Nem sempre temos a dimensão de quão ricas podem ser as lendas e mitos de outros países, fora os que comumente estudamos na escola. É muito normal vermos o uso das mais famosas como a Mitologia Grega, a Romana e, nos últimos tempos, a Nórdica. Acontece que não é preciso ir muito longe para se descobrir histórias fascinantes, e é isso que o estúdio equatoriano Round 2 Games traz com Guardian of Lore. O jogo já havia sido lançado para PC anteriormente, e agora chega aos consoles para mostrar como devemos proteger este conhecimento antigo.
Desenvolvimento: Round 2 Games
Distribuição: Top Hat Studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura,Plataforma
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataforma: PC, PS4, Switch
Duração: Sem registro
O rico folclore da América Latina
Em Guardian of Lore, damos vida ao Príncipe Sayri, que tem como dever proteger uma biblioteca mística, a qual está sob a ameaça de um poder mágico das trevas. O objetivo dessa magia negra é apagar todo o conhecimento contido no local e, para evitar que essas histórias se percam na escuridão, precisamos entrar em cada uma delas e exterminar os lacaios de um poderoso feiticeiro. Para nos auxiliar nessa missão, contamos com a tutela do Amuleto de Yebichai, que, além de guiá-lo, concede o poder de conjurar magias poderosas.
O que torna tudo mais interessante é que as histórias em questão são lendas folclóricas de países da América Latina, que até então são desconhecidas pela grande parcela do público. Os contos que devemos salvar são os seguintes:
- A Lenda de Yerba Mate (Argentina)
- A Flor de Lirolay (Argentina)
- O Cacique de Guatavita (Colômbia)
- Coatlicue e Coyolxauhqui (México)
- A Lenda de Aya Huma (Ecuador)
- A Virgem e o Cherufe (Chile)
- As Montanhas Nevadas de Mérida (Venezuela)
Logo, esse contexto faz uma justificativa muito acertada do estilo artístico utilizado nos ambientes, que nos fazem viajar como se estivéssemos em um grande livro de história com belas gravuras. Os cenários coloridos de cada fase são chamativos e realmente trazem a alegria e misticismo do folclore latinoamericano. As músicas dão um toque especial, com instrumentos típicos de cada região para aumentar a sensação de que realmente estamos no país de origem de cada lenda.
Um detalhe, que é bastante interessante, é que pelo cenário existem detalhes na paisagem de fundo. Podemos notar trechos do conto em que estamos, para nos situar do nosso objetivo e também pedaços rasgados, os quais se recompõem quando eliminamos determinados inimigos pelo caminho.
Por fim, cada lenda visitada oferece mais de um caminho e podemos ver a rota das nossas decisões ao concluir o estágio, e assim temos em mente o que devemos fazer quando revisitarmos o local.
Precisa melhorar bastante
Se Guardian of Lore faz um excelente trabalho artístico e narrativo, o mesmo não pode ser dito da sua experiência como jogo em si. Muitas mecânicas implementadas são ótimas na teoria, mas precisam de diversas correções na prática.
Como de praxe em qualquer jogo que mistura ação e plataforma, podemos saltar, atacar e usar itens. Tudo bem simples. O problema é que nem sempre os controles são prontamente responsivos, o que pode causar algumas dores de cabeça em momentos chaves, como setores com muitas plataformas ou em áreas cheias de inimigos e armadilhas. Quando juntam as duas coisas, fica difícil se concentrar no que fazer primeiro, já que a agilidade das respostas dos comandos fica comprometida.
Um exemplo prático que ocorreu durante esta análise: em um dado momento, devíamos seguir uma rota aérea, usando galhos e nuvens como plataformas e lidando com inimigos que jogavam bombas. Com o movimento de algumas dessas nuvens, as bombas tomavam trajetórias aleatórias, que em alguns casos ficavam abaixo do plano em que estávamos e ainda assim a explosão delas nos acertava e nos jogava para trás, fazendo o protagonista cair e ter que recomeçar tudo de novo. Ou seja, além de tudo isso, fica difícil calcular nossa hitbox para ter ideia de onde podemos ficar para nos manter seguros.
Também ocorreu do controle parar de responder por alguns longos segundos, congelando o protagonista em alguns momentos que o levaram a ser encurralado por inimigos. Só era possível sair desse estado pulando. Isso aconteceu inclusive nas batalhas contra os chefes, e a morte foi inevitável por diversas vezes. Por falar em boss battles, há uma mudança de perspectiva durante algumas delas, em que a câmera se distancia da ação, deixando nosso personagem minúsculo e fica bastante complicado entender o que está acontecendo.
Outro contra bastante incômodo é que algumas armadilhas podem acabar causando um soft lock (situação na qual ficamos sem poder agir e devemos resetar o nível ou até mesmo o jogo todo). Na situação abaixo, Sayri caiu em uma fogueira que não lhe dava dano, mas também era em um buraco muito alto para ser alcançado com um pulo.
Os menus também contam com diversos deslizes, desde textos de base que não foram alterados até ilegibilidade em alguns casos. Na biblioteca, é possível fortificar nossas magias com o uso do conhecimento deixado pelos inimigos abatidos. Dependendo do aprimoramento escolhido, outros não podem mais ser acessados, o que é uma ótima sacada para não deixar nosso personagem mega poderoso e reduzir o desafio do jogo. Entretanto, é muito comum contar com textos genéricos da programação nas caixas de diálogo.
A outra situação pode ser encontrada no menu principal, na opção de configuração de botões. As letras brancas no fundo claro se tornam ilegíveis, obrigando o jogador a se aproximar muito da tela para entender o que está fazendo. Nada disso é muito grave, mas também mostra uma certa desatenção ao realizar o port para os consoles, já que o jogo foi lançado primeiramente para PC em maio de 2021 e já contou com diversas atualizações para melhorar seu desempenho.
Um último ponto, que não chega a ser um defeito mas também não faz sentido, é a redução significativa de conquistas. A versão para PC conta com 53 objetivos, enquanto a de PS4 tem apenas 24 troféus. Como o jogo é basicamente o mesmo, não teria o porquê reduzir pela metade essas metas que aumentam o fator replay.
Merece uma “repaginada”
Guardian of Lore tem uma premissa louvável. Por ser feito por um estúdio da América do Sul, a sacada de contar lendas regionais em forma de aventura é muito bem sacada. Entretanto, as falhas que ele carrega atrapalham e muito ao oferecer uma experiência aproveitável.
Tomara que logo seja feita uma grande atualização que melhore principalmente as respostas dos comandos e as situações de soft lock, pois é um pecado um título com uma ideia tão boa sofrer com coisas tão básicas.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Guardian of Lore
Prós
- Excelente narrativa, com foco no folclore da América Latina
- Belo estilo artístico
- Trilha sonora com instrumentos específicos de cada região
- Interessante sistema de evolução de magias
- Alto fator replay
Contras
- Os controles não respondem com exatidão e ocorrem travamentos pontuais
- Alguns trechos das fases ocasionam soft locks
- O hitbox do protagonista é impreciso
- Diversos menus ainda estão com texto base de programação
- Em alguns momentos o protagonista fica muito pequeno na tela