Em uma atmosfera lúgubre e sinistra, um restaurante fast-food é muito mais aterrorizante do que parece. Sirva todos os clientes e tome muito cuidado para não errar nenhum pedido, ou a gerente pode te matar!
Desenvolvimento: Scythe Dev Team
Distribuição: TinyBuild
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Arcade, Terror
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PS4, PS5, PC, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 2 horas (campanha)/5.5 horas (100%)
Os perigos e loucuras de servir ao público
O atendimento ao cliente pode ser insalubre, e Happy’s Humble Burger Farm leva a punição ao mau atendimento a níveis extremos. Ao misturar gêneros tão distintos como o terror e o simulador de fast food, o jogo desenvolvido pela Scythe Games e publicado pela Tiny Build entrega um pacote peculiar e bastante complexo.
Após uma sinistra cena de abertura e um tutorial bastante confuso, somos colocados na pele de um atendente em sua humilde residência, um pouco antes de iniciar um turno de trabalho. Em um claro estado de abandono, o prédio logo nos dá aquela sensação sinistra de terror dos anos 90, com muitas portas trancadas e NPCs esquisitões e estranhamente desproporcionais por toda a parte. Ao chegarmos no trabalho, encontramos um sinistro lobby repleto de estátuas de animais e claro a cozinha do restaurante. O início do turno se dá ao bater o ponto, literalmente, em um cartão antiquado de ponto, e após ligar os aparelhos e montar os pedidos dos clientes.
É na montagem de alimentos que começam alguns dos problemas de Happy’s Humble Burger Farm. O retículo da mira é bem pequeno e a precisão deixa um tanto a desejar, o que faz com que alguns ingredientes caiam no chão ao invés de serem depositados na mesa de montagem, custando preciosos segundos de montagem, já que todos os pedidos funcionam em contagem regressiva que, caso descumprida adiciona uma infração em seu turno e, ao somar três infrações, é aberta a porteira do inferno. Happy, a vaquinha gerente não fica nada feliz e passa a te caçar incessantemente até que você monte um hambúrguer de carne estragada para apaziguá-la ou é fim de jogo. Pessoalmente, devido aos problemas com os controles, somados ao fato de que não podemos tirar os olhos de Happy que ela se move, nunca fui capaz de pacificá-la, levando a muitas telas de fim de jogo.
Nada é tão pacato quanto parece
Fora do horário de trabalho, podemos explorar a pitoresca cidade de New Elysium e gastar nosso suado dinheirinho em algumas máquinas automáticas de comida e bebida, em um café com música ao vivo ou em uma lojinha de vendas de usados e roubados. É uma pequena área a ser explorada, mas que vai se ampliando à medida que a narrativa prossegue. Em alguns momentos, acidentes estranhos ocorrem em New Elysium dando acesso a novas áreas que escondem segredos e mistérios de uma cidade que não é tão pacata e singela quanto parece à primeira vista.
A narrativa de Happy’s Humble Burger Farm prende o jogador logo de cara, com seus coletáveis em fita cassete que trazem estranhas entrevistas sobre espécimes e experiências científicas e alguns glitches e eventos sobrenaturais que ocorrem com o protagonista ao longo da narrativa, os quais só aumentam o interesse em ver o desenrolar da história.
Infelizmente, as mecânicas funcionam de maneira diametralmente oposta, de tal forma que algumas vezes cheguei a me questionar se as mecânicas ruins foram feitas para serem ruins mesmo – até o momento não consigo decidir se as mecânicas são de fato ruins ou se é algo programado para dificultar a vida. O fato é que diversas vezes, as mecânicas trabalham contra você e a diversão rapidamente dá lugar à frustração e ao aborrecimento.
Em determinada parte da narrativa, surgem mecânicas de stealth e combate em Happy’s Humble Burger Farm, e essas sequências são de longe as partes mais irritantes – em jogabilidade. Em determinadas boss fights, surgem hordas de manequins explosivos – os mesmos que aparecem aleatoriamente durante o turno de trabalho -, e é necessário dizer que nestes combates os controles estão decididamente contra o jogador, em uma escalada de dificuldade artificial muito difícil de engolir.
Em contrapartida, a ambientação é muito inspirada e o toque de jogos de terror dos anos 90 traz um sentimento nostálgico dos games de sobrevivência antigos. Os animatrônicos endemoniados fazem uma clara referência ao Five Nights at Freddy’s e os jumpscares são competentes e inesperados.
Uma experiência culinária agridoce
Uma mistura de gêneros tão inusitada como simulador de fast food e terror pode funcionar muito bem ou desandar completamente e em Happy’s Humble Burger Farm a sensação que fica é que a premissa é excelente, porém há claras falhas na execução. Os controles travados que nas partes de simulação de fast food dão até um certo charme se tornam um verdadeiro pesadelo nas partes de combate e stealth que surgem à medida que você avança, e podem fazer com que muitos desistam antes do final. Isso é uma pena, pois é da metade para frente que a narrativa se desenrola de maneira envolvente levando a um final bastante inusitado e intrigante.
Em suma, Happy’s Humble Burger Farm traz uma premissa peculiar, mas falha na execução em parte considerável do jogo, o que pode causar muitas frustrações e aborrecimentos. É uma experiência bastante ambígua, pois traz partes iguais de diversão e irritação. Cabe ao jogador decidir se a diversão vale a pena o estresse.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Happy’s Humble Burger Farm (PS4)
Prós
- Visual remete aos anos 90
- A narrativa é surpreendente
- Vale a pena explorar New Elysium
- Interface em Português
Contras
- Não há legendas em português nos áudios coletáveis
- Os controles são bastante travados
- Mecânicas de stealth e combate problemáticas
- Batalhas com dificuldade artificialmente elevadas
