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Review Monster Hunter Rise (Switch) – Está aberta a temporada de caça

Monster Hunter Rise é o novo capítulo da popular franquia de ação e RPG da Capcom. Em Monster Hunter World (o antecessor de Rise) tínhamos uma ambientação que abraçava uma pegada mais ocidentalizada. Além disso, algumas mecânicas foram simplificadas para tornar o título mais atraente para um público mais amplo. Isso, somado ao fato do game não ter ficado recluso a uma única plataforma, atraiu ainda mais jogadores e é encarado como um dos motivos de seu sucesso.

 O novo título, lançado no dia 26 de março com exclusividade para o console híbrido da Nintendo (e que contará com uma versão para PC no ano que vem), mantém as melhorias vistas em World, mas volta a abraçar uma temática com foco na cultura oriental. 

Desenvolvimento: Capcom
Distribuição: Capcom
Jogadores: 1 (local) e 1-4 (online)
Gênero: Ação, RPG
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch
Duração: 16 horas (campanha)/102 horas (100%)

Beleza visual em um mundo quase aberto

O jogo possui um visual muito bonito.

Antes de qualquer coisa, acredito ser importante esclarecer alguns aspectos relacionados à proposta da franquia. O sucesso do Nintendo Switch trouxe uma gama de jogadores que enxergam, em Monster Hunter Rise, a possibilidade de conhecer a série. Alguns, no entanto, possuem uma percepção um pouco errada sobre ele e acreditam se tratar de um jogo de mundo aberto – ao estilo Zelda Breath of the Wild – em que temos que sair por aí caçando e capturando monstros dos mais diversos possíveis. Se você espera algo nessa pegada, talvez se decepcione um pouco.

A gameplay se resume na conclusão de missões de caça e coleta através de contratos estabelecidos em nosso vilarejo. Não há necessariamente um mundo aberto. Monster Hunter Rise conta, na verdade, com enormes arenas temáticas: ruínas, ilhas gélidas, planície arenosa, selva inundada e cavernas de lava. Somos enviados para esses locais a fim de cumprir objetivos dentro de um tempo determinado. Até existe a possibilidade de explorarmos esses territórios de forma livre, mas as arenas não são interconectadas. Se quisermos, por exemplo, sair da selva inundada para as ilhas gélidas, devemos voltar para Kamura (a aldeia onde se desenrola a história de Rise e que remonta a um vilarejo nos moldes do Japão feudal) e escolher o novo destino. O vilarejo, portanto, funciona como uma espécie de Hub central. É nele que interagimos com os NPCs, fechamos contratos de caça, missões secundárias, montamos salas para jogatinas online, compramos itens, armas, armaduras, treinamos e por aí vai.

Kamura é belíssima e remonta aos vilarejos do Japão feudal.

Monster Hunter Rise roda em 756p na Dock e 540p no modo portátil, apresentando estáveis 30 fps. Apesar da baixa resolução, Kamura é belíssima! Para ser justo, não só Kamura é bela, mas o jogo todo possui um visual impressionante. A qualidade técnica salta à vista logo na tela de apresentação, com uma linda animação introdutória in-game que apresenta igualmente a bela música tema – um primor que acompanha o jogo todo, diga-se de passagem. As melodias do vilarejo, das batalhas, e dos diversos ambientes ajudam na nossa imersão. São composições originais que nos passam a sensação de estarmos diante de fato de um Japão feudal.

O game é um dos mais bonitos já feitos para o Nintendo Switch, e a Capcom o desenvolveu na RE Engine e conseguiu, para todos os efeitos, um resultado maravilhoso. É claro que existem alguns problemas (como nosso personagem atravessando alguns NPCs, por exemplo), mas isso não estraga, em hipótese alguma, a nossa experiência. 

Defendendo Kamura

A história, como de praxe na série, serve apenas para explicar o funcionamento das diversas mecânicas presentes. Na verdade, trata-se de um grande tutorial. Com o título de caçador recém conquistado, somos apresentados às gêmeas Hinoa e Minoto. Elas nos acompanham até o ancião da aldeia, Fugen, que nos deixam a par de um mal iminente que ameaça Kamura, conhecido como Frenesi. Há cinquenta anos uma horda de monstros quase destruiu o vilarejo e agora essa calamidade paira novamente sobre ele. Nossa missão é evitar que a fúria dos monstros provocados pelo Frenesi destrua Kamura.

Monster Hunter Rise possui dois tipos de contratos: os de Aldeia (entregues por Hinoa) e os de Guilda (entregues por Minoto). É através dos contratos de aldeia que a história “principal” se desenrola. Com uma dificuldade bem amigável, encerramos a campanha principal – que não pode ser jogada de forma cooperativa online – com cerca de 15 horas. Mas, ainda temos muitas coisas novas para aprender e fazer. E é aí que entram os contratos de Guilda. Armaduras e armas mais poderosas, novas habilidades, itens e novos monstros só são desbloqueáveis por eles. O nosso Ranque de Caçador (RC) – que aumenta a dificuldade do jogo – só sobe concluindo tais missões. A Capcom prometeu futuras atualizações gratuitas que ampliam a quantidade de RC que podemos alcançar e, consequentemente, as horas de jogatina. Até o momento o máximo que conseguimos é o RC7. Digamos que concluir os contratos de Guilda é a forma correta de experimentar Monster Hunter Rise. São missões bem mais difíceis e onde o cooperativo online (e consequentemente a diversão) está liberado.

O componente online em Monster Hunter Rise, na verdade, é algo muito forte. Sair para caçar acompanhado de outros caçadores, conhecidos ou não, é sensacional. Montar uma partida (pública ou privada) ou entrar em uma, apesar de um pouco burocrático, funciona perfeitamente bem. As sessões são encontradas com facilidade e logo outros jogadores se juntam a você na jornada, ou vice-versa.

Em Monster Hunter Rise as caçadas contam com até quatro jogadores simultâneos. As partidas rodam com pouquíssimos lags ou travamentos, e os espólios ao final delas são divididos com os jogadores participantes. O meu maior problema no cooperativo online foi com a dificuldade de me comunicar com os demais membros da party. Como as batalhas exigem movimentos rápidos e precisos, não sobra muito tempo para “catarmos letras” digitando mensagens no chat do jogo ou enviando textos prontos.

Tanto os contratos de Aldeia quanto os de Guilda contam com missões opcionais – em que devemos cumprir certos objetivos, como coletar uma quantidade específica de ossos, montar num monstro etc e de Frenesi. Essa última funciona como uma espécie de “defesa de torre”, em que uma horda de monstros atacam os portões de Kamura no intuito de entrar e destruir o vilarejo. Aqui temos que montar uma verdadeira fortaleza como linha de defesa, dotadas de instalações de caça em plataformas com armas (automáticas ou não) e aliados (NPCs ou amigos) que impeçam a entrada dos inimigos na aldeia. Esse foi o tipo de missão que menos chamou minha atenção por tirar um pouco o controle das minhas mãos. O jogo se transforma, através desses contratos, em um gênero estratégia, em que posicionar bem seus aliados e seu arsenal são elementos chaves para se ter sucesso.

Amicães e Amigatos

Nas missões contamos com um Amicão e um Amigato.

Em nossa aventura somos acompanhados por um amigo canino (Amicão) e felino (Amigato), além de uma fofíssima coruja (Corumocho) que coleta alguns itens pelos cenários e marca os monstros alvos durante nossas missões. O Amicão e o Amigato nos auxiliam nas batalhas contra os monstros que caçamos. O legal é que o comportamento de ambos podem ser customizados, seja ofensiva ou defensivamente. A figura do Amigato já havia dado as caras antes em Monster Hunter. Convém mencionar, porém, que em partidas online, infelizmente, nosso Amigato não nos acompanha nas missões.

A novidade fica por conta do Amicão que, além de ajudar – como já dito – nas batalhas, permite que a gente consiga se movimentar com mais rapidez pelas arenas. Algo que nos jogos anteriores só podia ser feito a pé, tornando a caçada bem menos dinâmica. A entrada do Amicão também facilitou a coleta dos diversos itens e materiais pelos cenários. Inclusive a dissecação das carcaças de animais abatidos e a afiação de armas agora podem ser feitas montadas nele. 

Apesar de podermos levar apenas um Amicão e um Amigato em nossos contratos de missão, é permitido recrutar uma boa variedade desses ajudantes e distribuir para eles algumas tarefas. Dentro de Kamura há uma área específica (Praça dos Amigos) onde podemos gerenciá-los ou recrutá-los. Lá, gastando alguns pontos Kamura (que ganhamos ao final de nossas missões), podemos subir o nível dos nossos amigos animais no Dojo de treinamento, usá-los como negociadores para barganhar certas mercadorias ou enviá-los para missões aleatórias como Miaucenários para coletar materiais diversos pelas ilhas. O gerenciamento funciona como uma espécie de minigame e os espólios, das missões cumpridas por eles, nos ajudam na obtenção de materiais importantes para a confecção de itens como armadilhas e tranquilizantes.

Monte seu caçador

A gente já tem um anúncio do que vem pela frente ainda na tela de criação de personagem. Eu levei cerca de quarenta minutos só montando os meus, o que não impediu eles de ficarem bem “padrãozinho”. Inclusive meu personagem, Raziel, acabou ficando parecido comigo: feio. Sou péssimo nisso! Ainda sim, as opções de personalização para o nosso personagem, Amicão e Amigato, são bem variadas e instigam a criatividade dos jogadores na construção de seus avatares. 

Em Monster Hunter Rise não é necessariamente nosso personagem que evolui e sobe de nível, mas sim nossos equipamentos. Caçar os monstros e coletar materiais nas gigantescas áreas nos garante componentes que podem ser utilizados pelo ferreiro de Kamura, para confeccionar uma arma ou armadura mais potente baseada no material caçado. O sistema de progressão, nesse sentido, apesar de peculiar, é totalmente condizente com a proposta do jogo e depende do famoso grinding. Então, quanto mais caçamos, mais conseguimos melhorar nosso equipamento. Ou seja, é aprimorando nosso setup que, de fato, evoluímos.

Mecânicas e Cabinsetos

Podemos caçar montados no Amicão.

Os contratos nos enviam para locais remotos na caça dos mais diversos monstros em cenários exóticos e ricos em detalhes. A variedade de monstros, sejam grandes ou pequenos, é incrível. Toda informação sobre a vida nativa e monstros podem ser acessadas a qualquer momento pelo menu “Anotações do Caçador”. A arte com as descrições da fauna do jogo é linda e o conteúdo muito bem detalhado. O vídeo de introdução aos monstros, por sinal, é fantástico! Melhor e mais desafiador, do que matar um monstro, é capturá-lo vivo. Ao matá-los podemos dissecá-los e conseguir materiais para o aprimoramento de nosso equipamento. Porém, se optarmos por capturar os “monstrões” do jogo, utilizando armadilhas e tranquilizantes, a quantidade de materiais obtidos na caça é bem maior.

Ao sairmos em missão contamos com uma barra de vida, vigor e afiação de nossa arma. Os objetivos devem sempre ser concluídos em até cinquenta minutos. A esquerda das barras de vida e vigor fica um timer indicando o tempo decorrido na missão. No canto inferior direito da tela temos os itens de suporte que podemos utilizar em nossa caçada. Ao zerarmos nossa barra de vida, somos enviados novamente para o acampamento principal que iniciamos a missão. Se formos nocauteados três vezes durante a partida, a missão chega ao fim. Aliás, nunca se esqueça de passar na cantina do jogo e comer uma porção de Dango. A refeição melhora bastante os nossos atributos e ajudam demais nas batalhas.

O jogo conta com uma boa variedade de armas. Cada qual possui uma árvore de forja.

Os controles de Monster Hunter Rise são um pouco complexos e o gameplay muda de acordo com a arma escolhida. Tentei me adaptar ao Espadão, Espada Longa, Lança, Lançarma, mas, para a minha forma de experimentar o jogo, a arma que mais me satisfez nas caçadas foi o Transmachado. Temos ao todo quatorze opções de armas para escolher, e cada uma possui uma robusta árvore de forja que nos permite adquirir variações delas com poder de ataque, elementos e fios diferentes. Por falar em fio, devemos sempre ficar atentos à afiação de nossa arma durante as batalhas. Conforme vamos utilizando ela vai perdendo o fio, tornando necessário amolá-la para recuperar a sua precisão.

Outra novidade que altera as dinâmicas do gameplay são os Cabinsetos. Eles funcionam como uma espécie de corda cintilante que nos permite movimentarmos de forma mais livre pelo cenário (Cabinvestida) ou evitar uma queda bruta após um rugido de um monstro (Cabinqueda). Cada uma das armas possui um golpe especial, com efeitos diferentes, usado em conjunto com o Cabinseto: é a chamada Sedaférrea. Salvo tudo isso, com os Cabinsetos podemos – depois de atordoá-los – montar nos monstros por um curto período de tempo. Por padrão, temos sempre duas barras de Cabinsetos. Quando esgotada, a barra vai se regenerando para podermos usá-la novamente.

Um dos melhor títulos do Switch

Apesar de seguir a proposta de Monster Hunter World de tentar tornar a experiência em algo mais acessível para um público mais amplo, Monster Hunter Rise requer dedicação. Ele só “começa”, de fato, depois de terminarmos a campanha das missões da Aldeia, derrotando Magnamalo. Após mais de vinte horas de gameplay eu me pegava descobrindo algo novo. Mesmo com o tutorial gigante, em linhas gerais, o jogo é pouco intuitivo e pode assustar os novatos. Assim, para os jogadores mais casuais, a complexidade das mecânicas, o excesso de explicações a cada nova função e habilidade que pipocam na tela podem ser um problema. Mas, Monster Hunter Rise premia, como poucos, nosso empenho. Para todos os efeitos, o título é viciante e possui um primor técnico e visual, contando inclusive com um ótimo trabalho de localização para o nosso idioma. Enfim, Monster Hunter Rise figura, de longe, como um dos melhores títulos para o Nintendo Switch. Está aberta a temporada de caça!

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Monster Hunter Rise

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Visual belíssimo
  • Gameplay variado
  • Cooperativo online soberbo
  • Ótima localização
  • Amicão e Amigato

Contras

  • Ausência de um chat de voz
  • Lobby online burocrático
  • Mecânicas complexas para os iniciantes