Ouvi falar pela primeira vez de Deadly Premonition em seu lançamento para Xbox 360 e PS3 em 2010, uma época em que eu acompanhava bastante blogs com análises de jogos e preview daquilo que viria a ser lançado. O game me chamou bastante a atenção por causa de seus vídeos de jogabilidade, que se assemelhavam bastante à série Resident Evil, pela qual sou apaixonado. Dias depois de ser lançado, Deadly Premonition recebeu notas baixíssimas e isso me fez jogá-lo tempos depois com bastante preconceito.
O resultado é que minha diversão com ele não durou mais do que algumas dezenas de minutos, fazendo eu nunca mais ter contato com a série, até conhecer Deadly Premonition 2 e entendi qual era a proposta do jogo – até porque já entendia bem melhor o idioma inglês. Portanto, minha experiência foi numa ordem inversa, mas com isso consegui notar a clara evolução entre um título e outro.
Desenvolvimento: Toybox
Distribuição: Aksys Games Official
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tiro, Ação
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataforma: Switch
Duração: 18.5 horas (campanha)/35.5 horas (100%)
Não é algo para se levar a sério

Deadly Premonition é uma série de dois jogos criada e dirigida por Hidetaka Suehiro, mais conhecido como SWERY, e conta a história de Francis York Morgan, um agente especial do FBI. O protagonista possui uma curiosa mania de conversar com sua própria mente de forma constante, chamando sempre por uma entidade de nome Zack – aliás, não pergunte sobre Zack, pois é algo bem particular. Essa voz na cabeça de York certamente é mais explorada e exposta na sequência, Deadly Premonition 2, e assim somos capazes de ter uma ideia melhor de como Zack é, de forma bem mais direta. Porém, não vem ao caso nesse texto, já que se trata da primeiro obra.
Deadly Premonition Origins é um port da versão de PS3 – infelizmente considerada inferior em relação à de Xbox 360- exclusivo para o console da Nintendo. Nele, algumas melhorias e ajustes de framerate e câmera são feitos, além de uma qualidade gráfica atualizada para a geração correspondente ao Nintendo Switch.

A obra de SWERY é necessária de ser encarada sem nenhuma seriedade, apesar de no começo haver um tom maior de terror de sobrevivência. Em meu primeiro contato, no ano de 2010, cometi o erro de ir esperando algo próximo a Resident Evil e até mesmo Silent Hill, e por causa da falta de entendimento do idioma inglês não pude compreender a proposta completamente galhofa de Deadly Premonition, ficando bem alheio à história.
Ao longo do jogo, os diálogos constantemente passam um tom de piada, e isso também é deixado claro na personalidade dos personagens, na trilha sonora e nas expressões faciais. Aliás, personalidade é algo que Deadly Premonition esbanja, não só pelo protagonista maluco e inconsequente soltando frases sem pensar tanto, como também pelos coadjuvantes que fazem um excelente trabalho em contestar as decisões de York o tempo todo e sua maneira estranha de agir. Até mesmo figuras de segundo plano sem tanta importância têm características bizarras, visuais extravagantes e diálogos muitas vezes sem tanto sentido que vão tirar alguns sorrisos de canto de boca do jogador.
Um agente em uma cidade interiorana

O enredo se passa em uma cidade fictícia do interior dos EUA chamada Greenvale, onde York foi acionado para investigar um homicídio de uma jovem de apenas 18 anos, que teve sua língua arrancada e aparentemente foi morta de forma violenta. Com isso, o protagonista precisa investigar vários ocorridos que levam até a resposta desse caso e outros que ele passa a buscar mais informações ao longo do enredo. Alguns momentos de puzzles bem rasos surgem para checar se estamos prestando a atenção nos eventos, porém, errar a resposta não surtirá em punição ao jogador. Ir adiante disso no enredo talvez seja spoiler, então evitarei.
Deadly Premonition tenta trazer um mundo aberto para a cidade de Greenvale, mas falha bastante ao apresentar locais completamente vazios e sem vida. Apenas quando entramos em alguns estabelecimentos é que podemos sentir um pouco mais de realidade acontecendo por ali, porém, de forma geral, é tudo muito simplório, e até demais para uma proposta desse tipo. Sem falar que tudo isso poderia ter sido deixado de fora se Deadly Premonition tivesse escolhido uma proposta bem mais linear – o que seria melhor para seu próprio bem -, já que a locomoção por aqui é difícil.

Existe uma mecânica de dirigir veículos diversos (da polícia) por Greenvale que é terrivelmente mal feita. As direções do carro são péssimas e deixam bastante a desejar, sem falar que sua velocidade é bem baixa. O que tenta mudar o clima de morosidade entre um trajeto e outro são as frases que York solta com passageiros do banco banco de trás ou falando com Zack dentro de sua mente, além de algumas referências a filmes e frases engraçadas em alguns momentos, Porém, nem de longe isso consegue mitigar a baixíssima qualidade que a dirigibilidade apresenta.
O mais divertido, sem dúvidas, são os trechos em que nos adentramos em uma outra realidade e precisamos combater inimigos. Aqui é onde a inspiração em produtos como Resident Evil fica bem mais clara, com munição um tanto quanto escassa e inimigos que perseguem York entre um cômodo e outro. A jogabilidade se torna algo que remete ao clássico Resident Evil 4, com uma câmera quase nos ombros de York e uma mira que pode ser movimentada.

Além disso, é necessário procurar por chaves e outros itens que possam liberar passagens e abrir portas para continuarmos avançando até que, finalmente, enfrentemos um chefe que exige um pouco de habilidade na alternância entre esquiva e ataque. Mas não se preocupe, itens de cura também podem ser levados consigo e usados para restabelecer sua saúde. No fim de cada missão, uma quantia em dinheiro é recebida – apesar de não ser a única forma de adquiri-lo – para comprarmos equipamentos e até mesmo mandar seu terno para a lavanderia.
Mas nem tudo é perfeito, e Deadly Premonition Origins deixa muito na cara à qual era dos videogames ele pertence por causa de seus quick time events. O jogo está infestado deles, em cenas que você jamais esperaria aparece uma sequência de comandos na sua tela, sendo que falhar ao pressioná-los no momento certo acaba causando um game over. Esse recurso já era bem chato na época e revisitá-lo nos dias de hoje não é nada além de dispensável e irritante.
Um jogo para pessoas de tolerância altíssima
Deadly Premonition nem de longe é algo com mecânicas e jogabilidade que se destacam, muito menos em seu mundo aberto de baixíssima qualidade e veículos que andam com a velocidade de uma tartaruga. A obra de SWERY é sem comparações quando estamos falando de história, personagens e narrativa, porém, todo o resto acaba ficando em segundo plano por não empregar nada de forma competente. Para piorar, os quick time events estão bastante presentes nos momentos de ação e simplesmente não podem ser pulados ou desativados, portanto, fica bem claro que trata-se de um recurso que devia ter ficado no passado mesmo.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami