho” para serem liberados, se apresentando como seleções secretas.

Qualidade técnica super campeã?

O jogo possui alguns problemas de performance.
O jogo possui alguns problemas de performance.

A versão que peguei para analisar – como o título do review já entregou – é a do híbrido da Nintendo. Como de praxe – por conta das limitações técnicas do aparelho – há um downgrade em comparação à versão dos demais consoles. É nítido o tratamento diferenciado dado aos personagens e aos cenários. Enquanto o design dos personagens está muito bem feito, não podemos dizer o mesmo dos cenários. Vejam bem! O jogo é bonito e busca replicar a experiência visual do anime. Mas, nem de longe possui a beleza estética de outros jogos da empresa como Dragon Ball Fighterz, por exemplo.

Outro problema que presenciamos aqui é o de performance. Enquanto no PS4 ele roda lindamente em 60 fps, no Switch a taxa de frames fica abaixo dos 30 fps, o que prejudica um pouco a experiência. O interessante é que esse problema não é tão perceptível jogando em modo portátil, dando a impressão que ele performa melhor desta forma. Apesar desses problemas técnicos e de um bug ou outro seja no modo história ou contra (single ou online), de forma geral, o jogo é super divertido. Fica a esperança da Bandai Namco dar um pouco mais de atenção a versão do console da Nintendo e lançar alguns patches para corrigir tais problemas e melhorar ainda mais nossa experiência com o game.

O jogo conta com menus e legendas em português do Brasil (amém) e a dublagem é toda japonesa (amém 2). Por falar em dublagem, outra situação que pode desagradar aos jogadores é o excesso de diálogos no modo história. Se você quiser acompanhar “tin tin por tin tin” a narrativa, vai ficar mais tempo nessas janelas de diálogos do que jogando. Tem diálogos que levam quase vinte minutos. Sério! Chega uma hora que cansa e você acaba apertando o A pra acabar logo com a sessão de tortura. Até porque – e quem acompanhou a série sabe bem disso – os diálogos se resumem às observações dos personagens diante da atuação do adversário, um craque de certo time fazendo bullying dizendo que o jogador tal é inferior a ele e por aí vai.

Batendo um bolão no conteúdo

Temos muitos modos e conteúdos.

Além do modo história, temos os modos contra (que se divide em partida única, disputa de pênaltis e campeonato), contra online, treinamento (ataque, defesa, situação e livre), edição (onde podemos editar personagens, montar times e comprar itens de personalização e pacotes de cartas) e coleção. Se você for um fã da obra como um todo, Rise of New Champions é um prato cheio. No modo coleção, conforme vamos jogando, podemos desbloquear filmes, músicas, informações de personagens e resgatar recompensas de desafios realizados.

O modo online funciona perfeitamente e (rufem os tambores) sem lag. Temos duas opções aqui: criar (ou entrar) em salas para partidas para até quatro jogadores, ou buscar partidas públicas pelos servidores da produtora, nas chamadas Partidas de Divisão. Para nosso alívio, encontrar partidas aqui é a coisa mais fácil do mundo. E nossos oponentes são escolhidos de forma randômica, de acordo com a posição na liga em que nos encontramos. Ou seja, o seu nível nas disputas online dita quais adversários você enfrentará ao redor do mundo. Quanto maior for nosso nível, mais experientes serão nossos adversários.

Crie seu próprio personagem.

Temos ao todo dez times regionais (Colégios Nankatsu, Furano, Musashi, Hirado, Hanawa, Azumaichi, Otomo, Meiwa Higashi, Minamiuwa e Academia Toha) e onze selecionados internacionais (Japão, Alemanha, França, Holanda, Itália, Inglaterra, Brasil, Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Senegal). Uma coisa que me incomodou foi a montagem do elenco desses selecionados. A Tamsoft Corporation e a Bandai Namco reforçaram demais os estereótipos de cada equipe, mas ignoraram muitas especificidades culturais de algumas seleções.

Por mais que seja uma obra de ficção onde os personagens não são baseados em jogadores reais, o selecionado do Senegal, por exemplo, é um time majoritariamente formado por negros. Só que no jogo a seleção africana conta com uns três personagens negros apenas. O mesmo vale para o Brasil. Num momento em que no mundo todo se cobra e solidariza por maior representatividade nos jogos, a desenvolvedora e produtora ignoraram os eventos do mundo real e perderam uma boa chance de fazer um golaço ao não demonstrar variedade étnica na montagem do elenco dos selecionados.

A versão Ultimate do jogo dá acesso a DLCs que ainda serão lançadas pela Bandai Namco. A produtora divulgou que teremos nove personagens novos (ainda não apresentados) para montar nosso time, além de itens cosméticos como novos uniformes, bolas e chuteiras. Mas, fica o aviso de que o jogo base já é o suficiente para te garantir horas de diversão.

Fim de jogo

Fim de jogo! É goleada.
Fim de jogo! É goleada.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions mais acerta do que erra. Tirando os problemas técnicos da versão de Switch, que podem ser resolvidos facilmente pela desenvolvedora, estamos diante de um divertidíssimo joguinho de luta/futebol. Com uma campanha bacana, online fluído, controles acessíveis e muito conteúdo, o game agradará tanto os fãs da série quanto aqueles que não conhecem nada dela. É aquele jogo que não se vende como um produto de nicho, como os outros jogos esportivos. Mas, que se estabelece na missão de agradar a todos, seja um amante do esporte ou não. É videogame na veia!

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Captain Tsubasa: Rise of New Champions

8.5

Nota final

8.5/10

Prós

  • Jogue o anime
  • Controles simples
  • Online fluído
  • Muito conteúdo

Contras

  • Problemas de desempenho
  • Downgrade no Switch