Kowloon Imagem destacada

Review Kowloon High-School Chronicle (Switch) – Em busca de mistérios e tesouros

O conceito de jovens estudantes do ensino médio, tendo que resolver mistérios e salvar o mundo de uma ameaça estranha, é bastante comum na cultura pop japonesa. A série Persona talvez seja a mais conhecida que utiliza tal elemento em suas histórias.

Kowloon High-School Chronicle talvez possa parecer com mais um título que tenta surfar nesta onda de JRPGs com adolescentes . Entretanto, o título é uma experiência bastante diferente do esperado, com uma trama cheia de mistérios que vai fazer você ficar entretido enquanto busca resolvê-los e coletar os mais diferentes tesouros como recompensa por suas ações.

Desenvolvimento: Toybox

Distribuição: Arc System Works

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Aventura, RPG, Puzzle

Classificação: 12 anos

Português: Não

Plataforma: Switch

Duração: Sem Registros 

Uma vida escolar cheia de mistérios

Kowloon tela inicial

Kowloon High-School Chronicle é um remaster de um título bastante obscuro do PlayStation 2, que havia sido lançado apenas no Japão em 2004. Eventualmente o título ganhou fama como uma das joias secretas do console e em 2020, a Toybox junto com a Arc System Works decidiu preparar uma versão melhorada que finalmente deu as caras no ocidente agora no começo de 2021.

Em Kowloon High-School Chronicle, o jogador assume o comando de Kuro Habaki, um caçador de tesouros que é afiliado a uma organização conhecida como Rosseta Society. Após explorar ruínas no meio do deserto egípcio e acabar tendo um encontro com um misterioso grupo que quer juntar relíquias antigas para dominar o mundo, o jovem caçador é enviado ao Japão, para explorar uma ruína escondida embaixo da escola Kamiyoshi.

Utilizando o disfarce de ser apenas um estudante de transferência, Habaki acaba fazendo amizade com alguns colegas de classe, ao mesmo tempo que aprende sobre o quão estranha é sua nova escola. Eventualmente, o jovem percebe que as ruínas tem ligação com os diversos mistérios que envolvem o local, e parte em busca de resolver seus enigmas como uma forma de encontrar respostas e ajudar os alunos.

Eu vou ignorar seu conselho de qualquer maneira

Kowloon High-School Chronicle utiliza bastante elementos de mistérios na sua história. Dividindo a história por capítulos, que contém uma abertura e um encerramento igual a um anime, cada novo “episódio” segue uma premissa de introduzir um novo mistério junto com um aluno que está envolvido nele, um pouco de exposição sobre algum elemento relacionado a situação e termina com a conclusão do mesmo, enquanto adiciona um pouco mais de segredo à sua narrativa principal.

Aliás, Kowloon High-School Chronicle mistura muito bem elementos das mitologias egípcias e japonesas em sua história. Confesso que de início, ao ver os símbolos e recursos utilizados que remetiam ao Egito – e principalmente a pirâmides e múmias -, me lembrei do primeiro Yu-Gi-Oh!, que utiliza componentes parecidos para servir de base para sua narrativa. 

De início, o jogo faz igual ao anime de cartas e utiliza bastante os elementos de mitologia – principalmente a japonesa – como uma base para os mistérios que o jogador resolverá. É seguro dizer que se você não conhece nada sobre o folclore japonês, Kowloon High-School Chronicle lhe introduzir ao assunto muito bem. Eventualmente, o jogo começa a adicionar sua própria informação à narrativa, se afastando um pouco do conto original das lendas e, até mesmo em certo momento, adiciona elementos de ficção científica no que pode ser descrito como uma bizarra mistura narrativa que deixa as coisas ainda mais incertezas em relação ao roteiro. Isso acaba por funcionar como uma boa forma de dar aquela mexida, naquilo que antes parecia ser algo evidente.

Chega de mistérios, é hora de explorar e batalhar

Apenas mais uma exploração comum

Tirando a narrativa, Kowloon High-School Chronicle também foca bastante na exploração de dungeons em busca de tesouros. O título é um Dungeon Crawler, e você explora ruínas cheias de mistérios em uma visão em primeira pessoa e ao lado de até 2 companheiros.

A jogabilidade de Kowloon High-School Chronicle é dividida em duas partes específicas. A primeira é um Visual Novel que segue a vida “normal” de Kuro na escola, com o jogador tendo conversa com os personagens e explorando o local em busca de itens. Assim como em outros jogos de Visual Novel, durante as conversas com outras pessoas é possível escolher respostas diferentes que afetam a relação do protagonista com os NPCs, e exclusivamente do título, em alguns casos é possível expressar suas emoções naquele momento – o que muda a forma como os alunos reagem a Kuro em suas interações.

Já a segunda parte é puro Dungeon Crawler, com o jogador mergulhando nas dungeons em busca de encontrar a resposta para o mistério que está sendo investigado. A exploração é feita toda em primeira pessoa, com Kuro podendo trazer uma certa quantidade de itens e até dois outros alunos que podem oferecer habilidades extras durante o confronto com inimigos. O jogador pode carregar até 15 itens por vez e é preciso ter certeza sobre o que levar para a dungeon, a fim de evitar muitas viagens de ida e volta ao dormitório para descarregar o peso extra.

Durante a exploração é possível interagir com objetos, pular com um toque do botão e até mesmo encontrar monstros que impedirão seu progresso. Encontrando os inimigos, é possível mudar para um modo de batalha com o gatilho direito do controle, sendo assim possível confrontar as criaturas.

Olá seu jarro

As batalhas do título seguem um padrão de RPG tático de turnos. O jogador e seus inimigos possuem “pontos de ação” que são gastos realizando diversas ações, como movimento pelo mapa ou ataque. Jogadores podem equipar até 3 armas de uma vez, uma de longa distância, curta e uma granada, cada uma tem suas vantagens e desvantagens.

Com armas de longa distância é possível mirar em partes específicas dos monstros para lhe causar dano extra. Ademais, cada inimigo tem seu próprio tipo – insetos, múmias, fantasmas – e é possível conseguir armas ou melhorar habilidades, que lhe ajudarão a causar ainda mais dano sobre esses tipos específicos.

A cada inimigo derrotado, o jogador ganha pontos de experiência que servem para subir de nível. Cada vez que Kuro o faz, o jogador pode distribuir pontos entre um dos diversos status e habilidades do protagonista. Enquanto os status são utilizados durante as batalhas, as habilidades são recursos utilizados durante a exploração e são exclusivamente de suporte, com elas afetando os itens disponíveis na loja que seu personagem pode adquirir, até a abrir baús de tesouro mais rápido do que o normal, entre outras.

Um título cheio de inspirações

Suspeitamente familiar

Kowloon High-School Chronicle tem uma apresentação bem bacana, que serve muito bem como uma forma de atrair atenção. Sua introdução, por exemplo, utiliza bastante elementos inspirados na famosa abertura do anime Cowboy Bepop, com sua mistura de jazz com imagens em um fundo de uma única cor e até mesmo alguns frames que são quase cópias exatas da versão original.

Entretanto, os animes não são a única fonte de inspiração que Kowloon High-School Chronicle utiliza para sua apresentação. Por ser um título que utiliza como base a exploração de ruínas e o fato do herói caçar tesouros, é claro que o título faz referência à saga de filmes de Indiana Jones, tanto com alguns itens que lembram as aventuras do professor de arqueologia, quanto até mesmo a certos eventos dos filmes.

Mas o título não utiliza apenas inspirações e referências para conseguir a atenção do público. Kowloon High-School Chronicle utiliza um estilo de arte único que mistura personagens desenhados a mão, junto com imagens realistas sendo utilizadas como os diversos cenários de fundo da aventura. É uma mistura um pouco bizarra, que de início dá uma estranheza, eventualmente você acaba se acostumando e até mesmo percebe que isso faz parte do charme do jogo.

Uma mistura esquisita de desenho com imagens realistas

Os personagens tem poucas animações, apesar dos diálogos serem dublados, eles não mexem a boca e ficam parados em uma única pose. Apesar disso, Kowloon High-School Chronicle tenta utilizar alguns truques com as imagens e o som para tentar fazer um efeito de pseudo anime, com as sprites sendo diminuídas para dar uma sensação de distância, ou ao utilizar fones de ouvidos você só ouve personagens que estão à esquerda e vice-versa.

Acompanhando a jornada está uma trilha sonora incrível, repleta de músicas que utilizam jazz como seu estilo de melodia principal. Os instrumentos utilizados e o ritmo escolhido ajuda bastante na apresentação do título, com cenas de conversas tendo uma melodia mais calma, enquanto a música se torna mais agitada quando as coisas ficam sérias.

O jogo também possui vozes, com todo o seu diálogo sendo dublado em japonês. Infelizmente, para aqueles que gostam de ter outras opções de áudio, não existe dublagem em outra língua. Apesar disso, é possível alternar entre a voz de uma mulher japonesa ou americana para servir como a interface do aparelho H.A.N.K, que é como um celular que o protagonista possui.

Totalmente não é um arqueólogo famoso

Por fim, como uma surpresa extra, Kowloon High-School Chronicle oferece um curto jogo 8-bits como um extra para o jogador experimentar. Batizado de Rockford Adventure, nele assumimos o controle do detetive Spencer Rockford, que precisa ajudar a filha de um velho amigo a resolver um grande mistério. A aventura é apresentada como um RPG da geração 8-bits, com o jogador podendo escolher entre diversas opções durante diálogos para alterar certos eventos da história, enquanto enfrenta inimigos em batalhas por turnos. Curiosamente, este pequeno joguinho é uma grande homenagem a filmes de detetive e a franquia Indiana Jones, com Rockford tendo sua aparência baseada no personagem interpretado por Harrison Ford e até mesmo utilizando um chicote como uma de suas armas.

Nem todo tesouro é ouro

28 é idade de velho no mundo dos JRPGs

Infelizmente, apesar de ser uma experiência bastante interessante, Kowloon High-School Chronicle ainda sofre com uma série de problemas. Algumas das decisões de design do título ainda são as mesmas do lançamento original em 2004, e elas acabam fazendo com que o jogador se estresse em certos momentos durante a jogatina.

Começando pela exploração das dungeons que pode acabar sendo um pouco confusa de início. As ruínas também possuem bastante quebra cabeças e alguns deles requerem itens que você precisa possuir em seu inventário para prosseguir. Caso você não os tenha em mão, terá que voltar para o quarto do protagonista, adicioná-lo ao seu inventário e então voltar até o local, enfrentando os mesmos inimigos como se fosse a sua primeira vez explorando.

Sempre que você deixa as ruínas, todos os inimigos, incluindo os chefes, são revividos. De um lado, isso é bom para ajudar a ganhar experiência e subir de nível, entretanto, quando você só quer explorar o local atrás de tesouros que você deixou para trás na primeira exploração, acaba sendo apenas algo tedioso de se fazer, principalmente se você retornar à primeira dungeon quando você já está mais poderoso.

Você vai precisar fazer muitas viagens se quiser preencher essa imagem

Isso porque Kowloon High-School Chronicle te obriga a fazer múltiplas visitas às ruínas que você já finalizou em busca dos tesouros mais secretos, que podem ser entregue a clientes como uma das únicas formas de ganhar dinheiro. O que leva a outro problema, oem que, diferentemente de outros RPGs, aqui só há duas formas de juntar dinheiro: cumprindo pedidos de clientes por certos tesouros e vendendo itens, fazendo com que dinheiro seja um pouco de problema durante toda a aventura.

O jogo também te pune por não ter certas habilidades antes de ter explorar as ruínas, fazendo com que você precise ganhar níveis para poder conseguir abrir todos os mistérios. Algumas habilidades também quase não possuem utilidade e pontos colocados nelas pouco trazem mudanças nos resultados e bônus, que elas supostamente deveriam conceder ao personagem.

Por fim, Kowloon High-School Chronicle também pune qualquer plano mal feito pelo jogador em sua preparação antes de começar a exploração. Com o único shop que vende itens de cura, encontrando-se indisponível durante a hora que temos acesso às ruínas, fazendo assim com que você precise planejar bem quantos itens deve adquirir antes de prosseguir com a história.

Uma aventura para poucos

Kowloon High-School Chronicle é uma ótima jóia escondida que finalmente tem uma chance de brilhar em territórios desconhecidos. O jogo tem seus problemas, mas de uma maneira geral, sua história, música e jogabilidade acabam por fazê-lo ser algo que vale a pena dar uma conferida. Se você curte Dungeon Crawler ou uma história cheia de mistérios e quebra cabeças a serem resolvidos, este é um ótimo título para experimentar.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Kowloon High-School Chronicle

7.5

Nota Final

7.5/10

Prós

  • Boa alternativa para fãs de Dungeon Crawler
  • História é cheia de mistérios interessantes
  • Trilha sonora é fantástica

Contras

  • Partes de Visual Novel poderiam ser melhor
  • Puzzles não são bem explicados
  • Batalhas são bastante repetitivas