É impossível começarmos a falar sobre essa obra sem citarmos uma das gigantes franquias do mundo dos games, a gigantesca licença da Nintendo: The Legend of Zelda.
O singelo e bonito jogo do desenvolvedor Max Mraz, Ocean’s Heart, já estava disponível há mais de um ano para PC, e desembarca finalmente no Switch numa versão sem grandes diferenças ou surpresas. Indo além de ser somente uma homenagem a A Link To The Past e outros títulos da era 2D de The Legend of Zelda, o indie presta uma homenagem à altura da IP da Nintendo, se sobressaindo um pouco nesse mar de jogos medíocres.
Desenvolvimento: Max Mraz
Edição: Nordcurrent
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG
Classificação: Livre
Português: Legendas e Interface
Plataformas: PC, Switch
Duração: 9 horas (campanha)/13 horas (100%)
Um Link em dois mundos?
Com o grande boom dessa nova fase do Universo Marvel no cinema, ouvimos muito falar sobre variantes, versões alternativas de personagens já conhecidos, que habitam mundos paralelos. Neste título, vemos Tília, a protagonista de Ocean’s Heart, que nada mais é que uma versão de Link de um universo paralelo. Basta um pequeno vislumbre de tela para entender de imediato as escolhas artísticas que aqui existem, para trazer à vida o feeling de Zelda 2D, como a carismática protagonista, a palheta de cores e o estilo gráfico em pixel art que lembra a “era zeldiana” do SNES e enviará muitos jogadores ao túnel das nostalgia.
Diferente de Link, a protagonista Tilia felizmente não é a “escolhida” e não tem a ver com uma amnésia inicial, pois em Ocean’s Heart acompanhamos a ingrata tarefa da mocinha de cabelos dourados de precisar viajar meio mundo, através de várias ilhas como em Wind Waker, para encontrar seu pai e seu melhor amigo, ambos desaparecidos depois de um ataque de uma tripulação pirata que acometeu sua aldeia.
Piratas esses que obviamente estão procurando por um artefato de poder indescritível que Tilia terá de combater, se utilizando de armas e habilidades mágicas conforme a tradição. E ela não apenas portará uma espada, mas também bumerangue, arco, mangual e várias bombas, além de habilidades simples para desbloquear e um sistema de criação prático que serve tanto para justificar parcialmente o griding e a venda de produtos criados para ganhar dinheiro.
Navegando além da tradição
O jogo conta com áreas secretas a descobrir, tarefas secundárias das mais genéricas às mais originais e inesperadas, baús, masmorras, batalhas contra chefões e diálogos interessantes com NPCs. Esses tais diálogos são leves, relaxantes e por vezes engraçados – geralmente não se levando muito a sério -, que vão revelando pouco a pouco sobre a personagem principal. Esses diálogos pitorescos são um dos pontos que diferenciam, de forma boa, Ocean Heart de outros jogos que homenageiam The Legend Zelda.
A primeira centena de minutos da jogatina podem não ser tão emocionantes, contudo, quanto mais o mundo do jogo se abre, mais o prazer de explorar, lutar e criar surge. Se as primeiras horas do título correrem tranquilamente, sem grandes surpresas, temos a impressão de ter um ótimo clone de Zelda à nossa frente. Quando o jogo nos dá liberdade e começamos a explorar as várias ilhas, conhecer diferentes monstros e preencher o diário de missões, Ocean’s Heart finalmente entra nas correntes marítimas certas e engrena bem. Graças aos variados quebra-cabeças e a possibilidade de ir e vir nos mapas, voltando em áreas já visitadas, somos capazes de revelar tesouros, passagens e áreas escondidas que, à primeira vista, passam despercebidas, dando uma imersão bem empolgante à obra.
O nível de dificuldade é um pouco hostil e pode parecer injusto no começo, mas com o aumento dos corações de saúde, a descoberta de novas armas e feitiços, a gameplay fica mais equilibrada, com picos particulares que encontraremos nas batalhas contra os chefes. Podemos encontrar em algumas passagens particularmente difíceis, e a boa notícia é que, ao morrer, retornamos ao início do mapa com o máximo de saúde e todos os objetos que tínhamos. Esse é um sistema que não é nada punitivo e que agradará aos jogadores mais casuais, com menos afinidade com os controles.
Águas familiares
As lutas em tempo real são frenéticas e cheias de ação. Nelas contamos com uma humilde, mas boa variedade de armas que às vezes divergem uma das outras nos dando jeitos diferentes de combate que são ocasionalmente dificultados pelos controles imprecisos em certos momentos.
Também é bom avisar que, no geral, não temos de original em termos de mecânicas, sistemas de combate e cenários, mas a beleza de Ocean’s Heart é justamente essa mistura de referências, cenários no estilo JRPG, diálogos bem-humorados, exploração e pixel art inspirados, que é um dos melhores tributos 2D às aventuras de Link que você pode encontrar no Switch hoje. O game precisa de cerca de onze horas muito prazerosas para ser finalizado, trazendo momentos incríveis que podem mergulhar muitos em mar de nostalgia.
The Legend of Zelda foi inegavelmente um verdadeiro marco na história dos jogos eletrônicos, influenciando toneladas de outros títulos até hoje. Muitos dizem que até os grandes clássicos da série souls feitos pelo Hidetaka Miyazaki tem o jogo da Nintendo em seu DNA.
É evidente que vemos para todos os lados obras com inspirações em Zelda. Sejam inspirações tiradas de jogos novos da franquia como Genshin Impact e Fenix Rising que bebem bastante de Breath of the Wild, ou games que vão buscar suas influências mais no passado como Oceanhorn, Darksiders e até mesmo o próprio Ocean’s Hearts. Esse último, mesmo sendo simples, consegue ser mais do que somente uma homenagem à era de 16-bits de Zelda, e tem uma luz própria.
Identidade própria
Já sabíamos o que esperar de Ocean’s Heart ao ver os trailers e materiais promocionais, e, tendo jogado agora no Switch, devo admitir que aqueles que esperam um bom jogo ação-aventura no estilo 16-bits, com bastante Zelda nos genes, não vão ficar decepcionados. Ao mesmo tempo, isso é o que faz com que Ocean’s Heart seja uma ótima mistura de homenagens e méritos próprios, prezando muito pela variedade de cenários e o tom leve e bem-humorado dos diálogos. O jogo independente obviamente atrairá os nostálgicos de A Link to the Past, e tem tudo para agradá-los – mas não somente eles.
Ocean’s Heart é uma excelente homenaem à era SNES de Zelda, mas tem brilho e carisma próprio, tanto em termos de jogabilidade quanto narrativa. E não podemos nos esquecer da carismática Tília, a quem acompanhamos por toda essa jornada, a qual não traz nada de novo, mas proporciona horas e horas de diversão.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong