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Review Dread Nautical (Switch) – Repetição tática sem dó

Muitos jogos, como os da série X-com e companhia, geralmente afastam pessoas mais casuais por conta da sua aparente complexidade. Dread Nautical resolveu escolher uma abordagem mais simplificada da coisa como um todo, trazendo um RPG de ação tática por turnos, onde a história é o ponto central e as fases são geradas proceduralmente. Além disso, seu objetivo é sobreviver e descobrir o porquê sua memória constantemente se apaga ao realizar uma certa ação.

Apesar do tema mais voltado para um lado sombrio, os gráficos, que me lembram o clássico Jackie Chan Stuntmaster de PS1, tornam o clima bem menos pesado e ao mesmo tempo divertido sem deixar a atmosfera de lado.

Desenvolvimento: Zen Studios
Edição: Zen Studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Estratégia
Classificação indicativa:
 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One e Switch
Duração: Sem registros

Os estereótipos

Os 4 sobreviventes

Em Dread Nautical você está à bordo de um navio e pode fazer uma escolha entre 4 sobreviventes para iniciar sua jornada: o ex-Yakuza, o detetive, a jovem adolescente gamer e uma moça que fazia um bico cantando no navio.

Cada personagem tem uma habilidade distinta que pode ser útil em ocasiões diferentes. Alguns possuem a de categoria ofensiva, já outros são dotados de skills meramente exploratórias ou passivas.

As batalhas acontecem de forma bem ágil. Porém, quando existem muitos inimigos, o jogo se torna bem maçante de esperar todos tomarem sua ação. Não existe algo que resolva isso, como um comando de fast forward.

Não deixa nada para trás

O ciclo diário

Esteja estar atento ao gerenciamento de recursos. Todos os dias, os sobreviventes perdem um pouco de vida por causa da fome. É possível explorar sala após sala, iluminando a escuridão daquelas que acabaram de ser abertas, e encontrar vários mantimentos.

Em muitos locais do navio existem itens bem úteis. Entre eles encontramos curativos, kits médicos, armas de longo e médio alcance, coletes, e várias outras utilidades. Fora isso, é necessário coletar runas e sucatas para melhorar seu hub e construir coisas novas.tti

Crie relacionamentos estáveis em Dread Nautical

A equipe

Uma de suas missões é conversar com sobreviventes nos decks do navio, e criar um relacionamento – bem simples, por sinal – respondendo alguns diálogos. Depois disso, eles darão pistas sobre o que precisa ser feito para que se juntem ao seu time. Senão, simplesmente exigem um grau maior de simpatia com você através das próprias conversas e respostas.

Estes sobreviventes também podem lutar ao seu lado mesmo que ainda não estejam em sua equipe. Para isso, é preciso que uma batalha inicie com este sobrevivente suficientemente próximo do campo de visão. Porém, isso não tem a utilidade que se espera, e tudo acontece de uma forma um tanto confusa de entender quais parâmetros o jogo leva em consideração para que isso aconteça.

Apesar de sua equipe crescer com o avanço na história e gestão dos relacionamentos, o que resulta em game over é a morte do protagonista que você escolheu no início. Portanto, tente proteger o máximo possível para que seu jogo não tenha fim rapidamente, já que os outros membros podem morrer e não haverá consequências imediatas – pelo menos no modo normal.

Quando iniciar a visita a um deck do navio, sempre reflita se precisa de mais alguém além do protagonista. Se quiser apenas revisitar lugares com inimigos mais fracos apenas para pegar itens, vale a pena ir sozinho e economizar a vida e equipamento dos outros membros.

Lar, doce lar

Cuide de sua base

É necessário aprimorar constantemente o porão do navio, o qual é basicamente seu quartel general, principalmente para ter novos sobreviventes ali com você. Além disso, em sua base também pode ser construída uma bancada para consertar e reciclar seus equipamentos, um centro médico para criar curativos e principalmente a bancada de ocultismo a fim de aumentar os atributos dos sobreviventes consumindo algo chamado runa.

Dread Nautical mistura vários elementos de gêneros diferentes e o resultado é bem surpreendente e agradável. Porém, como esperado, nem tudo é perfeito quando se tenta fazer demais. Então, o jogo tem alguns problemas, digamos, bem frustrantes.

Detalhes ruins

Pra começar, a navegação pelo cenário é bastante ruim por causa da câmera e cursor se movimentarem de forma independente. Você controla a câmera com o analógico esquerdo, já com o direito movemos o cursor – podendo ambos serem invertidos. O maior problema disso é que você não tem uma opção que crie um meio termo, como mover a câmera apenas e o cursor ficar fixado ao centro da mesma para evitar duas movimentações simultâneas.

Pra piorar, também não temos como centralizar a câmera no personagem em foco com algum comando. Mais grave ainda, quando você manda sua equipe andar para um local mais longe do campo de visão, a câmera centraliza sozinha no personagem.

Nem tudos são flores na movimentação

Em segundo lugar, o jogo não permite repensar sua estratégia. A maior culpa disso fica por conta de não existir uma forma de fuga efetiva das batalhas, menos ainda um feedback visual quando isso acontece.

Então, se sua vida tiver indo pro buraco, pode desistir e aceitar a morte de uma vez, porque vai ser bem chato escapar tentando despistar os inimigos. Além de que, caso você tente se afastar ao máximo de uma batalha, muito provavelmente ficarão te perseguindo. E, acredite, isso é bem irritante. A não ser que você tenha bastante pontos de ação disponíveis para andar para bem longe.

As batalhas em si, apesar de serem divertidas de forma geral, não permitem com que você ataque na diagonal. O problema é que não existe o menor sentido pra isso, e até mesmo o personagem fica andando em zigue-zague quando você escolhe uma direção que ele não anda naturalmente. Bizarro! E duvido que isso será melhorado com atualizações por se tratar da mecânica do jogo.

Para ajudar, a inteligência artificial dos sobreviventes do navio é simplesmente bizarra. Tudo o que eles parecem fazer nas batalhas é se afastar do inimigo. São raras as ocasiões que fazem algo, como se tivesse sido feita uma programação ruim nas IA.

Sobre a dificuldade do jogo, existem três no total. Porém, a sensação que passa é que o jogo é difícil propositalmente até no “normal” para se estender através da tentativa e erro. Os elementos de roguelike, como perder tudo numa visita ao deck caso morrer, são bastante irritantes e parecem estar ali apenas para incentivar ao grinding. Por que tudo hoje em dia é roguelike, aliás?

Em relação à tradução, Dread Nautical vincula o idioma do jogo ao idioma do console. Pode isso, Arnaldo? Não costumo jogos em português no meu dia-a-dia, então simplesmente condeno os títulos que escolhem fazer isso. Aliás, a tradução não foi tão bem feito, então você nota alguns significados literais da língua inglesa, além de que várias frases ficam desproporcionais em suas caixas de texto.

Exclusivamente na versão de Switch temos uma performance estranha, onde o jogo engasga algumas vezes se você afastar muito a câmera.

Por fim, o jogo fica utiliza a conexão de internet para fazer login. Mas login em quê? Já que não existe um cross save, sequer imagino o motivo.

Dread Nautical é bom, mas podia ser melhor

Muito bom, mas igualmente frustrante

Dread Nautical é um jogo com narrativa e apresentação bastante interessantes, além da qualidade acima da média das mecânicas de gerenciamento e gráficos charmosos. Porém, muitas vezes parece ter mecânicas que desejam apenas punir para alongar o tempo de jogo. A maior questão em corrigir estes problemas é que algumas soluções mudariam a jogabilidade, então não tenho esperanças quanto a isso.

Resumindo, temos aqui um bom RPG tático, com gerenciamento, bastante convincente no começo, mas que depois vai desanimando o jogador de uma forma que fica difícil de continuar.

Este review foi feito com um código para Switch cedido pelos produtores

Dread Nautical

6.5

Nota final

6.5/10

Prós

  • História cativante
  • Personagens bem bolados
  • Jogabilidade viciante
  • Gerenciamento prazeroso

Contras

  • Grinding
  • Punição desnecessária
  • Feedback visual ruim
  • Sem ataque diagonal
  • Performance mediana