Não consigo me lembrar da última vez que presenciei algo da cultura indiana na indústria dos videogames. Felizmente, o mundo dos indies costuma se arriscar o bastante para trazer algo diferente ou pouco praticado pela maior parte das empresas, e é por isso que gosto tanto de conhecer coisas novas feitas por produtores independentes. Raji é um produto que procura trazer um pouco da cultura e mitologia Hindu para os games, conseguindo em grande parte do tempo representar tudo isso com sucesso, através da mágica e aventuresca história de Raji: An Ancient Epic.
Desenvolvimento: Super.com
Distribuição: Super.com
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Ação, Aventura
Classificação: Livre
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch, PC, Xbox One e PS4
Duração: 5 horas (campanha)/6 horas (100%)
Resgate seu irmão e salve o mundo
Raji, uma garota que trabalha no circo e leva uma vida simples, precisa resgatar seu irmão Golu e as crianças do vilarejo, que foram sequestradas por Mahalabusara e seus demônios durante a noite de um festival chamado Raksha Bandhan. A história é contada por meio de cutscenes ilustradas com desenhos temáticos indianos e narração de Durga, a deusa da guerra.
Fora as cutscenes, somos introduzidos aos eventos do jogo em paredes com pinturas hinduístas ao longo dos cenários que passamos, acompanhadas pela mesma voz das cutscenes que narra momentos oportunos. Apesar de momentos charmosos visualmente, Raji possui uma atuação bastante amadora em sua protagonista, sem muita emoção que convença o jogador. Por outro lado, a narração é bem competente, deixando claro a diferença de qualidade – proposital, talvez? – entre as atuações dos deuses e da personagem principal.
Se eu pudesse resumir Raji: An Ancient Epic em uma sentença, seria dizendo que é basicamente um Prince of Persia em visão isométrica. Raji consegue utilizar acrobacias com a ajuda de seu bastão divino para golpear inimigos, além de utilizá-lo para lançar projéteis e soltar raios elementais nos monstros. Fora isso, é possível fazer uso do ambiente à sua volta para ter vantagem em combate, como o ato de subir nas paredes para pegar um impulso e desferir um ataque mais forte, de alcance maior, e um golpe giratório, que usa pilastras e objetos similares para fazer com que Raji gire em torno e ataque em seguida.
Essas acrobacias são usadas no combate e também para interagir com o cenário, pulando sobre precipícios, andando na parede, agarrando em locais nas paredes, vinhas e etc. Alguns momentos são até bem divertidos e exigem um pouco mais de precisão através de desafios leves de plataforma 3D, utilizando a profundidade do cenário ou outros elementos, como a criação de uma plataforma em cima da água por meio de uma flor de lótus mágica. A exploração também está presente, mas não é tão predominante como gostaria que fosse. Também, pudera, a única recompensa para os mais curiosos são pontos de experiência para inserir em upgrades nas armas encontradas.
Novas armas e lutas com chefes
Ao longo da jornada, Raji encontra novas armas que liberam alguns locais adicionais em seu menu de melhorias, lembrando bastante jogos da franquia God of War. Com aprimoramentos aplicados em seus armamentos, a protagonista consegue utilizar novos golpes e movimentos únicos, sendo possível alternar em tempo real entre todas as armas portadas pela garota. Cada tipo de inimigo, muitas vezes, exige uma abordagem com uma arma diferente, obrigando assim – de forma positiva – o jogador a experimentar todas as formas de se jogar presentes aqui.
Os combates com chefes são, de longe, a melhor parte. Neles, precisamos pensar um pouco mais em vez de esmagar botões. Nestes momentos é necessário identificar padrões, repelir ataques, rolar para desviar de golpes e atacar no momento certo. Raji brilha bastante nestes confrontos, enquanto deixa bastante a desejar no combate comum com monstros e inimigos que estão ali existindo apenas para atrasar seu progresso e irritar, muitas vezes por surgirem em um grupo relativamente grande e desbalanceado.
Um Prince of Persia isométrico e diferente
A aventura Hindu consegue contar uma boa história, mas deixa bastante a qualidade desvanecer por causa da jogabilidade repetitiva e que, muitas vezes, passa a sensação de não ter necessidade de existir. As lutas com chefes são excelentes e com certeza foram os momentos mais marcantes de toda a jornada em busca de Golu. Inimigos comuns são maçantes e chatos de enfrentar, aparentando um certo desbalanceamento pela quantidade que aparecem.
Já em termos de exploração, não temos nada tão admirável, apenas uma área mais escondida aqui e ali que concede pontos de upgrade extras para o jogador aprimorar suas armas mais rapidamente. É possível ver o cruzamento de inspirações entre God of War e Prince of Persia de maneira clara por aqui, porém, a parte principal ainda precisava ter sido melhor executada: a jogabilidade. Por fim, ainda vale a pena conferir Raji devido sua história e trilha sonora, que conseguem ambientar muito bem o jogador nesta aventura indiana.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami